Embira de sapo
Embira de sapo

[Cláudio Trasferetti]

Essa muda foi plantada em campo em outubro e enfrentou dias de calor extremo e o ataque de formigas que a depenaram. As condições do campo eram muito inóspitas quando comparadas aos cuidados que recebia no jardim de inverno onde foi criada. No fim do ano passado, seguindo evidências fornecidas por sua aparência, sua morte foi decretada, contrariando os conselhos de Caio Fernando Abreu, que diz que não se deve decretar a morte de um girassol.

Pouco mais de um mês após esse decreto, dias antes dessa simbólica quarta-feira de cinzas, a embira foi flagrada com novos brotos e esbanjando vitalidade. O decreto teve que ser imediatamente revogado. Não se trata de resiliência, essa palavra repetida a torto e a direito e que, em Física, significa a capacidade de um material para retornar ao normal depois de submetido a uma tensão. Espera-se que a embira não tenha voltado a seu “estado normal” após tanta tensão. Sua sobrevivência deve tê-la transformado numa embira que sabe que "a paz é passageira" e que altas temperaturas e formigas gananciosas podem liquidá-la.