No dia da consciência negra me debruço a ler o nosso poeta maior, nos sons desses violões. A sonoridade é perfeita, e se ouvem os violões em "velhos vórtices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas".

Quando os sons dos violões vão soluçando,

Quando os sons dos violões nas cordas gemem,

 

Seus versos expõem os  "oens", lamentos mornos, soluços murmurantes:

 

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,

Soluços ao luar, choros ao vento…

Tristes perfis, os mais vagos contornos,

Bocas murmurejantes de lamento.

 

O poeta negro é sofisticadíssimo. Compete com os melhores seus iguais poetas simbolistas franceses. Sabia francês, latim, grego, matemática. Combateu a escravidão – era filho de escravos. Sofreu preconceito racial quando quis ser promotor. Trabalhou na Central do Brasil.

Seus quatro filhos morreram de tuberculose, e ele também.  Ele é o poeta da angústia metafísica, das nuances.   E nada mais Brasil do que esses violões.

 

Noites de além, remotas, que eu recordo,

Noites da solidão, noites remotas

Que nos azuis da Fantasia bordo,

Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações a luz da lua,

Anseio dos momentos mais saudosos,

Quando lá choram na deserta rua

As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,

Quando os sons dos violões nas cordas gemem,

E vão dilacerando e deliciando,

Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,

Dedos Nervosos e ágeis que percorrem

Cordas e um mundo de dolências geram,

Gemidos, prantos, que no espaço morrem