( Washington Ramos )

 

                                              UMA INVENÇÃO GENIAL

     As primeiras moedas surgiram na Lídia (atual Turquia), no século VII antes de Cristo. As primeiras cédulas surgiram na China, no século VII depois de Cristo. Não se sabe exatamente quem foi o autor dessa invenção genial, o dinheiro, que facilitou muito o sistema de trocas de mercadorias e tem influído muito na vida humana.

     O que se sabe, com certeza, é que o dinheiro tem impactado fortemente as pessoas desde quando surgiu. Falam muito mal dele, chegam a aconselhar que se lavem as mãos após pegar em moedas e cédulas. Apelidaram-no de vil metal. Mas a verdade mesma é todos correm atrás dele ansiosamente, inclusive igrejas e instituições filantrópicas. São Paulo, o maior marqueteiro do Cristianismo, em Timóteo 1, versículo 6, diz que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.” Samuel Butler, escritor inglês, respondeu ao santo e cunhou: “A falta dele, também.”

     Outro aspecto interessante sobre o dinheiro é que ele não conhece fronteiras; passa, aos milhões, de um país a outro num piscar de olhos. É ainda capaz de fazer e desfazer amizades, amores, confrarias etc.; de condenar inocentes e inocentar ladrões; de aproximar ou afastar marido e mulher, irmãos, primos, tios, sobrinhos...

     Aqui em Teresina, nos anos 70, um grupo de professores amigos, com as mais nobres intenções, fundou um cursinho pré-vestibular. Diziam-se irmãos queridos e desinteressados, sem ganância. Afirmavam ainda que eram uma confraria, que o mais importante era efetivar uma educação libertadora etc. Pretendiam transformar o cursinho num colégio, o que realmente terminou acontecendo.

     Mas, em pouco tempo, o número de matrículas aumentou muito, o dinheiro que entrava era muito também. Logo começaram os desentendimentos. Esqueceram a fraternidade, cresceram os olhos para a grana e começaram a se chamar mutuamente de ladrão. Houve uma debandada, e poucos ficaram. Na última reunião antes da dissolução parcial do curso, um dos irmãos foi armado de faca. Felizmente não chegou a puxá-la. Mas é assim mesmo, o dinheiro faz e desfaz amizades.

     Há ainda um interessante aspecto do dinheiro, mas está ameaçado de desaparecer. É seu caráter estético. Tanto moedas como cédulas têm esse caráter. Os desenhos feitos em ambas são verdadeiras obras de arte. Aqui no Brasil, grandes escritores, cientistas e pintores já foram desenhados em cédulas, como Machado de Assis, Augusto Ruschi e Cândido Portinari.

     Porém, com o crescimento de pagamentos virtuais, usando-se cartão de crédito, pix e transferências entre contas bancárias, a tendência é a significativa diminuição do uso físico de moedas e cédulas. Até vendedores ambulantes já dispõem desses pagamentos virtuais. Trata-se de uma nova fase no uso do dinheiro, cujos desdobramentos ainda deixam muita gente desconfiada.  Outros não abrem mão de ver as cédulas, pegá-las e contá-las. Sentem-se gratificados em fazer isso.