Projeto Pixinguinha e acesso universal a dados culturais digitalizados
Por Flávio Bittencourt Em: 09/11/2009, às 13H27
Projeto Pixinguinha e acesso universal a dados culturais digitalizados
O antropólogo do IPHAN Dilermando de Souza fala sobre suas primeiras leituras e digitalização de acervos culturais de grande valor histórico e artístico.
Flávio Bittencourt
Caricatura de Pixinguinha
"(...) (A) obra (de Pixinguinha) para crianças é repleta de
temas instrumentais dançantes e canções
bem humoradas como Samba na areia, que descreve em
sua letra as peripécias de um pescador na praia
de Itacuruçá ao encontrar um grupo de músicos
habitantes do fundo do mar". (Portal Overmundo,
http://www.overmundo.com.br/banco/pizinguim-bexiguinha-pixinguinha)
"O Pixinguinha foi o projeto cultural conduzido pelo Governo Federal que mais teve penetração no Brasil, só perdendo para [o programa oficial radiofônico] A Voz do Brasil".
(Dilermando Alvarenga de Souza, antropólogo do IPHAN - DF, entrevistado por F. Bittencourt, em novembro de 2009)
9.11.2009 - O antropólogo, servidor público e pesquisador Dilermando Alvarenga de Souza (1) fala sobre suas primeiras leituras, dentre as quais a literatura de cordel ocupa lugar privilegiado; e (2) apresenta estudo sobre possibilidades de disponibilização ao público externo, pela Internet, do valioso acervo multimidiático do Projeto Pixinguinha da Funarte.
Formado em antropologia pela Universidade de Brasília, D. A. Souza é o organizador do Catálogo da Coleção Etnográfica IPHAN-UnB (Brasília : IPHAN, 1995), título que consta, por exemplo, na relação bibliográfica da página eletrônica Povos Indígenas no Brasil (http://pib.socioambiental.org/pt).
Literatura de cordel na infância
Entrevistado sobre suas primeiras leituras, D. A. Souza, 60 anos, técnico do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), concedeu entrevista a esta coluna Recontando estórias do domínio público sobre os títulos que leu na infância e dos quais se recorda, sendo a literatura de cordel parte integrante dos livrinhos que consumiu naquela época inicial de sua vida (década de 1950).
Em pesquisa recente (abril/2008), cujo importante relatório-resultado ainda permanece inédito, Projeto Pixinguinha da FUNARTE: possibilidades de otimização do acesso a dados informatizados, D. A. Souza defende o uso de uma espécie de "banco de dados aberto, com possibilidade de consulta pela Internet" [essa expressão explicativa, possivelmente inexata, não consta em seu texto: sou leigo em assuntos teleinfocomputacionais e aqui apenas procuro utilizar termos compreensíveis por um público que, como eu, é leigo, abstraídas as exceções de praxe]. A ferramenta cujo uso D. A. Souza defende é o repositório digital DSpace, recurso hodierno do mundo que os franceses denominam télématique (telemática).
Dilermando de Souza defende, eu seu trabalho, que o acervo impresso/manuscrito/iconográfico/fotográfico/cinematográfico/videográfico/musical do exitoso Projeto Pixinguinha merece o mesmo tratamento - com disponibilização ao público, pela Internet - que recebeu, com a respectiva digitalização, o não menos rico material do Centro Cultural Tom Jobim, do Rio (Instituto Antônio Carlos Jobim, http://www.jobim.org/acervo/acervodigital.jsp). Esse acervo, por assim dizer - e se a expressão não for inadequada - "funciona em DSpace", como se pode constatar no link indicado.
Pesquisas no Rio de Janeiro
Em suas visitas técnicas no Rio de Janeiro, realizadas no primeiro semestre de 2008, D. A. Souza esteve, entre outras instituições de Cultura, no Museu na Imagem e do Som daquela cidade, na Funarte (Rio) e no citado Centro Cultural (Instituto Antônio Carlos Jobim), que funciona no Jardim Botânico do Rio. Em Brasília, entrevistou uma autoridade em DSpace do Ibict/MCT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil), confirmando com um pesquisador especializado em bancos de dados e Internet a hipótese de que a Plataforma DSpace é eficaz para o depósito de acervos culturais digitalizados e sua democrática disponibilização ao mundo externo, via Internet. Adiante, ao final, está reproduzido o teor do verbete 'DSpace', da Wikipédia.
Em resumo, temos, aqui pautados, nada menos do que três assuntos: (1) os primeiros livros que D. A. Souza se recorda de ter lido; (2) alguns dados sobre o Projeto Pixinguinha da Funarte (shows dos artistas da música popular brasileira a preços populares, em todos os estados brasileiro e no Distrito Federal ["O Pixinguinha foi o projeto cultural conduzido pelo Governo Federal que mais teve penetração no Brasil, só perdendo para (o programa oficial radiofônico) A voz do Brasil", como acredita o antropólogo]); e, finalmente, (3) a defesa do uso da Plataforma DSpace na abertura de valiosíssimos acervos culturais a todos os públicos que, sedentos de cultura brasileira, aqui e alhures, buscam dados sobre a MPB, e também, de preferência, os próprios produtos culturais cujos resultados entraram para as mais felizes estatísticas da história do apoio governamental à cultura popular, no Brasil. (Flávio Bittencourt)
(http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=2817)
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UM)
Entrevista: Dilermando Alvarenga de Souza
Pergunta - Dilermando, para uma coluna sobre artes populares - artes tradicionais/populares, artes pop/industrializadas e artes "pop-folclóricas" -, deseja-se saber a respeito de suas primeiras leituras, na sua cidade natal [Hematita, vila rural do município de Antônio Dias, situada no Vale do Aço, região central do Estado de Minas Gerais, a 170 km de Belo Horizonte], uma vez que é comum você se referir à literatura de cordel como a primeira forma impressa de arte literária a que teve acesso. Recordo-me de você ter lembrado certa vez que não a conheceu sob a forma do cordel tradicional, mas de folhetos industrializados (um pouco maiores do que o cordel tradicional, com capas coloridas, todavia com os mesmos poemas que, no Nordeste, eram ilustrados com xilogravuras). Pode falar um pouco sobre isso?
Dilermando - No final da década de 1950, quando eu tinha entre 9 e 10 anos de idade, aconteceram os meus primeiro contatos com a literatura brasileira. Nessa época, eu cursava o terceiro ano primário, na Escola Pública de Hematita, onde nasci. Meu tio Divino, quando ia à cidade, comprava na banca de revistas, na cidade de Nova Era (também em Minas Gerais), uma publicação popular que atualmente é identificada como sendo literatura de cordel.
Recordo-me de alguns títulos:
1) Virgulino, o Rei do Cançaço;
2) O Pavão Misterioso;
3) Estórias de Pedro Malasartes,
4) Triste vida de Alzira;
5) Corisco e Dadá;
6) A mulata Minervina;
7) A luta de Ferrabrás com o diabo.
Todas essas estórias eram escritas no formato de versos rimados, com cerca de 60 páginas. Algumas apresentavam capas coloridas e ilustrações em preto e branco. Esse foi o meu primeiro contato com a literatura popular escrita, todavia morava com minha avó uma doméstica negra (afilhada dela, que ajudou a criar a minha mãe) que, à noite, defronte do fogão à lenha, reunia minhas cinco irmãs e eu para ouvirmos as estórias da Preta Tana.
Lembro-me das estórias:
O gato de botas;
O sapo na festa do céu;
A onça e o bode construindo uma casa [relato já abordado nesta coluna];
Os ratos e a flauta encantada;
A gata borralheira;
A bela adormecida;
Branca de neve e os sete anões;
Joãozinho e Maria;
Estórias (várias) de fadas e bruxas.
Nessa época, não existiam videogames (risos). A gente ouvia as estórias e ia dormir feliz.
O que me surpreende é como uma pessoa analfabeta tinha conhecimento de tantas estórias consagradas na literatura infantil mundial, algumas dos Irmãos Grimm. Ela ouviu essas estórias de quem? Ela não tinha acesso aos livros! [Em outra ocasião, D. A. Souza referiu-se à força que tinha a mídia radiofônica, na época. Já sendo o rádio muito ouvido - e ainda não existindo televisão no local - uma das possibilidades de transmissão dos contos tradicionais entre pessoas iletradas, além da pessoal e direta, era, como se vê, por meio de estórias contadas pelo rádio, por um narrador, interpretadas por atores (radionovelas) ou simultaneamente narradas e interpretadas, sendo que, há cinquenta anos, já havia, também, as estorias infantis em discos de vinil - os famosos disquinhos -, geralmente em discos compactos (*) (esse assunto será objeto de abordagem específica nesta coluna, futuramente).]
Isso comprova a força da memória da literatura oral.
O primeiro jornal a que tive acesso foi O Estado de Minas, que meu avô comprava todas as vezes que ia à cidade [morava o Sr. Edwiges Mariano de Souza, avô do antropólogo, na vila rural de Hematita, que fica a 36 km de Nova Era-MG]. Hematita, onde meu avô foi comerciante durante 50 anos, fica no município de Antônio Dias, mas ele abastecia sua loja, uma mercearia, em Nova Era. As compras de atacado, contudo, eram feitas em Belo Horizonte. Nesse jornal, tomei contato com as tiras do Mauricio de Souza.
Lembro-me que a negra Tana dava conselhos para mim e para minhas cinco irmãs. Por exemplo: quando nos casássemos, não deveríamos maltratar nossos filhos.
Morreu solteirona Sebastiana Francisca da Silva, a nossa babá Tana.
(Em 9.11.2009)
(*) - Eis algumas capas dos mencionados disquinhos infantis.
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DOIS)
Alguns dados sobre o Projeto Pixinguinha
"PROJETO PIXINGUINHA
Objetivo
O Projeto Pixinginha tem por objetivo realizar espetáculos de música popular nas capitais e principais cidades do país, promovendo o intercâmbio de manifestações musicais entre as diversas regiões do país, gratuitamente ou a preços populares.
Público
Geral
Diretrizes do Programa
Fomentar e difundir a Música Popular Brasileira
Forma de Seleção de Projetos
Edital. Os editais do Projeto Pixinguinha são lançados geralmente, no primeiro trimestre de cada ano. A seleção de projetos e o início de circulação das caravanas acontecem entre os meses de abril e agosto.
Área Responsável
Fundação Nacional de Arte - Funarte
Parcerias Existentes
Petrobras, Estados e Municípios
Correlação no PPA
Programa Engenho das Artes
Informações Adicionais
Fundação Nacional de Arte - Funarte
E-mails: [email protected] ou [email protected]
Telefones: (021) 2279-8004 / 2279-8003
Fax: (021) 2532-3431
Histórico do Programa e Realizações
Criado há quase três décadas, o Projeto Pixinguinha foi responsável pelo lançamento nacional de artistas que hoje são consagrados na MPB.
Após um período de interrupção, a Funarte retoma o Projeto Pixinguinha, que já realizou 32 caravanas em 62 cidades dos 26 estados e do Distrito Federal, fazendo circular 250 shows, de que participam 320 músicos, atendendo um público de cerca de 200 mil espectadores em todas as regiões do país.
O Projeto Pixinguinha foi responsável pelo lançamento nacional de artistas como Djavan, Zé Ramalho, Zeca Pagodinho, Adriana Calcanhoto, Zizi Possi entre outros"
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TRÊS)
O resumo do relatório da pesquisa empreendida em 2008 pelo antropólogo D. A. Souza, no qual o uso da plataforma Dspace é defendido para o depósito digital e disponibilização a quem navega na Internet, com interesse em música popular, em particular, e vida cultural, em geral, do Brasil.
RESUMO
Por meio do Projeto Pixinguinha da Funarte são promovidos, no Brasil, shows a preços populares desde 1977
==EM EDIÇÃO==
ABSTRACT
Since 1977 Funarte (1) has promoted the Project Pixinguinha (2) throughout Brazil (popular music shows === EM EDIÇÃO ===
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QUATRO)
É o seguinte o verbete "Dspace", da Wikipédia:
"O DSpace é um repositório digital desenvolvido pelas bibliotecas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que tem como objectivos recolher, preservar, gerir e disseminar o produto intelectual dos seus investigadores. Ele é o resultado de um esforço conjunto de investigação e desenvolvimento do MIT e da Hewlett-Packard (HP).
O DSpace é disponibilizado livremente às instituições de investigação, sob a forma de um produto de código aberto, que pode ser livremente adaptado e expandido funcionalmente, nos termos da BSD Open source license.
Possibilidades de uso
- Capturar e descrever documentos digitais de acordo com um workflow adaptável aos processos específicos de uma comunidade,
- Distribuir os documentos digitais da instituição na Web, possibilitando a pesquisa e obtenção de cópias aos utilizadores,
- Preservar os documentos digitais a longo prazo.
O DSpace aceita todas as formas de materiais digitais, incluindo arquivos de texto, imagem, vídeo e áudio, o que possibilita custodiar os mais variados tipos de conteúdos, tais como, livros, artigos, relatórios técnicos, working papers, artigos de conferências, e-teses, conjuntos de dados (estatísticos, geoespaciais, etc.), programas de computador, modelos e simulações visuais, etc.
Como forma de se adaptar às necessidades específicas de cada instituição e dos seus departamentos, as possibilidades de “customização” do DSpace incluem, não só, a definição de workflows “à medida”, mas também, a especificação de regras de utilização e formatos digitais suportados.
O DSpace permite a aplicação de variadas técnicas disaster recovery com o objectivo de garantir a segurança dos documentos digitais submetidos ao repositório. Algumas destas técnicas consistem na realização de cópias de segurança, espelhamento (mirroring) e atualização da infra-estrutura física (i.e., a migração de um suporte físico obsoleto para outro mais actual). Para além disso, a cada item é atribuído um identificador único de forma a assegurar a sua recuperação na ocorrência de uma migração de dados.
Funcionamento
O repositório do MIT implementa um mecanismo de aconselhamento aos fornecedores de conteúdos para que a documentação depositada seja fornecida nos formatos mais adequados à sua preservação a longo prazo. Os administradores de cada comunidade têm a possibilidade de limitar o acesso aos conteúdos, quer ao nível do item submetido, quer ao nível da coleção. Para a pesquisa e recuperação dos itens, o processo de submissão de documentos ao DSpace permite a sua descrição usando uma versão qualificada do vocabulário de metadados Dublin Core.
Desenvolvimento
O DSpace foi desenvolvido em linguagem Java e é suportado por um conjunto de ferramentas de código aberto (open source), tais como: PostgreSQL, Tomcat e o Lucene (motor de pesquisa)". (http://pt.wikipedia.org/wiki/DSpace)