Dr. Alberto era viúvo e aos 75 anos sentiu umas dores. Foi a um outro médico. O câncer era grave, delicado, disse-lhe o amigo, também médico. Alberto preparou tudo: sepultura, dividiu os bens entre os filhos e resolveu se dar um presente com o dinheiro que sobrou: um Rolex de ouro maciço. Até a pulseira era de ouro. Quando morresse, deveria ser enterrado com ele. Os filhos nada disseram, mas se entreolharam, ressabiados. Para não sentir dores, Alberto passou a aplicar-se doses mínimas de morfina. Com o agravamento do quadro, as doses foram aumentando, de modo que ele ficava desacordado. Mas não tirava o Rolex do braço. O tratamento prosseguiu por alguns meses: quimioterapia e outras violências. Com o tempo, o câncer foi regredindo e debelado. Alberto não morreu. Ficou o Rolex.