Cunha e Silva Filho

                                  Parece a história do gato e do rato, só que, ao contrário da fábula,  parece que não terá fim  feliz. Quem vai vencer  o adversário? Quem será vitorioso ? Obviamente, o mais esperto. Por enquanto,  lamentavelmente, o mais esperto   tem sido o ditador, Dr. Bashar al-Assad, o líder do Partido Baath.Para  falar a verdade, leitor,  mal se pode prever qual lado terá êxito, mas torço sem dúvida pela vitória  dos  rebeldes.
                                 Quem diria que um aluno tímido de medicina em Damasco tornar-se-ia um sanguinário ditador sobre cujos ombros recai culpa de tantas pessoas assassinadas na Síria? Aquele jovem tímido que, aos 27 anos, foi para Londres a fim de especializar-se em oftalmologia no Western Eye Hospital, na região de Paddington, era um dos filhos do ditador Hafez Assad que, manu militari, dominou a Síria até 2000., quando foi vítima de um ataque cardíaco.
                                Nunca se cogitou que Bashar se tornasse um político. A vaga deixada por Hafez Assad, conforme dados oficiais, era para ser preenchida pelo filho mais velho, Basil. Este, todavia, morreu de repente num acidente de carro em 1994. Naquele tempo, Bashar ainda se encontrava em Londres e não havia até então, nenhum espaço político para ele. Não obstante isso, não demorou a ser chamado para retornar à Síria, pois seria escolhido para assumir o cargo do pai e tornar-se líder da Síria. Ocorre que ele não estava ainda com a idade legal para assumir o governo (no caso, deveria legalmente ter 40 anos e só tinha 34) Porém, por um rápida mudança na Lei, o Parlamento o autorizou a ser eleito pelo Partido Baath, um partido dirigido por uma seita muçulmana de nome aulita, à qual pertencia sua família. Poder-se-ia acrescentar que esta seita responde por 12% de toda a população síria. Isso não é muito com relação ao todo da população.
                                O ponto de reversão na vida de Bashar se deu quando, tendo sido escolhido para substituir o pai, começou a se preparar estrategicamente na Academia Militar de Home, virou coronel e tornou-se o braço direito de seu pai. Isso tudo num passo de mágica. .Este foi o primeiro passo na sua preparação para o poder após o falecimento do pai. A formação militar inegavelmente provocou uma metamorfose no jovem médico, ou em outras palavras, despertou instintos latentes de perversidade e de sentimentos baixos que, no final, mudariam seu comportamento para uma nova visão da vida, com vaidade e avidez do poder e da ostentação, um alteração perfeita, espécie de nova versão do Dr. Jekyll e Sr. Hyde, uma personalidade dupla inteligentemente imaginada por Robert Louis Stevenson (1850-1894) no romance de título Dr. Jekyll e Sr. Hyde.
                               Um jornalista de nome Leandro Colon com justeza assinalou, numa esmerada reportagem publicada pela Folha de São Paulo, um importante jornal brasileiro (seção Mundo, 15 de setembro de 2013), que Bashar foi um presidente por acaso, porquanto nada indicava que seria um político e sobretudo um ditador odiado.
                                O leitor que acompanha meus artigos postados neste blog observou que, por diversas vezes, tenho dirigido duras críticas contra as ações vis praticadas pela ditadura na Síria, em especial se levarmos em conta o espaço de tempo no qual o país se envolveu numa guerra civil entre os opositores ou rebeldes e as forças militares de Bashar. Este patamar de atrocidades levando à morte centenas de inocentes, incluindo crianças, tem sido continuamente noticiado pela imprensa internacional e pelas TVs do mundo inteiro.
                                Várias tentativa se fizeram com o fito de pôr termo a esta guerra e carnificina desastrosas de que tem sido vítima a população civil síria. Organismos internacionais, como a ONU procuraram, pelo menos durante dois anos, conseguir acordos de paz entre as partes. No entanto, todos os esforços têm sido infrutíferos até agora.
                                Ultimamente, novas rodadas de negociações foram realizadas entre o governo sírio e a ONU visando ao mesmo fim do conflito. Estas providências diplomáticas são necessárias, mas não devem se prolongar indefinidamente, sobretudo porque nações como a França e os Estados Unidos, por exemplo, repudiaram veementemente um recente massacre comandado pelo governo sírio, com um saldo de mortes de inocentes ( no mínimo mil pessoas mortas), sobretudo crianças e com o emprego de armas químicas, um recurso considerado como crime de guerra.
Inspeções realizadas pela ONU concluíram que armas químicas foram mesmo utilizadas nos combates pelas forças militares do governo de Bashar al-Assad. O governo continua negando a utilização destas armas químicas e, neste sentido, infelizmente, o governo russo partilha da mesma opinião.
                                O fato é que os Estados Unidos e seus aliados se reuniram com diplomatas russos a fim de que pudessem divisar um plano com vistas a uma solução para o conflito.
Muitos analistas da imprensa ocidental não confiam na disposição do governo russo no que tange a um acordo com os Estados Unidos, França,Inglaterra e outros nações aliadas a fim de pôr fim a esta guerra. Um diplomata brasileiro, muito familiarizados com este tipo de conflito, mostrou-se reticente quanto ao término de uma guerra em curto prazo na Síria. Se nada for conseguido para a frente, é provável que o Conselho de Segurança da ONU, ou os Estados Unidos, por iniciativa própria, lancem mão do emprego da força militar na Síria.
                              Um contingente enorme de pessoas já sofreu além das suas possibilidade de enfrentar a carnificina, os bombardeios e o emprego covarde de armas químicas. Estão cansadas do sofrimento e esta é a razão pela qual um número considerável de sírios está deixando sua terra e se tornando refugiado em nações vizinhas, como a Turquia, o Líbano, a Jordânia. 
                              A Síria não é mais do que um palco de horror, de devastação, de gritos e desespero observados no país inteiro. Não é possível que os Estados Unidos, a França e outras nações não vislumbrem uma solução para resolver este estado fatídico de vida (Seria isso viver?) de um país em que grande arte da sociedade deixou de ser tratada como ser humano. O mundo, em sã consciência, poderia repensar profundamente nesta afirmação: as ditaduras deveriam ser apagadas do mundo no que concerne ao domínio político. A única saída que resta a qualquer país é alcançar a liberdade em todos os aspectos da vida.
                             Desta coluna aqui aguardarei com ansiedade o desenrolar dos fatos sobre a Síria e tenho esperança de que melhores caminhos surgirão, i.e., haverá uma saída para uma Síria livre das garras do ditador e uma nova onda de paz há de sobrepujar todas as cicatrizes profundas da pobre Síria.