Como e quando começou a coleção Leste?

A coleção começou em 1994. A princípio, a ideia não era publicar literatura russa somente, não em peso, como a gente faz hoje. A ideia era publicar autores do Leste europeu desconhecidos: literatura húngara, tcheca, que é pouquíssimo conhecida aqui. O projeto é do [poeta, tradutor e ensaísta] Nelson Ascher, que era o coordenador da coleção. Começou com esse perfil, tem uma meia dúzia de livros que a gente lançou, como [o tcheco] Karel Capek, entre outros. São poucos, mas são livros muito bons e teve gente que nessa época já virou meio fã da coleção. 

Só que, depois, já no final da década de 1990 a gente lançou um livro do poeta russo Aleksandr Púchkin, que era uma tradução do Nelson Ascher com o Boris Schnaiderman. Com o lançamento do Púchkin os russos começam a entrar na história. Na verdade, o Boris entra, e isso é muito importante, porque pouco depois a gente publicou um livro do escritor Anton Tchekhov, a primeira tradução só do Boris que a gente publicou por aqui.

A essa altura, o Boris praticamente não traduzia mais, então começamos a republicar e reeditar traduções antigas. Mas o mais importante foi estabelecer esse contato e essa parceria com o fundador dos estudos de tradução de russo no Brasil, o primeiro e maior tradutor na área. 

E literatura moderna?

A literatura moderna está no forno! Procuramos mais tradutores, ampliar o leque de autores também, porque antes tinha Tchekhov, Dostoiévski... Então começamos a publicar outro tipo de material do próprio Tchekhov, do Gógol e também, com tradução de Paulo Bezerra, o Nikolai Leskov – um escritor super importante, que o Walter Benjamin cita no ensaio O Narrador–, o Vladímir Maiakóvski e vamos publicar ainda neste ano uma coletânea de Leskov traduzida pelo Noé Silva, professor da USP.

Essa é uma preocupação nossa. Já que a coleção está indo tão bem, a gente tem condições de apostar um pouco, de lançar autores novos e menos conhecidos. É claro que está sendo um risco, porque a gente sabe que Dostoiévski e Tolstói sempre vão vender. Por outro lado, o sucesso da coleção dá essa confiança.

Quais as dificuldades na implantação da coleção?

A 34 faz um trabalho quase artesanal. O que diferencia a editora é realmente essa preocupação com a qualidade. Então é uma opção da editora lançar menos títulos com mais qualidade. A gente lança de 20 a 30 títulos por ano, o que não é pouco, mas lógico que não se pensando na Cia. das Letras ou na Cosac & Naif, que devem estar publicando cerca de 100 títulos por ano. Já há alguns anos, escolhemos essa opção e ficar nesse formato que sempre fizemos, que a gente gosta e sabe fazer bem, que é publicar tudo com muito cuidado. E o grande trabalho para nós é o texto de fato – o projeto gráfico, é tudo muito cuidadinho, mas o texto é o que toma mais tempo, é o processo mais meticuloso. No caso da coleção, por ser uma língua mais distante, acho que a tradução é de fato a maior dificuldade. Também porque não é uma língua para a qual se tenha milhões de tradutores, então temos de escolher com cuidado cada projeto.

Como é o sucesso da coleção em termos de vendagem?

No começo, com outros autores do Leste europeu, até era uma coleção que tinha seus fãs, mas em termos comerciais não era nada demais. O boom comercial foi de fato com o Dostoiévski, com Crime e Castigo. Notas do Subsolo já era um livro que vendia bem, mas ganhou dimensão exepcional com Crime e castigo e continuou com Os Demônios, Irmãos Karamázovi etc. Nosso best-seller até hoje deve ser Divina Comédia, do Dante, mas os do Dostoiévski estão sem dúvida entre os que mais vendem da editora. A tiragem média aqui é de 3 mil exemplares, mas no caso do Dostoiévski aconteceu de a gente fazer tiragem de 5 mil porque sabia que ia vender. No caso dos Karamázovi fizemos tiragem de 10 mil que vendeu em um mês e depois continuou fazendo mais e mais."

(http://gazetarussa.com.br/articles/2011/11/02/dostoievski_e_outros_russos_em_portugues_12742.html)