Imagem: internet
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[Chagas Botelho] 

O homem que usa sandálias crocs é um homem destemido. E, quando as usa com meias, é mais destemido ainda. De tão corajoso, lembra um cowboy do velho oeste.

Um homem de crocs é ousado. Foge das trivialidades do mundo. Do lugar comum. É maduro suficiente para saber o que quer na vida. É um tremendo quebrador de paradigmas.

Com crocs nos pés, seus movimentos não são de rotação, pelo contrário, são de translação. Giram em torno de um planisfério celeste.

O homem que calça sandálias crocs tem um coração de passarinho, pois é totalmente livre. Nunca pulsa como o coração de um autômato.

Esse notável caminhante, com os crocs a lhes afagar os pés, não anda, e sim, flutua. Não há barreiras que lhe impeça de flanar por aí com suavidade.

Carrega uma atmosfera benevolente. Possui contentamento febril. Tampouco se aborrece. Quem lhe ver pelas ruas, afirma sem medo, e talvez com certa inveja: “ali está um homem feliz”.

O homem que usa crocs, sobretudo com meias, tem o caminho iluminado pelas tochas dos arcanjos. E valoriza todos os detalhes da caminhada.

Amanhã ou depois ele estará nos corredores, nos elevadores, nas filas e será sempre admirado pelo seu calçado despojado.

“Mamãe, olha ali, que amor de solado!”. E a mamãe olha também encantada. O homem do cross é atração por onde passa.

O vizinho da direita comprou. O vizinho da esquerda comprou. Todos ficaram motivados a comprar crocs, simplesmente por causa do homem dos crocs. Eu também preciso comprar um. É praxe. É costume.

O homem que usa crocs, ainda mais com meias, equaciona na vida da gente, muitas vezes transeuntes amargos, uma espécie de satisfação indomável. Ostenta uma alegria que grita e que é somente análoga a cócegas nos pés.

Viva o despudor desse homem que imprime em suas passadas um valor único.