Quando se fala em emergência econômica ou social está se conceituando uma situação onde pessoas ou instituições passam a disputar posições sociais e de riqueza de uma escala superior à em que estavam colocadas.
 Muito mais difícil do que galgar uma emergência econômica ou social é conciliá-la com a emergência cultural. Na verdade, a primeira é de possível obtenção dentro de um espaço de tempo razoavelmente curto; a outra, não, demanda anos, senão séculos, até se tornar palpável, indiscutível. Isso porque ainda não inventaram um método capaz de transferir, concomitante e, eficientemente, desenvolvimento cultural junto com progresso econômico.
 Prova disso são os exemplos de pessoas que, graças a eventos ou a oportunidades muito bem aproveitadas, partindo, por vezes, de um estado de pobreza inquestionável, tornaram-se emergentes, economicamente, ou passaram a integrar altas classes sociais, sem que tivessem o mesmo êxito no tocante ao aspecto cultural.
 Algumas nações também souberam valer-se de fortuitas ou, mesmo, acidentais chances e ascenderam à condição de países ricos ou em vias de sê-lo, apenas economicamente.
 O Brasil, que já poderia ter deixado de ser um eterno emergente para constituir-se, de fato, numa realidade, num astro, em vista de suas múltiplas riquezas potenciais, havidas ao longo de nossa história, não tem conseguido sair do lugar-comum, da mesmice que nos torna, desde muito, o tal país do futuro. Especialmente, nós, mais que muitos outros estados, vivemos essa dualidade, essa dicotomia, salto econômico versus progresso cultural.
 É sabido que algumas de nossas leis, como a própria Constituição, além de várias outras normas regulamentares, encerram idéias vanguardistas ou de grande modernidade e alcance cultural; talvez por isso destoem ou não reflitam a cultura que a maioria dos brasileiros assimila. Nosso dia-a-dia comprova o grande hiato que existe entre o que está escrito e o que se pratica.
 É, igualmente, inegável, pois do conhecimento de todos, que temos um moderníssimo sistema bancário, códigos disciplinares, ditadores de comportamentos e mantenedores de direitos, eficientes e funcionais; uma literatura pujante, uma imprensa vigilante. Todavia, somos um povo que, não raro, age e reage como maria-vai-com-as-outras, no que se refere a atitudes individuais. Não é incomum que o modus operandi de um crime ou de um comportamento social espúrio, proposto ou executado do outro lado do mundo ou no sul do país, seja copiado, ipsis litteris e, quase simultaneamente, milhares de quilômetros dali. Oportuno frisar-se que possuímos veículos de comunicação, dentre os mais competentes, como a televisão e o jornal, tão bons quanto os melhores que existem.
 Infelizmente, graças à nossa frágil educação, falta-nos discernimento, inteligência ou cultura suficiente para segregarmos o que é bom ou viável do que é ruim ou prescindível.
 Daí, nossas obras de ficção, principalmente, as novelas, pecarem quando, abordando situações ou temas extremamente sutis, extrapolam o limite do fictício e transformam o irreal em realidade. A família, a tradicional ou comum, tem sido um dos alvos preferidos por autores nacionais para expor nossa fragilidade cultural. Há incontáveis casos mostrados na televisão brasileira, em canais de grande audiência, em que ela é tomada como modelo de sociedade falida. Certos folhetins fazem de sua destruição o escopo, o objetivo principal de seus enredos.
 Percebe-se, já, na “versão fictícia” de alguns noveleiros, que a única família que consegue perdurar é a formada, não por casais, mas por pares, indivíduos do mesmo sexo, como se homem e mulher passassem a ser seres rivais, incompatíveis, inimigos figadais.
                                            Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal e escritor piauiense