O brasileiro é frouxo: amarela diante de facínoras
Por Cunha e Silva Filho Em: 18/06/2021, às 14H11
O BRASILERO É FROUXO: AMARELA DIANTE DE FASCÍNORAS
CUNHA E SILVA FILHO
(Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia - ABRAfil)
Causa-me espécie, infelizmente, constatar que nem uma tropa da Polícia Militar e contingente da Polícia Civil, em dez dia, não tenham obtido sucesso na caçada a um criminoso crudelíssimo, um tal de Lázaro, um serial killer, cabra da peste, considerado por psicólogos e psiquiatras como "dangerosíssimo" ( empregando este termo à maneira de um empréstimo de um adjetivo tomado da língua inglesa e habilidosamente aportuguesado, além disso, com o concurso da inventiva forma de o colocar no grau superlativo sintético em vernáculo: “ a dificílima e 'dangerosíssima' viagem. " Esse estrangeirismo foi utilizado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)) no lapidar poema “O homem : as viagens”, publicado, pela primeira vez, se não me engano, no Correio da Manhã, Rio de Janeiro, em novembro de 1969 .
Veja só: logo Lázaro, um personagem do Novo Testamento, a quem Jesus Cristo, o Messias, fez ressuscitar para espanto geral dos que assistiam a mais um grande milagre do Filho de Maria. Pois é esse degenerado xará que está perturbando numerosas famílias do interior do Brasil, agora nas matas de Goiás, fazendo o diabo em tudo o que encontra à sua frente e aterrorizando as populações indefesas,
Veja: um só homem que, pelo visto, não é alto nem musculoso. Talvez nem saiba praticar alguma luta marcial, um tipo reles - que isso seja dito e repetido -, que tem olhos de fera bruta e maldita, talvez de um dos apavorantes cães dos Baskervilles, ou senão, ainda pior, em perversidades. Já nas costas carrega alguns crimes abomináveis, havendo, por último, assassinado uma família inteira e indefesa.
O tal Lázaro tem que ser capturado. Se estivéssemos em terras do Tio Sam, haveria a captura e de imediato o “shooting dead without mercy,” sem as comezinhas prisões fajutas nem brechas da lei, conforme acontece, infelizmente, ate hoje em terras bruzudanguenses.
Entretanto, há um fato digno de nota a mobilização de 400 (!) homens -, sem se falar nos apoios logísticos ( helicópteros, cães farejadores, muito armamento e munições, as câmeras da imprensa televisiva acompanhando os passos da caçada ao Satanás com seus muitíssimos sinônimos registrados no rico verbete relativo a este vocábulo no nosso precioso Aurélio.
Esse arsenal bélico, essa missão heroica e apoteótica, tendo em vista a captura do celerado, de um único homem para um quase exército de homens fardados e bem armados, até aos dentes, homens fortes, sendo alguns de boa estatura, constituem, assim, mais uma imagem justificadamente demonizada e espetacularizada na caçada a esse bandido de altíssima periculosidade, que anda amedrontando e amarelando todos, inclusive homens, em uníssono, numa frouxidão de cordeirinhos diante da “besta fera” insaciável para cometer novos e horripilantes crimes contra os fracos.
Poder-se-ia acrescentar, de lambujem, homens frouxos acossados e espavoridos pelo medo e terror implantados por um homenzinho só, um malvadeza, capeta em figura de gente.
Segundo uma testemunha completamente tomada pelo medo e pavor do cabra mefistofélico, parece ser esse tal de Lázaro de outro mundo, quiçá proveniente da Hades e da terra dos vampiros de Bram Stoker (1847-1912), a Transilvânia.
Homenzinho feio, maltratado, com um bigode ralo e exibindo cambitos e corpo meio esquálido, mas de fisionomia carrancuda, sem estampa alguma, mais parecido com os desgraçados e famélicos seguidores de Antônio Conselheiro dos tempos dos revoltosos na Campanha de Canudos, competentemente narrados, descritos e analisados fabulosamente na obra-prima da literatura brasileira, que é Os sertões (1902), de Euclides da Cunha (1866-1909).
No entanto, eu, que lido com literatura, sobretudo essa tragédia de mortes em série perpetradas pelo tal do Lázaro me leva a algumas associações indiretas, é claro, me valendo, portanto, de uma digressão passeando pela obra literária e auscultando, por exemplo, livros como "Grande Sertão: Veredas" (1956), esta outra obra-prima de Guimarães Rosa (1908-1967), ou alguns livros de José Lins do Rego (1901-1957), ou de Raquel de Queirós (1910- ), ou de outros autores tratando do tema do cangaço, precipuamente, mutatis mutandi, de Lampião, rei do cangaço.
Me refiro, em particular, a alguns personagens tidos com valentões em Guimarães Rosa que, para resumo de conversa, iria localizar num conto magistral da obra "Sagarana" (1946), precisamente no conto “Corpo fechado,” que narra as peripécias de um suposto valentão, Manuel Fulô, que, na enredo, vai enfrentar o valentão Targino.
Ora, os desencontros de valentia de mistura com fanfarronice de Manuel Fulô é que dão o tom entre o trágico-quixotesco e o burlesco no que concerne ao “challenger” representado por um dos supostos últimos valentões de uma galeria de membros da família dos “abastados” “Peixotos.” Entre os dois e como resultado, temos um bom exemplo de narrativa, na qual a vontade de heroísmo e a bufonaria são tristemente compensadas pela ilusão ótica desse bem arquitetado personagem chamado Manuel Fulô.
Os desdobramentos da caçada do diabólico tal Lázaro estão à nossa frente e só espero que o resultado não imite a obra de arte literária. Que vença a caçada ao Demo.
NOTA: OBSERVANDO MAIS DADOS NA REPORTAGEM DO JORNALISTA CABRINI, TV RECORD, HOJE À NOITE, SOBRE O DEMONÍACO LÁZARO, VEJO QUE ELE, AGORA, ESTÁ MAIS CORPULENTO , PORÉM NÃO EXIBE, NA VERDADE, NENHUM TAMANHO DE UM HOMENZARRÃO.