Recentemente, nesta coluna apresentei uma tradução minha bilíngue de Paul Verlaine, fornecendo, além disso, algumas indicações biobibliográficas e temáticas desse grande poeta francês. Adiante, segue  a tradução que ousei preparar-lhe, caro leitor amante da poesia de todos os tempos, de outro poema do mesmo autor.

                                  Nesta peça, um pequeno poema de apenas doze versos, testemunhamos um exemplo da elevada carga de subjetividade repartida entre dois seres para quem o sentimento amoroso não se sustém apenas com a sensualidade da carne, mas também, servindo-se dos elementos da natureza, no espaço físico da terra, combina-os sobretudo com a natureza do Universo, apelando para os elementos que se situam nas alturas (o sol, o ar, o azul do céu,a noite e as estrelas).       

                                Esses elementos concretos, animizando-se, são elos que, eufóricos, contribuem para plasmar o clima geral de harmonia entre os amantes na Terra, concorrendo para que o encontro do amor seja completo na sua beleza física e na sua sensualidade velada, um ato, enfim, de harmonia , de alegrias e de comunhão com o Cosmos.


Par en clair jour d’été

Donc, ce sera par um clair jour d’été:
Le grand soleil, cúmplice de ma joie,
Fera, parmi le satin et la soie,
Plus belle encore, votre chère beauté.

Le ciel tout bleu, comme une haute tente,
Frissonnera somptueux à longs plis
Sur nos deux fronts hereux qu’auront pâlis
L’émotion du bonheur et l’asttente,

Et quando le soir viendra, l’air sera doux
Qui se jouera, caressant dans vos voiles,
Et les regards paisibles des étoiles
Bienveillamment souriront aux époux.

Num claro dia de verão

Com efeito, será num claro dia de verão:
O grande sol, cúmplice de minha alegria
Tornará, entre o cetim e a seda,
Ainda mais bela vossa inigualável beleza.

Tal como uma elevada tenda, o céu de um só azul,
Estremecerá, suntuoso, em longas pregas
Sobre nossas duas frontes que, felizes,
Pálidas se entremostrarão com a
Emoção da espera e da felicidade,

Ao cair da noite, doce será o ar
Que, acariciando vossos véus, se contentará
E os olhares calmos das estrelas,
Num largo sorriso aos amantes, se alegrarão.