Noturno de Oeiras e Edson Guedes de Morais

Elmar Carvalho

Quando retornava de consulta médica, hoje, dia 13, por volta das onze e meia, encontrei sobre a mesa da sala um pacote e o Jornal da ANE, número 73, ano XI, referente a setembro/2016.

A simultaneidade da entrega dos Correios não passou de mera coincidência (se é que existe coincidência neste mundo de meu Deus), posto que o primeiro foi postado em Jaboatão dos Guararapes - PE, onde reside o remetente, e o segundo foi enviado pela Associação Nacional dos Escritores, sediada em Brasília – DF.

O pacote tinha o seguinte conteúdo: 13 pequenos cartões, cada um contendo diferentes versos de meu “Noturno de Oeiras”, de sorte que neles estava esse texto na íntegra, quando corretamente dispostos; 2 cartões maiores, nos quais foram impressos os meus poemas “Auto-Apresentação” e “Noturno em dor maior”, e vários cartões com pequenos e primorosos textos em prosa da autoria de Edson Guedes de Morais, verdadeiras obras-primas minimalistas. Ele é considerado pela crítica como um grande contista e notável poeta brasileiro.

Todo esse material foi impresso com esmerada arte gráfica, em policromia e em papel de alta qualidade, com lindíssimas ilustrações e vinhetas.

O Jornal da ANE trazia o texto “Edson Guedes de Morais: arte literária e arte gráfica”, da lavra do ilustre escritor cearense Sânzio de Azevedo.

O poema e as ilustrações podem ser vistos acima, na sequência correta, e o texto referido, que endosso e subscreveria segue logo abaixo.

 

Edson Guedes de Morais: arte literária e arte gráfica

 Sânzio de Azevedo

 Leio no livro Do que é feito o poeta (2016), de Anderson Braga Horta, o ensaio “Um mago da poesia e da boa vontade”, sobre Edson Guedes de Morais. Diz o poeta e ensaísta que, além de contista e poeta, o autor focalizado, também artista plástico, exibe ainda “o gosto de editar companheiros de ofício”.

Lembro que pus o nome de Edson Guedes de Morais entre as dedicatórias impressas de meu pequeno livro de haicais Lanternas cor de aurora (2006). O que é muito pouco, e que faz com que me sinta desconfortavelmente ingrato. Por sinal, desse meu livro ele tirou uma pequena edição de meia dúzia de exemplares, em belo colorido.

Perdi a contas dos livros, calendários e postais que EGM me tem enviado. É longa a lista dos poetas que ele tem resgatado, como Raimundo Correia, Olegário Mariano, Augusto dos Anjos, Hermes Fontes e nomes para muitos desconhecidos, como Narcisa Amália e Paula Brito.

Entre poetas mais recentes e já falecidos, lembro Waldemar Lopes, Alcides Werk, Francisco Carvalho, Lêdo Ivo e Homero Homem, que vi muitas vezes no Rio de Janeiro.

Outro que já se foi, Henriques do Cerro Azul, era meu amigo nos tempos de nossa adolescência em Fortaleza...

Quanto aos contemporâneos, cito Anderson Braga Horta, Napoleão Valadares, Dimas Macedo, Ruy Espinheira Filho, dentre muitos outros.

Já me presenteou com cartões e opúsculos de Otacílio de Azevedo, meu Pai, e meus. Às vezes vêm numas belas caixas de madeira, o que mais de uma vez me fez pensar que EGM é um milionário excêntrico...

Em forma de pequeno livro, tem editado vários contos de sua autoria, como Suellen e Amor de Elvira, ambos de enredo trágico e com belas ilustrações.

Nasceu ele na Paraíba e residiu em Brasília, mas há muito está em Pernambuco, precisamente em Jaboatão dos Guararapes. Seu livro Poemas de Dispersão teve uma edição no Rio de Janeiro, em 1956, outra em Jaboatão no ano de 2006 e uma terceira, também pernambucana, em 2011.

João Carlos Taveira, escritor de Brasília, fez o elogio do artista e, entre outras coisas, disse: “Para mim, seu mérito maior é fazer o papel que as escolas públicas, ou mesmo as particulares, há muito abdicaram de realizar.”

Volto aos Poemas de Dispersão, ricos de belos versos, e transcrevo “Segundos”:

Esta alegria

fora de tempo

que vem agora,

de onde é que vem?

Será pedaço de uma alegria

sentida outrora,

depois perdida,

que vem agora?

Poderia transcrever “Crepúsculo”, “Tristeza”, “Final”, “Vernissage no Bar do Joaquim” e outros mas, para não mutilar nenhum texto, contento-me com a reprodução de “Determinação”:

Nada acontecerá

mas tudo irá mudando.

Não haverá, eu sei,

momentos decisivos

ou emoções maiores

mas, quando olhar para trás,

não reconhecerei

tão antigas imagens,

nem mesmo o rosto amado.

Fatal, irrevogável

a fumaça que envolve

os momentos vividos.

Sei que não me redimo da minha falta com relação a esse benemérito da literatura e da arte. Mas me sinto um pouco mais leve depois de fazer o elogio de Edson Guedes de Morais, que Anderson Braga Horta chamou com justiça “Um mago da poesia e da boa vontade”.