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Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo.
J. Petit Senn
- Mãe, eu quero o chocolate! – diz o menino.
- Querido, hoje não – responde a mãe paciente.
- Mas eu quero! – retruca o filho, já ameaçando chorar.
- Eu já disse que não! – volta a repetir a mãe.
- MAS EU QUEEEROO! – grita o menino, enquanto agarra o chocolate e se joga no chão do supermercado aos berros.
Esse pequeno diálogo pode ter dois finais possíveis. O primeiro é a mãe, vencida pelo constrangimento, ceder, permitindo que o filho faça a sua vontade e leve o chocolate. O segundo é a mãe valer-se do momento para ensinar que querer nem sempre é poder, principalmente quando se trata dos desejos impulsivos de uma criança.
Gerir os pitis dos filhos é tarefa, não só de tempo integral, mas também de tempo indeterminado. Se não se souber lidar com eles pode-se começar com uma criança voluntariosa e mimada e terminar com um adolescente que se sentirá à vontade para se opor primeiro aos pais, depois aos professores, e por fim, à sociedade. Portanto, estabelecer limites claros do que é possível e impossível conquistar é uma questão crucial para pais que querem se sentir minimamente tranquilos sobre a educação que deram aos seus filhos.
Cedo a vida ensina que existem coisas que podem ser ganhas e outras que devem ser conquistadas. Do mesmo modo, logo se aprende que em todo o ganho existe uma perda. Afinal, saber administrar as frustrações também faz parte do crescimento. Quando pais, por culpa ou cansaço, cedem de forma indiscriminada aos desejos de seus filhos, estão impedindo que eles aprendam essas lições básicas. Assim, substituir, quase compulsivamente, o difícil e sofrido “não” pelo fácil e simples “sim” não é o melhor caminho para ajudar crianças e adolescentes a amadurecer.
Educar é uma arte, uma arte difícil, para qual não existem manual ou regras pré-estabelecidas. Ao contrário. Quando se decide ser pai ou mãe não se recebe nenhum treinamento básico de como lidar com todos esses problemas, é tudo uma questão de tentativa e erro. No entanto, acredito que existam algumas qualidades essenciais que podem ser desenvolvidas com o objetivo de socorrer os pais nessa tarefa tão complexa que é educar.
Serenidade. Com certeza a mais difícil das virtudes. Contudo, manter a calma em momentos de extremo estresse é, sem dúvida nenhuma, uma “arma” extremamente poderosa e eficaz quando se está enfrentando dificuldades com os filhos. Nessas ocasiões, falar e agir com tranquilidade pode resolver a situação mais complicada.
Persistência. Se for preciso repetir o “não” duzentas vezes em um mesmo dia, os pais não devem ter receio, medo ou culpa de fazê-lo. É preciso, todavia, ter-se a devida clareza de que se está agindo da forma correta. Caso haja qualquer dúvida, o melhor é um recuo estratégico para reavaliar os motivos da recusa. Ceder também pode ser outra excelente lição a ser apreendida por pais e filhos. Não há vergonha alguma em se voltar atrás. Ao contrário.
Firmeza. Ser firme não é ser insensível. Ser firme não é ser carrasco. Ser firme é ser coerente com aquilo que se acredita e que se pretende ensinar. Não há nada pior do que se deixar manipular só porque se está sentindo culpa. A culpa é um péssimo conselheiro e um terrível educador.
De qualquer maneira, apesar de todas as sugestões que se possa ouvir de especialistas, amigos e familiares, a experiência de educar é única e intransferível. Persistência, serenidade e firmeza são apenas alguns dos atributos necessários para os pais que querem ter um mínimo de sucesso nessa empreitada. Além disso, é preciso muito amor e dedicação para que os limites sejam apresentados e aprendidos da forma mais tranquila e educativa possível. Segundo o escritor, político e professor Coelho Neto (1864-1934), “É na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais”. Portanto, que as virtudes dos pais sejam reveladas na maneira como seus filhos irão gerir suas vidas e que seja sempre pelo respeito devido ao próximo, reconhecendo que a sua liberdade vai até onde começa a liberdade do outro.