Lançamento: Cartas a A. Tito Filho

 

O livro Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves – Cartas a A. Tito Filho, editora Zodíaco, 2010, organizado pelo jornalista Kenard Kruel, que também faz a apresentação da obra, será lançado em fevereiro próximo, pela Academia de Letras do Médio Parnaíba, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, Associação Piauiense de Imprensa e Sindicato dos Escritores no Estado do Piauí, em Amarante, às 10 horas do dia 6 (domingo), na Câmara Municipal, com recepção do prefeito Luiz Neto e apresentação do conselheiro e acadêmico Afrânio Nunes, e em Teresina, às 19 horas do dia 8 (terça-feira), no auditório do CREA-PI, com recepção do presidente José Borges de Sousa Araújo e apresentação de Kenard Kruel.
O livro Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves - Cartas para A. Tito Filho tem três divisões: Inicialmente, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves traça o perfil de sete membros da Academia Piauiense de Letras: Honório Portela Parentes, Gonçalo de Castro Cavalcanti, Simplício de Sousa Mendes, Antônio Chaves, Artur Passos, Matias Olímpio de Melo e Pedro de Alcântara de Sousa Brito. A lembrança dos perfis foi por conta do centenário de nascimento dos referidos acadêmicos.
Depois, em mais uma prova de amor à sua terra natal, destaca-lhe os poetas, dando, sobretudo, o testemunho da inteligência das mãos do Da Costa e Silva que, além de ser o grande poeta de seu tempo (e dos tempos atuais), ainda desenhava, pintava e fazia esculturas com engenho e arte. Com conhecimento de causa, acompanha o desenvolvimento material do torrão natal, que conheceu tempo de glória e hoje vive quase que completamente do passado.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves analisa pacientemente, em suas cartas, os informativos da Academia Piauiense de Letras, um por um, página por página. Comenta os livros recebidos, de acadêmicos ou de escritores, que inseridos, pelo professor A. Tito Filho, em seu sistema de assinaturas, eram uma das fontes de renda daquela instituição.
Mesmo sabendo que suas cartas poderiam ser publicadas um dia, como acontece agora, conta particularidades íntimas, como o caso de não poder ter filhos e da sua vontade de deixar herdeiros. “Um filho, bom, mau, qualquer que seja, é sempre para o pai o maior tesouro”, confessa.
Embora não fosse de tecer críticas pessoais, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, em uma das cartas ao professor A. Tito Filho, censura a maneira como o romancista de Oeiras e seu parente O. G. Rêgo de Carvalho se comportava quando convidado a ingressar na Casa de Lucídio Freitas. Não demonstrava qualquer interesse. Mas, a cada nova vaga, novo convite. Por muito insistirem, uma dia O. G. Rêgo de Carvalho concordou com a sua inscrição, mas disse que não iria, de forma alguma, pedir voto. Tornou-se imortal, ocupando a cadeira de nº 6, antes ocupada por Petrarca Rocha de Sá, cujo patrono é o poeta Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco.
Quem é Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves - Filho de Elesbão Ribeiro Gonçalves e Amália Mendes Gonçalves, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves nasceu em Amarante (PI), a 7 de fevereiro de 1895. Estudos secundários no Liceu Piauiense, hoje Colégio Estadual Zacarias de Góis, quatro anos; e na capital da Bahia, um ano. Em Salvador formou-se engenheiro civil e geógrafo. Escolhido orador oficial da solenidade de formatura (1916).
 
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Casou-se em 10 de janeiro de 1920 com Alice Ribeiro Gonçalves. Não deixou descendentes.
 
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Professor, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves lecionou Matemática e Físca no Colégio 24 de Fevereiro, da Cidade de Floriano (PI), no antigo Liceu Piauiense, na Escola Normal Oficial e Colégio Areolino de Abreu, os três últimos de Teresina, onde deixou registrado o brilho da sua inteligência e cultura.
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Exerceu relevantes funções técnicas, administrativas e políticas. Engenheiro-diretor da antiga Diretoria das Obras Públicas do Piauí, sete governos seguidos (1917, com Eurípides de Aguiar, a 1935, com Landri Sales), secretário da Fazenda do seu Estado na­tal (governo João Luís Ferreira – 1920 a 1924), chefe da Comissão de Limites Municipais (PI), engenheiro-consultor do go­verno do Maranhão (serviços de água, esgotos, força e luz), secretário-geral do Governo do Piauí, secretário-geral do Departamento dos Correios e Telégrafos, presidente da Comissão de Regulamentação do Departamento dos Correios e Telégrafos, engenheiro da anti­ga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
Participou de variadas missões por diversos organismos. No Piauí, membro do Conse­lho de Ensino e do Conselho Regional de Geografia, da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, do Cenáculo Piauiense, da Associação Brasileira de Imprensa. No Rio, do Conselho Na­cional do Trabalho, de que foi 29 vice-presidente, por várias vezes no exercício da presidência; presidente da Câmara de Pre­vidência Social, presidente do Conselho Nacional de Previdência Social, con­sultor do Instituto Brasileiro de Geografia, membro vitalício do Conselho Dire­tor do Clube de Engenharia, presidente do Conselho Coordenador das Divisões Técnicas do Clube de Engenharia, membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Engenheiros, membro do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, membro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, presidente do Conselho Rodoviário do antigo Distrito Federal, do Conselho Administrativo da Federação das Sociedades "Eunice Weaver". Em Brasília, pertenceu ao Conselho Fiscal da Companhia Urbanizadora da Nova Capital. Em Paris, da Société des Ingénieurs Civils de Fran­ce.
 
 
 
 
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Duas vezes senador da República pelo seu Estado: de 1935 a 1937 e de 1947 a 1951. Participou de importantes comissões durante os mandatos eletivos. Acatado, era ouvido com admiração e respeito, tamanha a sua grandeza moral e os temas cívicos e relacionados com importantes problemas nacionais que procurava discutir. Foi dos maiores oradores parlamentares do Piauí, em todos os tempos, e dos mais admirados do parlamento brasileiro.
Teve sempre destacada atuação em conferências e congressos, nos quais se salientava pela seriedade dos pronunciamentos e criteriosa defesa dos 'interesses piauienses e nacionais.
Representou o Piauí no VII Congresso Nacional de Educação, no Conse­lho Nacional de Geografia, no VII Congresso Nacional de Estradas de Roda­gem (Rio); representante do Senado no VI Congresso Nacional de Estradas de Rodagem, sendo orador oficial na instalação (Rio); delegado do antigo Distrito Federal no IX Congresso Nacional de Estradas de Rodagem (São Paulo), de que foi também representante na II Reunião Mundial da "International Road Federation" (Roma). Participou da delegação brasileira, como representante do antigo Distrito Federal, no VII Congresso Pan-americano de Estradas de Rodagem (Panamá).
 
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Como engenheiro civil, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves tem dignificado a profis­são, revelando extraordinária capacidade profissional em projetos de vária na­tureza: pontes, ligação rodoviária, edifícios públicos, defesa do Rio Parnaíba, le­vantamentos complementares da planta de Teresina, reforma e ampliação do Serviço de Abastecimento D’água e do Serviço de Suprimento de Energia Elétri­ca da Capital piauiense, grupos escolares. Ainda de sua autoria: plano de colo­nização, estudos de instalações termo-elétricas, estudos e planos contra secas nordestinas, construção e conservação de rodovias, de construção de barragens e obras em geral de construção civil. Foi o introdutor do concreto armado no Piauí.
Reformou o Palácio de Karnak, comprado no governo João Luís Ferreira (1.7.1920 a 1.7.1924) e pago no governo de Matias Olímpio de Melo 9.1.7.1924 a 1.7.1928). Idealizou o escudo do Piauí e aceitou o dístico, que nele se encontra - Impavidum Ferient Ruinae, por lembrança do saudoso amigo Dr. Lucrécio Dantas Avelino, ex-secretário da Fazenda do Estado, desembargador e juiz federal, muito versado nos clássicos latinos. Em defesa do seu trabalho, manteve polêmica, de maneira civilizada, mas contundente, com o Dr. Paulo Klumb, autor de Dois Estudos: Palácio Karnak e Teatro 4 de Setembro, editado na Comepi, em 1982, pela Academia Piauiense de Letras.
Construiu e reformou diversas praças, como a Praça Marechal Deodoro, Praça João Luís Ferreira e Praça Landri Sales. Entre suas edificações e projetos, podemos destacar a Ponte do Rio Poti, o Liceu Piauiense, a Escola Normal de Teresina, o Quartel do Exército, o prédio que hoje abriga a Biblioteca Pública Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho, o prédio da diretoria da Agricultura, Terras, Viação e Obras Públicas, o Clube dos Diários,.
 
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Jornalista, teve intensa atividade na imprensa piauiense, escrevendo sobre os mais variados assuntos. Colaborou com os seguintes jornais: A Imprensa; O Lírio (1909); Estado do Piauí; Correio de Teresina; Correio do Piauí; O Momento e, ainda, o Diário Oficial.
Junto com Jônatas Batista, Edson Cunha e Lucídio Freitas, homens de letras, criou a revista Chapada do Corisco, onde escrevia uma crônica sob o título “Crônica Mundana”. Essa revista não teve longa vida por conta da colaboração de Clodoaldo Freitas, pai dos poetas Lucídio e Alcides Freitas. Além de historiador, grande jornalista e grande escritor, era considerado uma espécie de chefe literário de todos. Tinha um romance inédito que escreveu no Pará, quando esteve lá trabalhando para uma empresa do Estado, e pediu que o publicasse, em forma de folhetim, na revista. Foram publicados alguns capítulos. Mas, um dia foram chamados a atenção porque o romance tinha páginas indecorosas. Clodoaldo escreveu um dialogo um tanto livre entre moças num quarto e a revista, que era, principalmente, para a distribuição junto às moças, não pôde continuar porque os pais que leram o artigo não queriam mais aquela publicação em casa. A revista era publicada em papel cor de rosa.
Dessa revista, afirma Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, nasceu a idéia da criação da Academia Piauiense de Letras.
 
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Autor de inúmeras obras, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves publicou: Problemas Municipais; Fases Biológicas; Magistratura e Justiça; Tipo de Colônia Agrícola para o Nordeste; Mapa do Piauí; A Servidão da Inteligência no Economismo Contemporâneo; Educação e Democracia; Construções Escolares no Piauí; A Escravidão e o Movimento Abolicionista; Política do Piauí (Im-prensa Nacional do Rio de Janeiro, 1948); O Babaçu na Economia Nacional; Fretes Marítimos Internacionais; Viagem de Inspeção ao Nordeste; Santos Dumont - Glória e Amargura; Joaquim Ribeiro Gonçalves - poeta, político e parlamentar; Paulo de Frontin; Maurício Joppert - engenheiro e professor; Le Maurício Corbusier - Luz Imperecível; A Formação do Engenheiro e sua função Social; Impressões e Perspectivas (trabalho organizado pelo professor A. Tito Filho, e publicado pelo Senado Federal, em 1986), dentre outros. Foi incluído na coletânea Os Mais Lindos Sonetos Piauienses (1940) e na Antologia de Sonetos Piauienses (1972), ambas organizadas por Félix Aires.
 
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Em 2010 foram publicados O que os netos dos vaqueiros me contaram - o domínio oligárquico no Vale do Parnaíba, de autoria do historiador Manuel Domingos Neto, que reuniu no livro, editado pela Annablume, entrevistas feitas com os ex-governadores do Piauí Pedro Freitas e Rocha Furtado e, também, com Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves. E, pela editora Zodíaco, de minha propriedade, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves - carta a A. Tito Filho, que agora, em 2011, sai em segunda edição, revista e ampliada.
 
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Membro do Clube de Engenharia (Rio), da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, do Cenáculo Piauiense, da Associação Brasileira de Imprensa, da Société des Ingénieurs Civils de Fran­ce e do Sindicato de Engenheiros do Rio de Janeiro.
 
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Títulos honoríficos: Medalha de Ouro e diploma do "Mérito Rodoviário" conferido pelo Departamento de Estradas de Rodagem do antigo Estado da Guanabara; Medalha de Ouro e diploma de "Honra ao Mérito" (Federação Nacional de Engenheiros); professor honoris causa da Faculdade de Direito do Piauí, que ele ajudou a fundar a 14 de abril de 1931, no governo do interventor federal Lemos Cunha; Cidadão Carioca; diploma de Serviços Relevantes ao País, concedido, em nome do Governo da República, pelo Conselho Federal de Engenharia, Arqui­tetura e Agronomia. (Notas biográficas da Academia Piauiense de Letras.)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mestre
A. Tito Filho
 
Poeta, jornalista, orador parlamentar, conferencista, crítico literário, cien­tista, geógrafo, historiador, higienista, estudioso da sociologia, urbanista, pro­fessor de amplos recursos, economista - não se sabe que mais admirar nesse homem de acendrado amor à vida democrática, ao Piauí e à sua pátria - de­mocracia, terra natal e nacionalidade que ele tem sabido servir em todos os se­tores da vida pública. Digno entre os mais dignos, caráter sem jaça, leal, correto nas atitudes, sempre se colocou ao lado da verdade e das causas nobres.
Uma das mais pujantes afirmações intelectuais do Piauí em todos os tem­pos. Prende e convence os auditórios. Palavra fácil, altiva, protótipo do orador feito e perfeito. De tudo que escreve, com graça, períodos puros, radia beleza, grandeza mental, segurança no afirmar e no discernir. Sabe esgotar os assuntos de que trata sem cansar o ledor, antes convocando-o mais ainda para a leitura, porque desta derivam lições de impecável conteúdo e de notável propriedade do vocabulário usado. Frases límpidas, cheias, sonantes. Estilo de arte rigorosa. Com mais de oitenta anos, está dono ainda de lucidez impressionante, escreven­do com letra à semelhança de desenhos de fino lavor. Impressionante figura hu­mana, extraordinária individualidade no concerto geral dos que o conhecem e em razão de conhecê-Io aprendem a admirá-Io.
 
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Era dezembro de 1946. Deixei o Rio de Janeiro, por terra, rumo do Piauí, em companhia de Tibério Nunes, Fenelon Silva, Mariano Mendes e Álvaro Ferreira Filho. Viagem de trem, de início - depois gaiola do São Francisco e caminhão. A comitiva estudantil pretendia fazer, como fez, a propaganda polí­tica dos candidatos majoritários do antigo grêmio partidário nomeado União Democrática Nacional: José da Rocha Furtado (governador), Luiz Mendes Ri­beiro Gonçalves e Joaquim Pires Ferreira (senadores) - os três finalmente vito­riosos no pleito de 19 de janeiro de 1947.
Lia nos jornais de Teresina a pregação cívica e a agilidade para argumentar do representante piauiense. E comecei a aplaudi-Io, a distância, com orgulho, sentindo-o uma das vozes mais vigorosas que se,agitavam em defesa dos interes­ses públicos na Câmara Alta do País.
Escoam-se os anos. Vejo-me na presidência da Academia Piauiense de Le­tras. Inicio o esforço de convivência com os confrades - com os de Teresina e com os residentes noutras paisagens brasileiras. Um dos que mais me aplaudi­ram o trabalho e os objetivos, no Rio, foi Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves - e entre nós se desenvolveu, anos fora, uma correspondência fraterna, amiga, ple­na de lições utilíssimas por parte desse homem ímpar ao discípulo fincado de corpo e alma no chão piauiense. Quanto aprendo nas suas cartas sempre fiéis nos depoimentos, escritas sem defeito, ao correr da pena, educadas como se es­pelhassem a própria personalidade daquele que as assina - culta, generosa, sincera, íntegra.
Do convívio espiritual com Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, na constante troca de idéias entre o Rio e Teresina, nasceu em mim o desejo de reunir as suas mais impressionantes manifestações intelectuais numa obra de pulso, tantos os assuntos em que a sua pena oferece ensinamentos magistrais: problemas piauienses, economia, processo educacional e democrático, prédios escolares, libertação do escravo, o babaçu, seca e Nordeste, crítica histórica e literária, en­genharia, estradas, urbanismo - assunto vário, que ele aprecia e ensina com profundo amor à ciência e à arte verdadeira.
Estas páginas revelam e identificam o mestre que delicia, encanta, educa e, sobretudo, concorre, como tem concorrido por decênios, para dar ao brasileiro a consciência de todos os aspectos da cultura nacional.
Ressalte-se, por dever de justiça, que o presente empreendimento editorial mereceu a prestigiosa atuação do Deputado Afrânio Nunes, Presidente da As­sembléia Legislativa do Piauí, mas não teria sido feito sem a sensibilidade pa­triótica do Senador Luiz Viana Filho, Presidente da Câmara Alta da República, escritor primoroso, que, com o apoio, praticou atitude de nobreza.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves
 
Afrânio Nunes
 
O meu estimado tio Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, nascido a 7 de fevereiro de 1895, em Amarante, e falecido a 5 de outubro de 1984, no Rio de Janeiro, foi sempre, pela sua personalidade, um homem público de escol. É daqueles homens, pode-se afirmar, que levam a consciência tranqüila, que é o apanágio dos que souberam cumprir com o seu dever. Homem íntegro, educado, alegre, corajoso, leal, prudente, sensível: homem de estudos, exornado dos mais peregrinos dotes de inteligência e caráter.
A. Tito Filho resumiu assim: “Poeta, jornalista, orador, parlamentar, conferencista, crítico literário, cientista, geógrafo, historiador, estudioso da sociologia, urbanista, professor de amplos recursos, economista – não se sabe que mais admirar nesse homem de acendrado amor à vida democrática, ao Piauí e à Pátria.”
A propósito, retirei um trecho de uma de suas cartas enviadas ao saudoso intelectual A. Tito Filho, que ressalta esse “acendrado” amor pelo seu torrão natal: “Fiz por meu rincão tudo o que estava em mim. Jamais lhe faltei nem na ação, nem na fé, nem na esperança, nem na pertinácia com que procurei servi-lo.”
Não posso, portanto, prezado Kenard Kruel, calar o meu reconhecimento e o de todos os meus familiares pela magnífica obra que ora apresenta à posteridade sobre essa figura extraordinária que foi Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, o qual, embora tenha deixado um imenso vácuo nas nossas vidas, conforta-nos a certeza de que viveu uma vida honrada dedicada à família, aos amigos, e, acima de tudo, ao trabalho, pela excepcionalidade de sua riquíssima obra.
A atribuição a si delegada pelo Mestre A. Tito Filho, em razão do pedido de fazer publicar, quando oportuno, missivas enviadas pelo amigo e acadêmico Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, impõe-se pela meritória essência dessas epístolas que haverão de consagrar a obra em epígrafe, unindo dois luminares de nossa cultura, condensada, com maestria, pelo seu talento de jovem que honra a cultura do Piauí, como a cultiva o seu talento de escol.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução
 
Kenard Kruel
 
Conheci o professor A. Tito Filho, por volta de 1975, quando ele proferiu palestra em Parnaíba, na condição de presidente da Academia Piauiense de Letras, entidade que presidiu por vinte e um anos (1971 a 1992).
Desde então tive com o Mestre, como o chamava, cordiais relações até o seu desencarne, a 23 de junho de 1992.
Naquele dia, o pé de jambo, plantado por ele à esquerda de quem entra na APL, soltou todas as suas folhas e passou o tempo todo gemendo, como se chorasse a morte do velho amigo.
Poucas meses antes do seu desencarne, entregou a mim uma pasta rósea contendo diversas cartas recebidas do amigo acadêmico Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves e pediu que eu, quando pudesse, as publicasse em livro, pela editora Zodíaco. Do querido Mestre A. Tito Filho ouvi a lição em forma de alerta: “A ninguém é dado negar a importância da História na vida dos povos. Desenganadamente, fazê-lo é desconhecer que, torna-se impossível a continuidade da cultura. Com efeito, sem memória, as civilizações ficam sem passado”.
O professor A. Tito Filho fez das coisas do passado a motivação permanente de toda a sua vida, dando-nos, por isso, no campo da História, um número considerável de obras magníficas, que aí estão sempre consultadas (acadêmico Wilson Gonçalves: Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado - 1549 - 2003, página 406).
Com a cumplicidade da Amanda Maria de Sousa Rodrigues (digitadora), da Renata Pitta e do Deuzimar Silva (revisores) e do Amaral (capista), ao longo desse tempo, dei feitura ao presente livro. Feito a boneca (modelo), fui ao Dr. Afrânio Nunes, detentor dos direitos das obras do Dr. Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, para que autorizasse esta edição. O Dr. Afrânio Nunes, essa boníssima figura humana, não só abriu mão dos direitos autorais, como fez questão de reembolsar o dinheiro usado no pagamento dos profissionais acima citados, demonstrando, assim, o seu imenso amor ao tio e igualmente à cultura do Piauí.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves foi um dos maiores intelectuais do nosso Estado. Professor, engenheiro, geógrafo, político, orador, poeta, jornalista, tradutor, historiador e crítico literário.
As raízes de Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves são portuguesas. Remonta ao casal José Ribeiro Gonçalves e Maria Joaquina do Espírito Santo, residentes na freguesia de Porto e naturais de Amarante (Portugal), conforme assentamento nos livros da igreja de Amarante (Piauí).
No início do século retrasado, os filhos do casal - João, Luís e Manoel vieram de Portugal para cá, localizando-se no eixo Regeneração, Amarante e São Pedro do Piauí.
João, batizado na Freguesia de São Martinho do Campo, bispado de Porto, Portugal, casou-se com Luzia Barbosa do Carmo Moura (filha do português Francisco Pinto de Moura e Ana Leutéria de Jesus, residentes em Regeneração). O casal teve os filhos Ana Maria (casada com o primo José, filho de Manoel), José, Luís, Fernando, Júlia Maria Ribeiro Gonçalves (casada com Raimundo Barbosa de Carvalho) e Joaquim. Além destes, João Ribeiro Gonçalves deixou outros filhos: Raimundo - Mundica, Francisco de Assis e Arnaldo).
Luís casou-se no interior de Regeneração com Inocência Maria da Conceição, mulher de cor e origem humilde, com quem teve a filha Maria, nascida a 4 de fevereiro de 1866. Maria casou-se com Jesuíno Ferreira de Sousa, com quem teve os filhos Luiza, nascida em 1871; Manoel, nascido em 1876 e Maria, nascida em 1878. Como a única filha de Luís era mulher e casada com Jesuino Ferreira Soares, é possível que os filhos destes hajam adotado apenas o nome de Ferreira Soares, deixando de lado o Ribeiro Gonçalves. Naquela época era tradicional adotar apenas o nome do pai.
Manoel casou-se com Josefa Fernandes, portuguesa de Caxias (MA), com que teve os filhos José, Antônio, Joaquim, Manoel (padre), Maria, Raimunda e Josefa (as duas últimas faleceram antes do pai contaminadas por varíola). O filho José casou-se com a prima Ana Maria (filha de João), com quem teve os filhos Antônio (Tunas, casado com Antônia Sobral), Demóstenes (casado a prima Eulália), Elesbão (casado com Amália Mendes Carvalho Ribeiro Gonçalves), Maria José Gonçalves de Carvalho (Cotinha, casada com Bonifácio Ferreira de Carvalho), Josefa Fernandes Ribeiro Gonçalves (Morena, casada com o primo Luiz Fernando Ribeiro Gonçalves) e Luiza (Luizinha, casada com Francisco da Costa e Silva).
Elesbão Ribeiro Gonçalves e Amália Mendes Carvalho tiveram os filhos Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves,Etelvina Ribeiro Gonçalves (Vinita - casada com José Alves Nunes Filho) e Celecina Mendes de Carvalho (casada com Afonso Mendes de Carvalho).
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves nasceu a 7 de fevereiro de 1895, em Amarante, cidade bucólica que surgiu quase toda dos armazéns dos seus antepassados e seus descendentes, educados na Europa. Precoce, aos 5 anos de idade já lia. Aprendeu a ler em casa, com a mãe Amália Mendes Carvalho. Não tinha tarefas a fazer, lia por vontade, por curiosidade de saber, por prazer. Depois, foi para a escola de dona Lodônia, uma educadora muito afável, principalmente com as criancinhas.
Os livros adotados eram de Felisberto de Carvalho, mas começou pelo Hilário de Gouveia. Neste livro havia umas comediazinhas, e, com outra menina mais velha do que ele, que depois casou-se com um primo seu, chegou a representar uma destas comédias.
Esteve em outros colégios, foi aluno de Da Costa e Silva, artista integral, além de grande poeta era escultor, pintor, tinha a inteligência nas mãos.
Em 1902, o tio Antônio Ribeiro Gonçalves chega da Bahia, formado em Medicina. No ano seguinte, convida o sobrinho para morar com ele. Dono da maior biblioteca do Estado, falava bem o francês, o italiano e o alemão e foi, por toda a existência, o seu exemplo maior de vida.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves foi muito mimado, a começar pelo avô José Ribeiro Gonçalves, que era um homem muito rigoroso e austero, mas tratava os netos com muita afeição. Levado da breca, passava as férias ou no Engenho ou na Fazenda, misturando-se à molecada e procurando fazer tudo que os colegas faziam com mais habilidade do que ele.
Criado na beira-rio, cedo aprendeu a conviver com o Parnaíba, que danificou a casa onde nasceu, numa forte enchente, mas também lhe proporcionou inesquecíveis banhos no Porto do Quartel e na Ponte do Mulato (Amarante), e no Pau d’água (Teresina). Diversas vezes atravessou o velho Monge, a nado, em busca das coroas de São Francisco e de Flores (Timon). Na Bahia, habitou-se aos banhos do mar. Chegou a distinguir-se nas disputas de velocidade.
Tinha uma verdadeira adoração pela arte circense. Quando permitiam as circunstâncias, sempre ia ao circo para assistir às acrobacias arrojadas. Folião de primeira linha, brincou todos os carnavais que suas forças permitiram. O primeiro foi o de 1905, em Amarante, nos seus bons tempos do começo do século. Via, entre os mascarados, anjos e demônios, vestidos de escarlate, de chifres e tridente em punho. O divertimento despertava nele admiração e medo. No ano seguinte, já em Teresina, sentiu-se mais tranqüilo com a presença dos foliões, quase todos membros da alta sociedade, que se divertiam nos salões do antigo Paço Municipal.
No final de 1907, o tio Antônio Ribeiro Gonçalves seguiu para a Europa e o deixou na casa do Dr. Bonifácio Pereira de Carvalho, parente de sua mãe, tio afim porque casado com a irmã de seu pai. Vinha destinado a estudar no Colégio Diocesano, fundado em 1906 pelo primeiro bispo do Piauí, dom Joaquim Antônio de Almeida. Mas, as aulas estavam para terminar. Para não perder tempo, estudou no Colégio São José, do professor Benedito Ribeiro, seu futuro sogro.
No Colégio Diocesano, foi um aluno traquinas. Por conta das estripulias, um dia quase morreu num acidente, na gangorra. Seu tio Bonifácio foi chamado porque ele estava sem sentidos, atirado em cima de um monte de vigas da construção do prédio. Lá, era semi-interno. Chegava às oito horas da manhã, logo depois do desjejum. Fazia ali o almoço, o lanche e o jantar. No final do ano, os padres fizeram um exame tal como se fazia no Liceu Piauiense e ele tirou todos os primeiros lugares, inclusive o de comportamento. Isso porque, fora das salas de aula, era um capeta, mas dentro comportava-se dentro das normas estabelecidas.
Fez exames também no Liceu Piauiense, mas apanhou sarampo e o levaram para a casa do avô, na verdade para a Fazenda Serra Azul, entre Amarante e Teresina. Curado do Sarampo, pegou coqueluche, doença mais séria ainda. Tossia de ver imagem. Embora restabelecido, o avô não o deixou retornar a Teresina. Resultado, perdeu o ano.
Em 1908, foi matriculado novamente no Liceu Piauiense. O tio Antônio Ribeiro Gonçalves ao retornar da Europa, em abril, ficou aborrecido porque esperava encontrá-lo em turma mais adiantada. Dadas as explicações, acalmou-se. Mas não ficou satisfeito. Amigo de Abdias Neves, conseguiu com este a internação do sobrinho no Ateneu Piauiense, onde era tratado com certa distinção porque tinha fama de bom aluno. Quando o Dr. Honório Portela Parentes desencarnou, Abdias Neves criou o Grêmio Portela Parentes e o designou como orador. Outra deferência a ele, era a tarefa de copiar os escritos de Abdias Neves, entre eles Psicologia do Cristianismo, impresso em 1910, na tipografia que o parnaibano Joaquim Campos Veras (Quincas Veras), irmão de Mirócles Veras, mantinha em Teresina.
Em sua passagem pelo Ateneu Piauiense e pelo Liceu Piauiense, foi exemplo para os colegas e orgulho para seus professores por causa de suas notas, que eram, quase sempre, as maiores das turmas.
Por esse tempo, já completamente dominado pelo hábito da leitura, que o acompanhou pelo resto da vida, passou a montar sua biblioteca, com os mais variados títulos, de autores brasileiros e estrangeiros. Os escritores piauienses, contudo, tinham destaque todo especial em suas estantes e a preferência em suas leituras.
Em 1911, deixou Teresina, transferido oficialmente do ginásio do Piauí para Salvador. Por recomendação do tio Antônio Ribeiro Gonçalves, estudaria para ser médico, a seguir-lhe os passos. Mudou de propósito, quando, levado por um amigo de república, que estudava medicina, foi aos laboratórios, e, principalmente, ao gabinete de anatomia descritiva e viu aquele triste cenário: um salão amplo, com aquelas mesas de cadáveres reunidos, uns com olhos esbugalhados, outros saindo salmouras das feridas. Ficou horrorizado. Saiu angustiado. “Não posso estudar medicina, vou fracassar, tenho uma sensibilidade muito aguda, vou sentir as dores dos doentes, não posso satisfazer a vontade de meu tio”, disse ao amigo.
Como estava no quinto ano, e já tinha todas as matemáticas, matriculou-se também no curso anexo da Escola Politécnica, no quarto ano, como ouvinte. Decidido a tornar-se engenheiro, queria, assim, rever o que estudara da matéria. Passou seis anos sem voltar ao Piauí. Naquele tempo os exames das matérias teóricas ou aplicadas eram realizados em dezembro e em março. Como o Piauí ficava distante, sendo a viagem feita por navio, o que levava muito tempo, não poderia vir e voltar para fazer os exercícios.
Estudioso das manifestações populares, estando no interior da Bahia, em 1914, participou de uma Roda de Santo Antônio, gravando os versos:
 
Santo Antônio de Lisboa
É feito de pau de pinho.
Tem mais força no virote
Do que porco no focinho.
 
Acadêmico de engenharia, participou das peladas, entre colegas, no campo do Quartel dos Barris, em Salvador. De corrida rápida, mas de chute fraco e desorientado, era mau jogador, como ele próprio salienta em uma de suas cartas.
Formou-se em Geografia (1914) e Engenharia Civil (1916), pela Escola Politécnica da Bahia. Formado, retornou a Teresina. Ficou dois dias na casa do tio Bonifácio Pereira de Carvalho. Em seguida, foi para Amarante, comemorar com os familiares e amigos. Depois, seguiu para Floriano. Queria agradecer o tio Antônio Ribeiro Gonçalves e mostrar que não fora em vão os cuidados que tivera com ele.
Bugyja Brito1, assim relembra o amigo:
“Como seu eu fosse seu companheiro, em 1916, ou um dos membros da turma de Engenheiro Civil e Geógrafo, diplomada sob festas e satisfação na cidade de Salvador, estou a vê-lo sorridente e atencioso, abraçado pelos colegas e aplaudido pelos mestres, após o término de um discurso magnífico, feito por ser o orador escolhido pelos diplomados, - daqueles que, naquela ocasião, deixando os bancos universitário, iriam enfrentar, cheios de fé e de sonhos, os caminhos nebulosos da vida profissional.
Inteligente e culto, educado e alegre, bom causeur perante os colegas e mestres, e ainda portador de uma tradição de talento que emanava de antepassados (os Ribeiros Gonçalves do Amarante piauiense), ei-lo a ser admirado pelos convidados da formatura, pelas famílias dos concludentes, pelas autoridades do Estado, pelos membros da Escola de Engenharia baiana e até pelos curiosos de aglomerações humanas, - desses que dispõem sempre de um tempo para comparecimento a qualquer evento, - todos enchendo o salão de colação de grau. É que as notas obtidas pelo estudante piauiense, durante o curso, tinham sido excelentes, e o seu discurso do momento era uma peça à altura de quem havia de abordar pontos de vista aptos para o trabalho quotidiano. As duas Grandes Guerras Mundiais, que tivemos, haviam de revelar ensinamentos de que o homem necessitava para a vida e que tinham sido apontados pelo nóvel Engenheiro.
Quando ele perorava, lançando idéias acertadas, um professor da Escola confessava a outrem, em voz baixa: ‘será ele uma figura exponencial do Brasil, no futuro?!
A resposta, anos depois, é a que conhecemos e que a poderíamos responder antes, com um Sim...
Após ter emitido idéias próprias e desejando salientar a missão, afanosa e útil, que caberia ou coube ao engenheiro na vida social, termina o discurso de formatura com estas palavras do ilustre escritor Coelho Neto, as quais para o Brasil, ainda são tão atuais, como eram há muitos anos passados.
‘País de absurdo: fundado em minas opulentas, é pobre; emoldurado em ouro e em prata, com os dias de radioso sol e as noites de argênteo luar, é triste; cortado de rios caudalosos, estala de sede; coberto de flores densas, pede lenho às silvas estrangeiras; as suas terras ferazes não produzem para seu sustento’.
Terminado o curso não lhe faltaram convites para atuar na engenharia; é a Bahia, é o Maranhão, é o Rio de Janeiro. Um amor entranhado à terra natal, entretanto, leva-o ao Piauí; e assim é que vai ser engenheiro da estrada (a 1ª estrada de rodagem que se abrirá na terra piauiense) Floriano-Oeiras, que o governo federal, desejoso de reduzir os efeitos calamitosos da grande seca de 1915, resolve construí-la, cabendo a direção ou chefia na construção ao Dr. João Luís Ferreira, engenheiro notável, que fora, posteriormente, no período de 1920/1924, governador do Estado. Ribeiro, nomeado, seguiu incontinenti para a região, onde encontra, já fazendo parte da construção da estrada, a figura ilustre do Dr. Alfredo Modrack, alemão de nascimento, diplomado pela Universidade de Zürich, e, que fazia anos, vinha trabalhando no município de Oeiras, a princípio (1888) como técnico de indústria pastoril no empreendimento do dr. Antônio José de Sampaio (nas então chamadas Fazendas Nacionais), depois como criador de gado e técnico em serviços de agrimensura.
A respeito desse assunto, ou da figura exponencial de Alfredo Modrack, certa vez, em conversa particular comigo, Ribeiro disse-me que viu projetos e desenhos admiráveis, elaborados por Modrack, e deles destacava- se a maquete de uma ponte em um rio da estrada Floriano-Oeiras, milimetrada à mão e com tanta perícia, que causaria entusiasmo a um engenheiro que convivesse com regras e instrumentos específicos à profissão. Ribeiro - dizia-me - ‘até hoje guardo com reverência a planta da ponte modelada em milímetros que foram traçadas à mão, por Modrack’”.
O carpinteiro mestre Estevão Lopes - nome de rua em Teresina, o auxiliou ainda na construção da estrada de rodagem Floriano-Oeiras, início de sua vida profissional, sob a direção segura do engenheiro, chefe e amigo João Luís Ferreira que, por diversas vezes, deu demonstração da grande confiança que ele lhe inspirava. Apesar da idade (à época, com 22 anos), logo revelou-se um profissional competente e empreendedor.
 
 
 
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No governo de Eurípides de Aguiar (1.7.1916 a 1.7.1920), foi convidado a ocupar a Secretaria da Agricultura, Terras, Viação e Obras Públicas, continuando no cargo nos governos seguintes de João Luís Ferreira (1.7.1920 a 1.7.1924), Matias Olímpio de Melo (1.7.1924 a 1.7.1928), João de Deus Pires Leal - Joca Pires, que foi deposto (1.7.1928 a 4.10.1930), Humberto de Arêa Leão - vice de Joca Pires, um dos golpistas (4.10.1930 a 14.11.1930), Lemos Cunha (29.1 a 21.5.1931) e Landri Sales Gonçalves (21.5.1931 a 3.5.1935).
A administração de Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, nos governos assinalados, foi caracterizada por seu talento polimórfico, realizando trabalhos dos mais variados e dos mais importantes. Foi o introdutor do concreto armado no Piauí. Projeto e cálculo de sua autoria é o reservatório do 25º BC, de que o seu substituto na construção, com infundado receio, reduziu a altura das colunas. Dele são as construções do antigo Liceu Piauiense, do prédio da antiga Escola Normal (de estilo neoclássico, hoje Palácio da Cidade - sede da Prefeitura de Teresina), do prédio da diretoria da Agricultura, Terras, Viação e Obras Públicas, de pontes (como a do Poti, que liga as Avenidas Frei Serafim e João XIII. Sua inauguração se deu em 1936. Infelizmente, ela ruiu no grande inverno que se abateu em Teresina, em 1948. Em janeiro de 1957, já em concreto armado, projeto seu e execução do engenheiro Cícero Martins Ferraz, é reinaugurada, recebendo o nome de Ponte Presidente Juscelino Kubitschek, que aqui veio para este fim), de rodovias, de planos de abastecimento d’água, de luz elétrica (suas são as estruturas do gasogênios da Usina Elétrica, os misturadores de cal e sulfato de alumínio e o canal suspenso, para a distribuição da solução às galerias de decantação. Conduziu a ampliação da Usina Geradora de Eletricidade, estudando a aquisição e dirigindo a montagem de três grupos eletrógenos. Considerou, por último, a aquisição de dois grupos turbos-geradores), de programas de colonização (Colônias de David Caldas e Colônia do Dr. Antônio Sampaio, com casas para os colonos, administradores e outros auxiliares, escolas agrupadas, enfermarias e ambulatórios, sob a responsabilidade do Dr. Agenor Barbosa de Almeida, compartimentos para lojas etc), de plantas de cidades e do mapa do Piauí (tendo a providencial ajuda do engenheiro Romeu Marques, do Obser-vatório Astronômico do Rio de Janeiro).
Quando assumiu a Diretoria de Obras Públicas começou a receber pedidos de cópias do Mapa do Piauí. Não havia nenhum abrangendo a totalidade do território.
Tomou, então, a iniciativa de colecionar tudo o que ia conseguindo a respeito, desejoso de fazer o seu Mapa. A sorte lhe sorri com a presença, no Piauí, do engenheiro Romeu Marques, do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro que, de imediato, prontificou-se a ajudá-lo, desde que o Governo do Estado assegurasse transporte e hospedagem. A remuneração, pelos serviços, lhe seria paga pelo Observatório.
Os prefeitos foram chamados a colaborar. Tudo corria bem até o prefeito de Piripiri, alegando crise em seu município, disse não poder honrar o compromisso assumido com o transporte e a hospedagem.
O engenheiro Romeu Marques, deixando com Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves o que já havia sido feito, retornou ao Rio de Janeiro. Com a idéia fixa na cabeça, ele ficou tentando até que, no governo Landri Sales, o Mapa do Piauí foi elaborado. Ao apresentá-lo, em original, ao ex-governador Antonino Freire (6.8.1908 a 15.1.1909 e 15.3.1910 a 1.7.1912), este, doente e acamado em casa, disse-lhe: “Você acaba de prestar inestimável serviço ao Piauí”.
Reformou o Palácio de Karnak, comprado no governo João Luís Ferreira (1.7.1920 a 1.7.1924) e pago no governo de Matias Olímpio de Melo 9.1.7.1924 a 1.7.1928). Idealizou o escudo do Piauí e aceitou o dístico, que nele se encontra - Impavidum Ferient Ruinae, por lembrança do saudoso amigo Dr. Lucrécio Dantas Avelino, ex-secretário da Fazenda do Estado, desembargador e juiz federal, muito versado nos clássicos latinos. Em defesa do seu trabalho, manteve polêmica, de maneira civilizada, mas contundente, com o Dr. Paulo Klumb, autor de Dois Estudos: Palácio Karnak e Teatro 4 de Setembro, editado na Comepi, em 1982, pela Academia Piauiense de Letras.
Construiu e reformou diversas praças. Quando aqui chegou, em 1905, vindo de Amarante, desceu na Praça Deodoro, que é a maior Praça de Teresina. Pega desde a Igreja do Amparo e vai até a margem do Rio Parnaíba. Um declive. A praça tinha poucos candeeiros e os poucos candeeiros iluminavam o monumento da Independência do Piauí, onde havia um castiçal, com uma lamparina em cima, que ele achou de um tremendo mau gosto. Quando foi diretor de Obras Públicas, procurei melhorar aquilo, fazendo umas colunas com as lâmpadas em cima e em torno. O veio a substituir as outras lâmpadas elétricas existentes que, por sua vez, eram as substitutas dos candeeiros que haviam ali. A iluminação pública, antes, era luz de lampião a querosene. Para se ter uma idéia de como era naquele tempo, aquela região da Praça Deodoro era tão escura que ele saia da casa onde morava (que foi substituída pelo edifício da Casa Ingleza, dos Clark, onde é hoje o Banco do Nordeste, pegado à Delegacia Fiscal e ao Arquivo Público. Aliás, onde morou João Isidoro França, o dono do traçado criador de Teresina) e ai, com os seus primos à Rua da Glória de chambre, à noite. Naquele tempo, os meninos não usavam pijamas, usavam chambre. Diretor de Obras Públicas, no governo de João Luís Ferreira, fez diversas intervenções para melhorá-la. A praça era desfigurada porque, desde que foi construída, todo governador que assumiu mandava chamar um pedreiro para ajardiná-la, pelo menos defronte o velho Palácio do Governo (atualmente prédio do Museu do Piauí – Casa de Odilon Nunes). O prefeito Lindolfo Monteiro (1.2.1936 a 11.11.1945), por exemplo, mandou construir ali um zoológico.
Calculou e acompanhou toda a construção da Praça Landri Sales, mais conhecida como Praça do Liceu, que se chamava Largo do Poço ou Baixa da Égua.
De canteiros estrelados, tipo inglês, com gramados, com muitas árvores, onde tinha em certo local um coreto, a Praça João Luís Ferreira é projeto primitivo seu. Depois, na gestão do prefeito Luís Pires Chaves (17.3.1932 a 10.5.1935), foi feita uma rearborização geral da cidade e fez da praça um lugar verdadeiramente destinado ao clima tropical. Atualmente, é uma praça sombria pela quantidade de árvores plantadas.
No governo Landri Sales (21.5.1931 a 21.5.1935), foi criada a Diretoria das Municipalidades para fiscalizar a ação dos prefeitos. Era o órgão destinado a organizar o tipo de orçamento, os quadros que deviam preenchidos etc. Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves foi o encarregado de fazer a sua regulamentação. Criou um mecanismo rigoroso de controles das receitas e das despesas. A cada mês, o prefeito o comunicava quanto tinha gasto e quanto tinha em caixa. Para evitar a construção de obras desnecessárias ao povo, projetou um tipo de pequeno mercado, matadouro, cemitério, e de diversas escolas. Com isso, desenvolveu um plano de construção de grupos escolares. Naquele tempo, a aula primária era dividida em quatro anos. Ele fez os projetos de grupos escolares com quatro classes, uma para cada ano. De grupos escolares, de escolas mistas, de escolas agrupadas. Recebeu a garantia de Landri Sales de que todo o prefeito que quisesse construir uma escola teria os recursos necessários. Para comprovação de que era possível, resolveu projetar, dirigir a construção, fazer o orçamento do primeiro grupo escolar para Teresina, que era o Grupo Escolar Domingos Jorge Velho, de estilo colonial, na Avenida Circular ou Miguel Rosa. Foi gasto na construção, algo em torno de cinqüenta e poucos contos de réis. Dessa forma, conseguiu fazer uma rede de escola considerável no Estado. Não tinha, no interior, escola de nenhuma espécie, a não ser funcionando em casas residenciais alugadas. O primeiro desses grupos foi em sua terra – Amarante. O prefeito recebeu trinta contos de réis e fez o Grupo Escolar Eduardo Pereira. Landri Sales foi inaugurá-lo. O orador foi Elesbão Ribeiro Gonçalves, o pai de Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves. Quando Landri Sales deixou o governo, havia 25 escolas em construção ou construídas por ele.
Na planta do grupo escolar Demóstenes Avelino, no Alto da Moderação, hoje Praça do Fripisa, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves contou com o apoio de Cristiano das Neves, uma das figuras de grande projeção no campo da engenharia brasileira.
Na construção da Escola Normal e, também, na construção do Quartel do 25º BC, contou com o auxílio do carpinteiro mestre Estevão Lopes, que, quase criado por Frei Serafim, muito lhe contou da vida e dos hábitos dos frades e dos trabalhos da construção da Igreja de São Benedito, que ficava, quando ele chegou a Teresina, vindo de Amarante, (final de 1905), no chamado Alto de São Benedito, antes Alto da Jurubeba, nome primitivo e título de um dos livros do professor A. Tito Filho.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves lembra que, nos seus tempos de menino, os novenários constituíam grandes divertimentos - os mais freqüentes, talvez, da sociedade - com foguetórios, as procissões, os leilões, as barraquinhas de gengibeira, bolo frito, arroz doce, pé-de-moleque etc. As igrejas eram ponto de encontros de namorados - meninos, rapazes e moças casadouras. Depois da novena, o passeio no adro, as conversas furtivas, longe dos olhos das mães e das avós.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves dá o seu testemunho sobre as ferrenhas discussões entre os padres e a Maçonaria. No Piauí, entre 1902 e 1914, aumentaram as tensões entre Igreja e Maçonaria. O padre Joaquim Oliveira Lopes, vigário da Igreja de São Benedito, era o líder católico, a enfrentar, da tribuna sagrada, os heréticos que criticavam a Igreja e o seu poder, as pretensões políticas da Igreja, vistas como ameaçadoras, o que tornava necessário o combate à sua influência sobre a consciência do povo.
As pelejas na imprensa e a contestação das conferências da Loja Caridade II, reduto dos maçons, tinham intensa repercussão no púlpito da Igreja do Amparo, nas atitudes do padre Lopes que, segundo sua descrição, era um homem de compleição franzina, falas suaves, gestos bondosos, com notável capacidade de convencimento, sempre inclinado a atender aos pequenos. Mas era, visceralmente político e partidário. O que lhe faltava de físico e de voz, porque a tinha apagada e fina, sobrava-lhe de energia e de denodo nas campanhas políticas. Crescia na pugna. Quando, em plena igreja, procuravam os adversários, atacados na instituição maçônica, abafar-lhe a palavra, replicava-lhes com firmeza: “Retirem-se, da Casa de Deus!”.
Padre Lopes era, para os seus adversários, “um animal político, uma alma tocada de religiosidade em busca de purificação”.
Os chamados livres-pensadores da época e maçons eram intelectuais e políticos de peso como Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, Abdias Neves, Domingos Monteiro, Anísio de Abreu, Matias Olímpio de Melo, Gonçalo de Castro Cavalcanti, Areolino de Abreu e Miguel Rosa.
Um dos mais aguerridos de todos eles era Miguel Rosa. Este, em 1909, como diretor da Instrução Pública do Estado, fez publicar, no jornal O Comércio, uma portaria que proibia o ensino religioso nas escolas. Ao ser eleito governador do Piauí (1.7.1912 a 1.7.1916), Miguel Rosa intensificou suas ações contra a Igreja.
No primeiro ano do governo Miguel Rosa, policiais à paisana espancaram o sacristão do Padre Lopes. Os jornais O Apóstolo e a Cidade de Teresina denunciaram o crime político, que tomou conta das manchetes dos jornais do sul do país e repercutiu até na Câmara Federal e no Senado. Os dois jornais foram fechados. Reabertos, foram incendiados pela polícia, a 11 de dezembro de 1912. Outros crimes se seguiram e, na investigação policial dos fatos, os padres foram incriminados. O padre Lindolfo Uchôa foi preso como suspeito dos tiros contra o palácio episcopal e o padre Lopes foi recolhido ao xadrez, no quartel militar. Respondeu a processo e, relaxada a sua prisão, desapareceu. E desde o seu desaparecimento, não se teve mais notícia do aguerrido sacerdote, que tanto lutou pela Igreja do Piauí.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves foi autor, ainda, do projeto do Clube dos Diários, da Rua Álvaro Mendes, porque, anos depois, foi construída, na atual Praça Ocílio Lago, no Bairro Jockey Clube, outra sede do Clube dos Diários, projetada pelo engenheiro Evelino Guapindaia. Lá, antes, era a chácara de Antônio Piauilino de Holanda Campos, parente do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda. Atualmente, funciona ali a sede da Fundação Nacional do Humor, presidida pelo jornalista Albert Piauí.
O Clube dos Diários tinha, assim, duas sedes. A do centro, mais para solenidades, encontros, festas, danças, jogos de cartas e bilhar. A outra, na Praça Ocílio Lago, mais campestre. Tinha piscina.
O terreno do centro, antes de abrigar o Clube dos Diários, era um dos locais em que ficavam os circos em trânsito por Teresina. Os circos ficavam também na Praça das Dores, quando não havia árvores ainda plantadas lá, ou na Praça Deodoro. Mas, com mais frequência, os circos ficavam no terreno da Rua Álvaro Mendes.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves conta que o Clube dos Diários nasceu no governo do boêmio João Luís Ferreira, que incentivou os seus auxiliares e homens como o desembargador Ernesto Batista, Josino Ferreira e o Ferraz a fundarem um centro de encontros e jogos, em vez de irem para um hotel, para sessões de jogos e cartas.
No tempo do governador João Luís Ferreira, que era dado com todo mundo, o Clube dos Diários era frequentado por todas as alas políticas, mas a maioria dos frequentadores era mesmo a dos mais chegados ao grupo político do governador.
Doado pelos sócios ao governo do Estado, que o reformou em sua quase totalidade, o Clube dos Diários hoje faz parte do Complexo Cultural Theatro 4 de Setembro. Comporta a Sala Torquato Neto, para projeção de filmes, palestras, shows musicais e espetáculos teatrais, e o Espaço Cultural Jornalista Osório Júnior, onde se realiza o projeto Boca da Noite e a Roda de Poesia e Tambor. Não podia deixar de ter o seu bar. Uma das atrações do bar, no momento, é a audição dos discos em vinil, sob responsabilidade do atuante Clube do Vinil.
 
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Estudante em Salvador, como todo bom intelectual da época, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves teve amores que lhe sensibilizaram a alma e despertaram profundas paixões, como prova o soneto abaixo dedicado a uma bela e formosa judia russa, de olhos da cor do mar atormentado.
 
 
 
Luz indefinida
 
Olhos da cor do mar atormentado
Tem claridades, sombras e mistério,
Cintilações de amor e de pecado,
Gestos de sedução e altivo império...
 
Ao travo do desejo sufocado,
Claros se acendem de fulgor sidério,
E no êxtase do gozo ambicionado
Logo de nublam de palor etéreo...
 
Olhos de estranha luz indefinida,
Onde se espelha, da alma incontentada,
Na velada paixão, na ânsia incontida,
 
A luta que em ti mesmo se origina:
Sob os gelos da estepe desolada,
Os ardores do sol da Palestina.
 
Fez-lhe ainda,
 
Inatingível
 
Sobre o vestido negro a rubra rosa
Sangrando amor do coração ardente.
Tens a vida a florir da alma radiosa,
Travessa figurinha sorridente.
 
 
 
Reclina-se flor na curva graciosa
E, presa à fina tela transparente,
Embala-se à carícia volutuosa
Do teu seio a palpitar sensualmente.
 
Com o odor que das pétalas emana
Há o perfume da carne e do pecado,
A tentação que o meu desejo inflama...
 
E tanto mais me prendes seduzido,
Quando menos mereço teu cuidado,
Inatingível fruto apetecido...
 
Bahia, 1915.
 
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Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves casou-se a 10 de janeiro de 1920 com Alice, cujo pai, professor Benedito Ribeiro, funcionário da Fazenda Federal, não obstante portar o sobrenome Ribeiro não é seu parente. brindou-a com 4 sonetos marcantes de etapas felizes do matrimônio, ainda que sem filhos, que ele tanto queria ter. “Um filho, bom, mau, qualquer que seja, é sempre para o pai o maior tesouro”, confessa.
 
Enlevo
 
Bem distintos os dois e separados,
Mas força irreprimível nos unia...
E fomos noivos e, antes, namorados,
Pois houve assim de ser, que amor queria.
 
Hoje, em verdade, estamos transformados.
Aquilo que difícil parecia
Operou-se espontâneo, sem cuidados,
Pela mútua atração que nos sorria.
 
Em unidade de alma e pensamento,
Nós seguiremos pela vida afora
Com esta fé que nos inspira agora.
 
Apegados ao nosso juramento,
Teremos os carinhos e os afetos
Dos nossos filhos e dos nossos netos.
 
(No dia do casamento, a 10 de janeiro de 1920).
 
Culminação
 
Doce mimo de afeto e de bondade,
Como graça dos céus inexcedida,
Ao meu caminho destes claridade
E és a consolação de minha vida.
 
Num belo sonho de felicidade,
Com tua existência à minha unida,
Trouxeste-me ao labor a amenidade
De longa convivência enternecida.
 
Cinco lustros vencidos. E inda agora
Igual ternura o coração me invade.
É que, ao lado teu, hoje como outrora,
 
Os anos passam como dias, pois,
Se não tivemos filhos, nesta idade
É mais profundo o amor entre nós dois.
 
(Por ocasião das bodas de prata, a 10 de janeiro de 1945).
 
Entardecer
 
Lembra-te? Já cinqüenta anos vividos
Com amor e de amor recompensados.
E, nesses rumos todos percorridos,
Por amor nunca fomos maltratados.
 
Se, entre os múltiplos sonhos perseguidos,
Não chegaram os filhos desejados,
O amor não nos deixou desiludidos,
Pois nos conservou sempre enamorados.
 
Seguimos de mãos dadas o caminho,
Satisfeitos fizemos nosso ninho,
Que enchestes da maior felicidade.
 
Hoje, passado tempo, já velhinhos,
Sentindo-nos felizes, bem juntinhos,
Revivemos os dias com saudade.
 
(No transcurso das bodas de ouro, a 10 de janeiro de 1970).
 
 
 
 
Ocaso
 
Vem!... Senta-te ao meu lado e conversemos...
Não nos deixou, na velhice, a alegria
Que, em efusão de afeto, sempre temos
Nas festas e na glória deste dia
 
Muito longo caminhos percorremos,
Insensíveis ao tempo que fugia.
Sessenta anos unidos já vivemos,
Ventura que nossa alma acaricia.
 
Felizes, relembremos o passado
A floração dos sonhos bons, vividos,
a delícia de amar e ser amado...
 
Sintamos, ainda hoje, a mocidade
Ressurgir em anseios incendidos,
Aos influxos do amor e da saudade.
 
(Para comemorar as bodas de diamante, a 10 de janeiro de 1980).
 
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O Piauí, no período de 4 de outubro de 1930 a 21 de maio de 1931, quando assumiu Landri Sales, passou pela administração do capitão-tenente Humberto de Arêa Leão (4.10.1930 a 29.1.1931), do desembargador Joaquim Vaz da Costa (das 12 às 21 horas do dia 29.1.1931) e do capitão Lemos Cunha (29.1 a 21.5.1931).
Com o comando de Landri Sales, oficial ligado a Juarez Távora, um dos grandes da Revolução de 1930, o Piauí entrou num clima de pacificação política. Em dezembro de 1932, Landri Sales e deputado federal Hugo Napoleão do Rêgo acordaram na formação de um grande partido piauiense, em que fossem fundidas as duas forças revolucionárias do Estado. Assim nasceu o Partido Nacional Socialista do Piauí, com a instalação da Comissão Central, composta por Raimundo de Arêa Leão, Cláudio Pacheco, Francisco Freire de Andrade e Gaioso e Almendra, sob a presidência do capitão Martins de Almeida. Landri Sales e Hugo Napoleão do Rêgo foram eleitos presidentes de Honra do PSN.
Em princípios de junho de 1933, na formação da chapa, sem acordo, formou-se, então, o Partido Progressista Piauiense - PSP, sob a presidência de Hugo Napoleão do Rêgo, tendo como vice-presidente em exercício o desembargador Tomás de Arêa Leão; tesoureiro Edmundo Oliveira; secretário Cláudio Pacheco; consultor eleitoral Adolfo Alencar. Do Conselho Supremo do partido, também sob a presidência de Hugo Napoleão do Rêgo, faziam parte, além dos membros da Comissão Executiva, o major José Faustino dos Santos e Silva, o capitão Jonas Correia, o Dr. José Auto de Abreu, o major Pedro Mendes, os coronéis Joaquim Noronha, José João dos Santos, Jeremias de Arêa Leão, Dr. Leucipo Avelino e outras personalidades da política e social do Piauí.
Nas eleições do dia 14 de outubro de 1934, a situação concorreu, apoiada em quatro partidos: o Partido Nacional Socialista (de Landri Sales), a Liga Católica, os elementos do Partido Republicano Piauiense e os elementos do capitão Narciso da Rocha.
A oposição concorreu com o Partido Progressista Piauiense, liderado por Hugo Napoleão do Rêgo, Raimundo de Arêa Leão, Sigefredo Pacheco e Adolfo Alencar, e com o Partido Liberal, liderado pelo comandante Helvécio Coelho Rodrigues.
Foram eleitos, pela situação, Agenor Monte, Francisco Freire de Andrade e Francisco Pires Gaioso e, pela oposição, Hugo Napoleão do Rêgo, formando, assim, a bancada piauiense que trabalhou na elaboração da Constituição Brasileira de 1934. Esta, no capítulo das Disposições Transitórias, estabeleceu a realização de eleições legislativas para outubro do mesmo ano. Travou-se, no Piauí, nova disputa entre dois grupos polí-ticos: o liderado por Landri Sales, que elegeu 16 deputados estaduais, e o outro, por Hugo Napoleão do Rêgo, que elegeu 8 membros do Legislativo. Cabia à Assembléia Legislativa a responsabilidade de eleger, indiretamente, o governador e os senadores da República. O PNS possuía a maioria dos parlamentares.
Landri Sales foi sondado para continuar à frente do governo do Piauí, tendo recusado a proposta. Decidido a voltar para a vida da caserna, resolveu indicar o nome de Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves à sua sucessão. Mas, uma manobra feita por Leônidas Mello, entretanto, o afastou da disputa, como ele próprio revela nesta entrevista a Manuel Domingos Neto: “O Leônidas ouviu os membros do diretório, onde eu tinha, de fato, dois inimigos pessoais. Um, por divergência de ideais, de opinião e atritos. E o outro, por discordâncias familiares, em que ele não foi parte e, diga-se de passagem, nem eu. Mas tinham lá as suas queixas, porque eu sempre tive personalidade, e, sempre ao ouvir os outros, em trocas de idéias, nunca ocultei as minhas para ser agradável a quem quer que seja. E isso trazia, algumas vezes, contrariedade. Aliás, isso de descontentamentos em relação à minha pessoa não me causavam aborrecimentos senão quando provinham de causas desarrazoadas. Noutras circunstâncias, eu deixava que eles permanecessem descontentes sem dar qualquer satisfação. Pois bem, o Landri Não mais querendo ser candidato novamente ao governo, indagou ao Leônidas o que ele achava do meu nome para substituí-lo. Eis a resposta que ele deu, em suas memórias: - ‘Dou-lhe minha opinião com fraqueza. Luiz reune todas as condições para ser excelente governador, mas faltam-lhe certas condições para ser excelente candidato. Suponho que o senhor encontrará algumas restrições extremadas.’ E deu dois nomes apenas: Disse ele: - ‘Penso que Osvaldo Costa e Silva e Anísio Brito...’ E manobrou de tal jeito, que saiu ele candidato ao governo.” Leônidas Mello governou o Estado, de 1935 a 1945.
Além do governo, havia duas cadeiras em disputa no Senado. Landri Sales foi, ainda, insistentemente, convidado a figurar na chapa para concorrer a uma delas. Também declinou da indicação, mas fez questão de apontar o nome de Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves.
Para a outra cadeira, o nome indicado foi o do senador José Pires Rebelo, que já ocupava o cargo em substituição a Félix Pacheco. Este havia renunciado para assumir o Ministério das Relações Exteriores do presidente Artur Bernardes (1923 a 1927).
Em reunião de 27 de setembro de 1934, em Teresina, a representação do Conselho Central do Partido Nacional Socialista (PNS) resolveu indicar o Leônidas Melo para as funções de governador do Piauí; José Pires Rebelo e Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves para o Senado Federal; o tenente Agenor Monte e Francisco Freire de Andrade, Francisco Pires Gaioso Napoleão do Rêgo, Adelmar Rocha e Osvaldo Costa e Silva para a Câmara dos Deputados.
Leônidas Mello foi eleito governador do Piauí pelo sistema de votação indireta, realizada pela Assembléia Estadual Constituinte, a 22 de abril de 1935. A 3 de maio, Landri Sales passou o cargo para Leônidas Mello, que passou a governar com a oposição, representada pelo Partido Progressista, tendo dez deputados de uma bancada de vinte e sete (inclusive três classistas), onde existiam três pertencentes à Liga Eleitoral Católica. O Partido Progressista, nestas eleições, porém, conquistou a maioria das prefeituras dos mais importantes municípios do Estado.
Para a Câmara dos Deputados foram eleitos Agenor Monte, último remanescente do tenentismo revolucionário no Piauí, Adelmar Rocha, Francisco Pires Gaioso, Osvaldo Costa e Silva e Hugo Napoleão, como candidato de oposição.
Para o Senado foram eleitos Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, com vinte votos, e José Pires Rebelo, com dezesseis votos, ambos com mandatos de oito anos, ou seja, até 1943. Mas, com o golpe de Getúlio Vargas a 10 de outubro de 1937, o Congresso Nacional é fechado e todos os parlamentares voltam aos seus Estados, sem representação.
Total dos eleitores do Estado, em 1934: 46.343. Comparecimento nas eleições federais: 34.190. Votos apurados do Partido Socialista e Liga Eleitoral Católica (governistas): 19.756. Partido Progressista (oposição): 11.363 votos.
 
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Getúlio Vargas governou provisoriamente o Brasil de 1930 até quando foi eleito pela Constituinte de 1934, para um mandato de quatro anos. Para impedir as eleições presidenciais, que ocorreriam em 1938, e barrar as candidaturas de Flores da Cunha, do Rio Grande do Sul, e Armando Salles de Oliveira, de São Paulo, colocou em prática um plano continuísta, conseguindo adesão do chefe das Forças Armadas general Góes Monteiro e da Ação Integralista Brasileira, dirigida por Plínio Salgado. No dia 10 de outubro de 1937, após criar uma falsa expectativa de que ocorreria um golpe comunista (plano Cohen), desfechou o Golpe de Estado. Nascia, dessa maneira, o Estado Novo, que duraria de 1937 a 1945. Seu anúncio foi feito à noite com um discurso de Getúlio Vargas transmitido pelo rádio a todo o país. Nele, o presidente procurava justificar a instalação da ditadura como uma necessidade para manter a estabilidade social.
Getúlio Vargas dissolveu o Congresso Nacional, decretando nova Consti-tuição, elaborada por Francisco Campos, de caráter autoritário, e tendên-cias corporativas, com texto publicado no Diário Oficial. O Poder Executivo, de acordo com esta Constituição, promulgada a 10 de novembro de 1937, passou a predominar sobre o Legislativo e Judiciário e o presidente tinha poderes para legislar através de Decretos-Leis. O governo passaria a intervir na economia através de legislação trabalhista, controle de preços e abaste-cimento interno. Os Estados passaram a ser controlados pelo presidente da República, que nomeava, para estes, Interventores. No Piauí, Leônidas Mello que, constitucionalmente, governava o Estado desde o dia 3 de maio de 1935, foi confirmado no cargo, a 10 de novembro de 1937, agora como interventor federal.
 
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Em 1939, Landri Sales foi escolhido diretor geral do Departamento de Correios e Telégrafos. Antes de assumiu o cargo, procurou o antigo auxiliar Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, e expôs a razão da conversa: - “Quero falar com você sobre um assunto sério e urgente. Fui convocado para o Departamento dos Correios e Telégrafos, que são serviços de importância para os militares. E, por isso, o militar que presta esse serviço conta o tempo para a aposentadoria e para a promoção. Mas, eu não quero decidir-me sobre a convocação sem ter, de você, a certeza de que será o secretário Geral do Departamento. Eu pus você como auxiliar de segurança do Estado e vai para o Departamento, também, como auxiliar de minha confiança, por necessidade minha.” Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves ainda tentou recusar o convite, mas, achando que não poderia fazer essa desfeita ao seu antigo chefe e amigo, resolveu aceitar a nova missão.
Landri Sales assumiu a direção geral do Departamento de Correios e Telégrafos a 25 de julho de 1939. Em 8 de novembro de 1945 foi obrigado a deixar o cargo porque era simpatizante da candidatura udenista do brigadeiro Eduardo Gomes. Voltou a dirigir o DCT de 13 de julho de 1949 a 13 de fevereiro de 1951.
 
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 O país respirava o fim da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) e lutava pelo fim da ditadura Vargas, acobertada pelo chamado Estado Novo (1937 a 1945). A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial contra os países do eixo (Itália, Alemanha e Japão), fazendo parte dos aliados (Inglaterra, França, União Soviética e Estados Unidos), deu margem ao crescimento da oposição ao governo Vargas. A opinião pública, em geral, denunciava o fato de muitos brasileiros terem morrido nos campos de batalha, na Europa, lutando em defesa da democracia, enquanto no Brasil continuava o governo ditatorial de Vargas.
Intelectuais de expressão, no período, como Jorge Amado, Paulo Emílio Salles Gomes, Astrojildo Pereira, Caio Prado Jr., Moacir Werneck de Castro, Antônio Cândido, Mário Schenberg, Sérgio Milliet e Aníbal Machado, por intermédio da Associação Brasileira de Escritores (ABDE), fundada em 1942, no Rio, promoveu, no período de 22 a 26 de janeiro de 1945, em São Paulo, o I Congresso Brasileiro de Escritores. Ao final, produziram um manifesto apontado como primeira manifestação pública feita de viva voz, para cerca de duas mil pessoas, contra a ditadura Vargas. Os escritores pregavam liberdade de expressão e de culto, eleição direta um novo governo e cooperação entre os povos. Houve censura prévia ao noticiário do evento, mas, mesmo assim, o Brasil ficou sabendo que havia resistência à situação vigente no pais. José Américo de Almeida (candidato situacionista à eleição de 1938), em entrevista a Carlos Lacerda, publicada no jornal Correio da Manhã, a 22 de fevereiro de 1945, afirmando que o Estado Novo era um fiasco, brutalidade, irresponsabilidade, corrupção, coisas que nunca tinham acontecido (...) e defendendo a legalidade democrática, foi o estopim para a liquidação do entulho autoritário. A conjuntura há muito apontava para este caminho. O DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo, já não conseguia manter, como antes, com mão de ferro, o controle dos meios de comunicação. Até mesmo o general Góis Monteiro, condestável do Estado Novo, virou a casaca, propondo o restabelecimento da ordem constitucional.
Sentindo a onda liberal que se difundia pelo país, de ponta a ponta, Getúlio Vargas procurou liderar a abertura democrática, como forma de permanecer no poder. Em fevereiro de 1945, fixou prazo para a eleição presidencial - 2 de dezembro de 1945, concedeu anistia ampla a todos os condenados políticos, libertou os comunistas presos, entre os quais Luís Carlos Prestes, e permitiu a volta dos exilados aos país.
Nesse clima de abertura democrática, foram organizados diversos partidos políticos, como o Partido Social Democrático (PSD), a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Social Progressista (PSP). Houve a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB), criado em 1922, que vivia na clandestinidade.
A 29 de outubro de 1945, porém, as Forças Armadas, lideradas pelos generais Góes de Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, sentido que o presidente estava tramando para continuar no poder, cercaram o Palácio do Catete, sede do governo, obrigando Getúlio Vargas a renunciar. Em seu lugar assumiu o ministro do Supremo Tribunal Federal (único poder organizado subsistente) o cearense José Linhares, que garantiu a realização da eleição do dia 2 de dezembro, vencida pelo general Dutra (1946 a 1951), candidato do PSD, apoiado pelo PTB, de acordo com ordens recebidas do próprio presidente deposto Getúlio Vargas, com 3.251.507 votos. Derrotava o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, Yedo Fiúza, do PCB, e Rolim Teles, do Partido Agrário. Dutra tomou posse a 31 de janeiro de 1946, para um período qüinqüenal que terminaria em 1951. Haviam sido eleitos, também, os representantes do povo à Assembléia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição de 1946, promulgada a 16 de setembro.
 
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No Piauí, caiu o interventor federal Leônidas Melo, que foi vaiado e achincalhado, de maneira injusta e deselegante, por seus adversários quando deixou o Palácio de Karnak, a 9 de novembro de 1945, sendo substituído pelo coronel Antônio Leôncio Pereira Ferraz, militar de muitas afinidades com os udenistas locais e primo de José Cândido Ferraz, amigo do general Dutra e do brigadeiro Eduardo Gomes.
Antes de assumir, o coronel Leôncio Ferraz procura o seu antigo professor Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves para convidá-lo a assumir o cargo de secretário geral do Estado, o mesmo que ocupara no tempo de Landri Sales. Desta vez, porém, o convite foi, polidamente, recusado. Contudo, indicou o nome do professor Benedito Martins Napoleão, que foi convidado e aceitou. No dia 19 de dezembro de 1945, por motivo de saúde, o coronel Leôncio Ferraz transmitiu o governo ao professor Martins Napoleão, e seguiu para o Rio de Janeiro, de onde não mais voltou. A quem diga que o coronel Leôncio Ferraz era mais brigadeirista do que Dutra. Quando este tomou posse na presidência da República (1946 a 1951), o desalojou do Palácio de Karnak. Pela segunda vez, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves deixa de governar o Estado que ele tanto amou. Caso tivesse aceito o convite do aluno Leôncio Ferraz, ele, e não o professor Martins Napoleão, teria assumido o Poder Estadual.
O professor Martins Napoleão, porém, ficou no cargo até o dia 20 de março de 1946, quando o transmitiu ao major mineiro José Vitorino Correia, indicado porque fizera campanha para o general Dutra, que assumira a presidência da República, com poderes discricionários, enquanto aguardava a outorga da nova Carta.
Embora tenha ficado pouco tempo no cargo (de 20 de março a 8 de julho de 1946), o major José Vitorino Correia, sentido a deficiência energética no Estado, promoveu encontros com comerciantes e industriais, governistas e oposicionistas, para debater a situação, deliberando-se que três turbinas termoelétricas resolveriam o problema. Graças ao empenho do deputado federal Hugo Napoleão, as três turbinas foram adquiridas mediante financiamento da Caixa Econômica. Infelizmente, José Vitorino Correia saiu do governo sem poder colocá-las em funcionamento.
Ao major Vitorino Correia sucedeu, interinamente, o Dr. Valter Alencar, a 8 de julho de 1946. Este transmitiu, a 3 de setembro de 1946, o cargo ao Dr. Manuel Sotero Vaz da Silveira, sucedido, a 11 de outubro de 1946, pelo Dr. Teodoro Ferreira Sobral, político de prestígio em Floriano e renome em todo o Piauí. A 9 de novembro de 1946, o poder foi transferido ao Dr. Raimundo de Brito Melo, secretário-geral do governo. Reassumindo o cargo, a 9 de dezembro de 1946, o Dr. Teodoro Sobral passou as funções, a 23 de março de 1947, ao professor Waldir de Figueiredo Gonçalves.
 
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A essa época já os piauienses haviam sufragado o nome de José da Rocha Furtado, candidato da UDN, ao governo do Estado, em eleição realizada a 19 de janeiro de 1947. Teve, com o apoio do Partido Comunista Brasileiro, do Partido Libertador e do Partido Trabalhista Brasileiro, 55.650 votos contra os 51.183 dados ao concorrente Jacob Manoel Gayoso e Almendra, do PSD.
O PSD, mesmo perdendo o governo, elegeu a maioria dos 32 deputados estaduais, que integrariam a Assembléia Constituinte. Contando com 17 deputados, contra 14 da UDN e 1 do PTB, o PSD fez presidente da Casa, o deputado Tertuliano Milton Brandão. Depois criou-se o cargo de vice-governador, eleito pela Assembléia, com as funções de presidente do Poder Legislativo. Vice-governador do Estado, o Dr. Osvaldo da Costa e Silva foi elevado ao cargo de presidente daquele Poder. Ao final do mandato, o “barbudo”, como era conhecido o irmão do poeta Da Costa e Silva, bastante decepcionado, abandonou a política completamente.
 
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Quando da convocação da Constituinte, a eleição compreendia dois senadores e os eleitos, a 2 de dezembro de 1945, foram Matias Olímpio, com 55.52 votos, e Esmaragdo de Freitas, com 55.215 votos, ambos pela UDN. Na nova Constituição de 1946, o Piauí, como os demais Estados, passa a ter três representantes no Estado. Esmaragdo de Freitas, um dos esteios da UDN, faleceu em pleno exercício do mandato, no Rio de Janeiro, a 12 de julho de 1946. Então, ficaram abertas duas vagas no Senado. Uma, que fora criada pela Assembléia Constituinte e a outra, decorrente do falecimento de Esmaragdo de Freitas. Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, convidado por Eurípides de Aguiar, concorre a uma das vagas pela UDN, sendo eleito com 51.918 votos. O outro senador eleito foi Joaquim de Lima Pires Ferreira, que obteve 55.010 votos. A UDN ficou com os três senadores e o governador Rocha Furtado.
 
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Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves teve destacada atividade no Senado Federal. “Os seus votos eram bem acolhidos e suas posições bastante admiradas, Eis que cheiravam a seriedade e a interesse público. Não usou da tribuna do poder Legislativo para invectivar os homens ou descer a questiúnculas municipalistas”, salienta Bugyja Brito2.
O professor A. Tito Filho3 informa que Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, “duas vezes senador da República pelo seu Estado (1935 a 1937 e de 1947 a 1951), participou de importantes comissões durante os mandatos eletivos. Acatado, era ouvido com admiração e respeito, tamanha a sua grandeza moral e os temas cívicos e relacionados com importantes problemas nacionais que procurava discutir. Foi um dos maiores oradores parlamentares do Piauí, em todos os tempos, e dos mais admirados do parlamento brasileiro. Teve destacada atuação em conferências e congressos, nos quais se salientava pela seriedade dos pronunciamentos e criteriosa defesa dos interesses piauienses e nacionais.”
Em 1948, designado para relatar matéria tratando da autonomia do Rio de Janeiro, que era inteiramente dependente do Poder Central, fez brilhante estudo e defesa aprovada por unanimidade. Ao terminar, o senador catarinense Ivo D'Aquino, líder do PSD, chegou para ele e disse: “Ilustre senador piauiense Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, há um gravíssimo erro no seu perfil parlamentar. Ali diz que o senhor é engenheiro e geógrafo, mas aqui, nesta tribuna, mostrou-se um grande advogado, de conhecimento profundo em todos os ramos do saber humano. Meus parabéns.” Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, respondeu-lhe: “Não, não, eu sou mesmo engenheiro e geógrafo com muita honra. Quanto à nobre profissão de advogado, apenas dei a minha modesta contribuição ajudando a fundar a Faculdade de Direito do Piauí, no curto governo de Lemos Cunha, de quem fui auxiliar direto. Matriculei-me nela, mas não pude concluir o curso.”
 
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Imbuídos da vontade de instalar uma Faculdade de Direito no Piauí, homens como Heráclito de Sousa e Leopoldo Cunha, começaram a abordar o assunto nas colunas do jornal O Estado do Piauí, conquistando o apoio necessário para arcar com as despesas financeiras iniciais, posto que ela vai nascer particular.
O professor Daniel Paz foi encarregado de celebrar o contrato com o interventor federal no Piauí, capitão do Exército Joaquim Lemos Cunha, que designou o diretor de Agricultura, Terras, Viação e Obras Públicas Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves para tratar do assunto. Com o aval do interventor e o apoio das pessoas influentes da sociedade local, foram realizadas as sessões preparatórias para fundar a Faculdade de Direito do Piauí, no total de quatro, que tiveram início a 14 de janeiro de 1931. Concluídas as reuniões preparatórias, foi designado o dia 14 de abril de 1931 para instalação solene da Faculdade de Direito do Piauí, na antiga Assembléia Legislativa do Estado, na Praça Marechal Deodoro. Compareceram a ato diversas autoridades, entre elas os interventores Joaquim Lemos Cunha, do Piauí, e padre Astolfo Serra, do Maranhão, que veio acompanhado do prefeito de São Luís Carlos Macieira, além das alunas incorporadas da Escola Normal de Teresina, acompanhadas da diretora Firmina Sobreira, dos alunos do Liceu Piauiense.
O primeiro diretor da Faculdade de Direito do Piauí foi o desembargador Francisco Pires de Castro, tendo como vice-diretor Simplício de Sousa Mendes e secretário Joel de Andrade Sérvio, eleitos pela Congregação da Faculdade, formada pelos professores que a constituíram e fizeram parte do seu primeiro corpo docente, entre eles Gonçalo de Castro Cavalcanti, Cromwell Barbosa de Carvalho, Daniel Paz, Luís Mendes Ribeiro Gonçalves, Mário José Baptista, Giovani Costa, Leopoldo Cunha, Francisco Pires de Gaioso e Almendra, Cristino Castelo Branco, Simplício de Sousa Mendes, Antônio José da Costa, Francisco Pires de Castro, Ernesto José Baptista, Higino Cunha, Walmir Abreu, Pedro Borges da Silva, Raimundo de Brito Melo e Álvaro Ferreira.
Na sessão realizada no dia 1 de julho de 1931, os desembargadores Francisco Pires de Castro e Simplício de Sousa Mendes renunciaram aos cargos que ocupavam, sendo substituídos, após eleição, por Daniel Paz e Joaquim Vaz da Costa, respectivamente diretor e vice-diretor. Neste mesmo dia, na sede da Instituição, o diretor Daniel Paz declarou instalados os trabalhos escolares do ano letivo de 1931. A aula inaugural foi proferida pelos professores Joaquim Vaz da Costa, da cadeira de Introdução à Ciência do Direito e Mário José Baptista, da cadeira de Economia Política e Ciência das Finanças, ambas da 1ª série do curso.
Uma das primeiras implicações para o ensino no Piauí decorrente da instalação da Faculdade de Direito foi a antecipação de exames no Liceu Piauiense, pelo Decreto Lei 1.225, de 27 de abril de 1931, a fim de oferecer condições aos interessados de se inscreverem no exame vestibular da Faculdade, marcado para o dia 1 de julho de 1931, que realizou-se sob a direção da Comissão Examinadora composta pelos professores Joaquim Vaz da Costa, Mário José Baptista, Daniel Paz e Cromwell Barbosa de Carvalho.
Para Itamar de Sousa Brito “O apoio do governo do Estado para a instalação do novel estabelecimento de ensino fora expresso anteriormente através do decreto que reconhecia a Faculdade como de utilidade pública, assegurava a validade dos diplomas por ela expedida em todo o território piauiense e atribuía-lhe subvenção anual por parte do governo estadual. Mais tarde, em 1932, o poder público estadual fazia cessão de um prédio na Rua Coelho Rodrigues para funcionamento da Faculdade até então precariamente instalada.
As dificuldades com que se defrontam os mantenedores da Faculdade levou-os a transferir sua manutenção ao governo estadual que, pelo Decreto nº 1.471, de 26 de agosto de 1932, considera a Faculdade como estabelecimento de ensino superior do Estado e assume seu custeio e manutenção. Essa situação implica na necessidade de dar à Faculdade um novo Regulamento, o que foi feito pelo Decreto nº 1.545, de 25 de maio de 1934. Em decorrência desse Regulamento foi eleito em julho do mesmo ano o Conselho Técnico e Administrativo constituído pelos professores Adalberto Correia Lima, Joaquim Vaz da Costa e João Osório Porfírio da Mota. A Lei nº 59, de 27 de julho de 1936, dá nova organização à Secretaria da Faculdade e a Lei nº 129, de 7 de julho de 1937, baixa um outro Regulamento substitutivo do baixado em 1934”.
O corpo docente da Faculdade, por ocasião da formatura da primeira turma em l936, era o seguinte, com as respectivas cadeiras:
1º ANO - Direito Constitucional - Prof. Simplício de Sousa Mendes; Direito Romano - Prof. Antonio José da Costa; Direito Civil - 1ª Cadeira Prof. Cristino Castelo Branco;
2º ANO - Direito Civil - 2ª Cadeira - Prof. Francisco Pires de Castro; Direito Comercial - Prof. Ernesto José Baptista; Direito Administrativo - Prof. Higino Cunha.
3º ANO - Direito Civil.- 3ª Cadeira - Prof. Walmir Abreu; Direito Comercial - 2ª Cadeira - Prof. Mário José Baptista. Direito Penal - Prof. Cromwell Barbosa de Carvalho.
4º ANO - Direito Internacional Privado - Prof. Pedro Borges da Silva; Direito Penal Militar - Prof. Giovani Costa; Medicina Legal - Prof. Francisco Pires de Gaioso e Almendra; Economia Política e Ciências das Finanças - Prof. Daniel Paz; Direito Judiciário Civil - Prof. João Osório Porfírio da Mota.
5º ANO - Direito Internacional Público - Prof. Raimundo de Brito Melo; Direito Militar - 2ª Cadeira - Prof. Giovani Costa; Economia Política e Ciências das Finanças - 2ª Cadeira - Prof. Daniel Paz; Filosofia do Direito - Prof. Gonçalo de Castro Cavalcanti.
A primeira turma de Direito era composta de 42 alunos, todos do sexo masculino. Diferentemente dos dias atuais, a faixa etária de ingresso dos alunos na Faculdade era elevada: 45% tinham entre 30 e 40 anos de idade; 27,5% entre 20 e 30 anos de idade; 22,5% entre 40 e 50 anos de idade, e 5% entre 10 e 20 anos de idade.
A grande maioria era do Piauí (72%), mas havia alunos também do Maranhão (15%), Ceará (5%) e Pará (3%).
Embora prevalecessem os alunos de classes privilegiadas, o nível social mostrava-se diferenciado. As profissões dos pais iam desde fazendeiros, empregados federais estaduais e magistrados, passando por comerciantes, até profissões mais simples como criadores, lavradores, farmacêuticos e guardas.
Dos 42 alunos iniciais, formaram-se, pela ordem alfabética: Anízio Martins Maia, Antonio Martins Filho, Alberto Brito de Resende Veras, Ausônio Neoséculo Carneiro da Câmara, Benedito Fonseca e Souza, Clemente Honório Parentes Fortes, Clodoaldo Cardoso, Heráclito Sousa, João Martins de Morais, João Viana de Carvalho, Luís Lopes Sobrinho, Ney Ferraz, Nelson Cruz, João Soares da Silva, João Clímaco da Silveira Filho, Tirso Ribeiro Gonçalves, João Viana de Carvalho. Eles concluíram o curso em 1935, mas só colaram grau no dia 27 de junho de 1936, após o seu reconhecimento oficial e definitivo. Contudo, por força judicial, pois impetraram mandado de segurança, os bacharéis João Clímaco da Silveira Filho e Alberto Brito de Resende Véras colaram grau nos dias 20 e 31 de dezembro de 1935, e Luís Lopes Sobrinho colou grau também isoladamente no dia 9 de janeiro de 1936. Eles se anteciparam aos demais para poder exercer as funções de advogado e se inscreverem em concursos públicos que estavam se realizando no Maranhão.
Foi paraninfo da turma o professor José de Arimatéa Tito, que era ainda desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí.
A Faculdade de Direito do Piauí, contando com professores os mais gabaritados, dotada de excelente qualidade curricular, tinha entre os seus bacharéis líderes de maior renome nas atividades pública e na produção intelectual piauiense. Não havia evento social de amplitude política, econômica ou cultural sem a participação efetiva daquele educandário.
Porém, com a reforma universitária de 1972, feita pelos militares, com o intuito de reprimir os movimentos estudantis, e sem que houvesse reação por parte dos piauienses, a Faculdade de Direito do Piauí passou a mero Departamento do Centro de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Piauí.
O sistema seriado, que permitia a camaradagem durante todo o curso, foi substituído pelo de créditos, ainda hoje em vigor na UFPI.
 
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Instalado o primeiro estabelecimento de ensino superior no Piauí, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves nele se matricula. As injunções do dever, no desempenho de compromissos funcionais, não permitiram, entretanto, que ele concluísse o curso, como tanto desejou.
“Guardo, com carinho, o cartão da matrícula, como lembrança da tentativa frustrada, de mais uma ilusão perdida, que, apesar de tudo, ainda me canta, por vezes, na alma, com esperança de súbito renascida”, disse ele ao receber o título de Doutor Honoris Causa, em sessão solene realizada a 9 de fevereiro de 1953, pela Faculdade de Direito do Piauí.
 
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A 29 de junho de 1953 tomou posse como diretor-geral do DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), nomeado pelo presidente Getúlio Vargas, por indicação direta do amigo ministro da Viação e Obras Públicas José Américo de Almeida.
Para agilizar serviços do órgão, abriu licitação para a compra de 100 caminhões. Antônio Gaioso Castelo Branco, filho do desembargador Manoel Castelo Branco, representante da Ford, no Piauí, e o seu gerente Antônio Ramos, procuram um dos sobrinhos mais queridos de Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, o professor Afrânio Nunes, para que, mediante boa propina, este conseguisse que ele desse a Ford como vencedora. O professor Afrânio Nunes replicou na hora: “Vocês estão loucos, o tio Luiz me botaria para fora de sua sala e, talvez, nunca mais falasse comigo.”
Os dois saíram do encontro desanimados, mas não vencidos. Foram a cada membro da comissão de licitação e tiveram com eles conversa de pé de ouvido. Resultado, dias depois a Ford ganha a licitação.
Tempos depois, em conversa com Antônio Gaioso, o professor Afrânio Nunes ficou sabendo que todos da comissão de licitação receberam bola, menos o seu tio, que em momento algum imaginou que a licitação tinha sido fraudada. “Quem é honesto pensa que todo mundo é honesto. E assim era o meu tio”, ressalta o professor Afrânio Nunes.5
 
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Professor, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves lecionou Matemática e Física no Colégio 24 de Fevereiro, em Floriano, no Liceu Piauiense, Escola Normal Oficial e no Colégio Areolino de Abreu, onde deixou registrado o brilho da sua inteligência e cultura.
 
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Jornalista, teve intensa atividade na imprensa piauiense, escrevendo sobre os mais variados assuntos. Colaborou com os seguintes jornais: A Imprensa; O Lírio (1909); Estado do Piauí; Correio de Teresina; Correio do Piauí; O Momento e, ainda, o Diário Oficial.
Junto com Jônatas Batista, Edson Cunha e Lucídio Freitas, homens de letras, criou a revista Chapada do Corisco, onde escrevia uma crônica sob o título “Crônica Mundana”. Essa revista não teve longa vida por conta da colaboração de Clodoaldo Freitas, pai dos poetas Lucídio e Alcides Freitas. Além de historiador, grande jornalista e grande escritor, era considerado uma espécie de chefe literário de todos. Tinha um romance inédito que escreveu no Pará, quando esteve lá trabalhando para uma empresa do Estado, e pediu que o publicasse, em forma de folhetim, na revista. Foram publicados alguns capítulos. Mas, um dia foram chamados a atenção porque o romance tinha páginas indecorosas. Clodoaldo escreveu um dialogo um tanto livre entre moças num quarto e a revista, que era, principalmente, para a distribuição junto às moças, não pôde continuar porque os pais que leram o artigo não queriam mais aquela publicação em casa. A revista era publicada em papel cor de rosa.
Dessa revista, afirma Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, nasceu a idéia da criação da Academia Piauiense de Letras.
Lucídio Freitas, que morava em Belém do Pará, onde se casara e trabalhava, tendo sido professor Catedrático de Teoria e Prática do Processo Civil e Comercial na Faculdade de Direito do Pará, além de ter sido juiz criminal. Estava passando tempo em Teresina, leu a revista, se entusiasmou com o movimento em torno dela, e, com o pai Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, Antônio Chaves, Celso Pinheiro, Fenelon Castelo Branco, Jônatas Batista, Edson Cunha, João Pinheiro, e Baurélio Mangabeira, criou a Academia Piauiense de Letras, a de dezembro de 1917. Depois de criada a Academia, Lucídio Freitas se encontra com Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves e diz que ele era um dos membros da agremiação. Surpreso, exclama: - “Mas Lucídio, eu sou um indivíduo que tenho amor às letras, mas não tenho as letras como ofício, eu gosto das letras, admiro as letras como arte e uso-as como meios de comunicação.” Lucídio Freitas replicou: - “Não senhor, você está escolhido. Como a academia precisa de vida e de movimento, você vai ser recebido na próxima sessão.” Com de 22 anos de idade, tomou posse na Academia, cadeira nº 19, cujo patrono é Antônio José Sampaio, falando sobre um engenheiro no meio daqueles homens de letras, e procurando mostrar que a matemática também era poesia.
Três anos depois, em 1920, em um baile realizado na casa de Antônio Ferraz, encontrou o poeta Lucídio Freitas, já bastante doente, que dançou, pulou, bebeu com excessiva e esfuziante animação. Saiu da festa ao amanhecer, com os últimos foliões. Preocupado com a doença do amigo, tudo fez para salvá-lo. Foi ao governador João Luís Ferreira, contou o estado de necessidade do pai Clodoaldo Freitas, que, embora desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí, não tinha condições financeiras para o tratamento do filho. João Luís Ferreira imediatamente providenciou condições para que o desembargador Clodoaldo Freitas pudesse suprir essa carência. Mas, já era tarde, houve recaída da doença, com agravadas complicações. Lucídio Freitas veio a falecer no dia 14 de maio de 1921.
 
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Ao ser contemplado com a sua parte na herança dos pais, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves abriu mão de todo o patrimônio recebido em favor das duas irmãs - Etelvina e Celecina. Fez questão de ficar apenas com um terreno, localizado entre as Ruas Álvaro Mendes e Governador Arthur de Vasconcelos, xis com o prédio do jornal O Dia, e, assim mesmo, para doá-lo à Academia Piauiense de Letras, a fim de que ali fosse construída a sede da entidade. O terreno, durante muito tempo sem uso, hoje serve de estacionamento para os membros do Ministério Público Estadual. Preside a APL o historiador e advogado Reginaldo Miranda.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves incentivava o professor A. Tito Filho, presidente da Academia Piauiense de Letras, a dotar a entidade de uma sede própria porque ela vivia instalada nas casas de seus presidentes ou, quando muito, em casas alugadas, o que dificultava, sobremaneira, o seu funcionamento. Por isso doou o terreno para a Casa de Lucídio Freitas. Mas, a sede própria veio de outra maneira. Vejamos.
Na Avenida Miguel Rosa, 3.300, funcionava a Secretaria da Cultura e a Fundação Cultural do Piauí, na gestão do deputado estadual, professor Wilson de Andrade Brandão, no governo Lucídio Portella (15.3.1979 a 15.5.1983). Um dos sonhos do secretário Wilson de Andrade Brandão era dotar a Biblioteca Pública Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho de uma sede própria e moderna.
Com muitas idas a Brasília, conseguiu os recursos necessários e comprou terreno na Avenida Marechal Castelo Branco. Deu início às obras. Contudo, houve mudança de governo. Assume o governador Hugo Napoleão do Rêgo Neto (15.3.1983 a 14.5.1986), membro daquela casa, como era também o seu pai, o embaixador Aluízio Napoleão do Rêgo, de saudosa memória. É nomeado secretário da Cultura, Desportos e Turismo o deputado estadual Jesualdo Cavalcanti Barros, homem operoso, de larga visão e grande poder político (hoje membro da Academia Piauiense de Letras).
Uma de suas primeira providências foi mandar restaurar o prédio da antiga Assembléia Legislativa do Estado, que funcionava na Praça Deodoro ou da Bandeira, entre os prédios da Prefeitura e da Comepi - Companhia Editora do Piauí (atualmente extinta). Nele, transformado em Palácio da Cultura, instalou a Secretaria da Cultura, Desportos e Turismo. A Fundação cultura do Piauí foi extinta. No prédio, foram instaladas diversas entidades que, igualmente à Academia Piauiense de Letras, perambulavam de casa em casa alugada, quando muito. Entre elas, a UBE-PI - União Brasileira de Escritores no Piauí e a FETAPI - Federação de Teatro Amador do Piauí.
A Assembléia legislativa do Estado foi instalada no prédio que seria da Biblioteca Pública Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho, adaptado, claro, para abrigar a nossa nobre classe política. Antes, com o nome de Palácio Anísio de Abreu, em homenagem ao saudoso governador do Estado (1.7.1908 a 6.12.1909), falecido no exercício do cargo. Atualmente, sob a denominação de Palácio Petrônio Portella Nunes, também governador do Piauí (31.1.1963 a 12.8.1966), falecido no cargo de ministro da Justiça, a 6 de janeiro de 1980. A Biblioteca Pública Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho, que eu tive a honra de dirigir, ainda que por curto espaço de tempo (10 de dezembro de 2001 a 7 de março de 2002, no segundo governo Hugo Napoleão, por convite especial da professora Aldenora Mesquita, presidente da Fundação Cultural do Piauí), ainda hoje está mal instalada no prédio construído originalmente para abrigar a primeira escola primária de Teresina - o Grupo Escolar Abdias Neves, depois servindo de sede para a antiga Faculdade de Direito do Piauí, com localização na Praça Demóstenes Avelino, mais conhecida como Praça do Fripisa, no antigo Alto da Moderação.
O prédio onde funcionava a Secretaria da Cultura e Fundação Cultural do Piauí foi doado para a Academia Piauiense de Letras. Hoje, dotada de um amplo e confortável auditório, que leva o nome do professor e acadêmico Wilson de Andrade Brandão, construído que foi em sua gestão. A professora Lurdinha Brandão contribuiu enormemente para a construção do referido auditório, suprindo a ausência do marido que, acamado, bastante doente já, se encontrava sem condições de conduzir os trabalhos.
 
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Luiz Mendes Ribeiro foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense, com destacada atuação junto à entidade, atualmente presidida pelo advogado e historiador Fonseca Neto, professor da Universidade Federal do Piauí. Foi membro também do Cenáculo Piauiense de Letras, ocupante da cadeira nº 13, cujo patrono é Sebastião Vasconcelos. E do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, além de membro vitalício do Conselho Diretor do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro por ter sido figura de proa na construção da sede própria do órgão. Ele conta com se deu a construção do Clube de Engenharia: “Com a abertura da antiga Avenida Central, edificou, para nova sede, na esquina deste logradouro com a Rua Sete de Setembro, belo prédio de quatro pavimentos, em estilo neoclássico. Com o desdobra-mento dos trabalhos, apresentou-se cada vez mais angustiosa a falta de acomodações. Animamo-nos os diretores de então a vencer as dificuldades. E iniciamos a campanha para a construção da nova sede. Encontramos firmeza e dedicação em Edison Passos, presidente da sociedade. Solicitamos uma audiência especial ao presidente Vargas. Expusemos-lhe a situação, não propriamente como quem pede, mas como quem se julga com direito a atenções, pela colaboração prestada ao país na solução de problemas de maior complexidade e importância. E da reunião nos retiramos com a autorização a Henrique Dodsworth, prefeito do então Distrito Federal, para que se doasse ao Clube um dos lotes da Esplanada do Castelo. Com a venda, a bom preço, desta área e aquisição de outra, adjacente ao antigo prédio, iniciamos corajosamente as obras. Com os recursos acumulados se mostrassem ainda deficientes ao plano em execução, levantamos um empréstimo junto ao IAPI e dirigimo-nos, com êxito, ao Legislativo federal, obtendo, como auxílio, alguns milhões de cruzeiros. De quatro pavimentos passou a ter o edifício, em superfície territorial muito mais ampla, vinte e seis, dos quais aluga dezoito, obtendo frutos para saldar o débito contraído e adquirir os terrenos da sede campestre de Sermambetiba, já em preparação, medindo cerca de 700.000 m2.”
 
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O professor A. Tito Filho6, um dos seus mais íntimos amigos, escreveu sobre ele: “Poeta, jornalista, orador parlamentar, conferencista, crítico literário, cientista, geógrafo, historiador, higienista, estudioso da sociologia, urbanista, professor de amplos recursos, economista - não se sabe que mais admirar nesse homem de acendrado amor à vida democrática, ao Piauí e à sua pátria - democracia, terra natal e nacionalidade que ele tem sabido servir em todos os setores da vida pública. Digno entre os mais dignos, caráter sem jaça, leal, correto nas atitudes, sempre se colocou ao lado da verdade e das causas nobres.
Uma das mais pujantes afirmações intelectuais do Piauí em todos os tempos. Prende e convence os auditórios. Palavra fácil, altiva, protótipo do orador feito e perfeito. De tudo que escreve, com graça, períodos puros, irradia beleza, grandeza mental, segurança no afirmar e no discernir. Sabe esgotar os assuntos de que trata sem cansar o ledor, antes convocando-o mais ainda para a leitura, porque desta derivam lições de impecável conteúdo e de notável propriedade do vocabulário usado. Frases límpidas, cheias, sonantes. Estilo de arte rigorosa. Com mais de oitenta anos, está dono ainda de lucidez impressionante, escrevendo com letra à semelhança de desenhos de fino lavor. Impressionante figura humana, extraordinária individualidade no conceito geral dos que o conhecem e em razão de conhecê-lo aprendem a admirá-lo”.
 
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O acadêmico Bugyja Brito7, assim traça-lhe o perfil: “Poucos seres humanos, que já conheci ou conheço, podem ter o status de Ribeiro, que se projeta superiormente nos 3 aspectos que integram a sua existência: físico, moral e intelectual”.
Intelectualmente o seu valor pode subdividir-se em partes, começando como homem de letras propriamente dito, que prosava e poetava à maneira de um expert que se admira, passando pela atividade de professor de Matemática que não conhece barreiras aos cálculos e números quando ensina, e acabando como elaborador (projetista) de plantas e desenhos necessários à construção de próprios e de estradas.
O seu espírito criador e a sua fértil imaginação são duas qualidades aliadas à cultura que fez, tanto literária quanto científica; e, dentro desse complexo mental, ele pode ser considerado um portador de tecnologia pessoal. Todavia, como homem de letras, escrevia, quando pertinente o assunto respectivo, trabalhos que podiam expressar a característica de um romântico ou a severidade de um prosador - filósofo.
Como romântico, ou melhor, como um prosador da Escola Realista, seria capaz de escrever deste modo: ... ‘Ao longe, num dos extremos, com a quebrar a monotonia de íngremes encostas, é noite ainda. Palpitam estrelas no alto. Em mansas vozes sussurrantes, o vento envolve de meigas carícias a terra adormecida.
Rolam, murmurosas, as águas de um regato, a chorar, talvez, com saudade da fonte onde nasceram. Tudo é paz no sereno recolhimento das cousas. Pouco a pouco, porém, se vão desfazendo as sombras.
 
As estrelas dormentes, fatigadas
Cerram à luz do dia
As misteriosas pálpebras douradas.
Vai despontando o rosicler da autora.
 
Acende-se o horizonte de púrpura e ouro em deslumbrante espetáculo de indescritível encantamento. Lá, além, avulta majestoso e reluzente o vértice da serrania. E tudo acorda em festas, unindo-se os cânticos da terra às luminosidades que do alto se derramam.
Das bandas do nascente, notam-se, em movimento, com que manchas indistintas. Ei-las que se definem mais nítidas e crescem e se aproximam.
São moços, em bando alegre e animoso. Correm acompanhando o sol, sob o fascínio da luz. Não esmorecem, não descansam, não esbarram. Investem contra a montanha, sem vacilação. Não temem as dificuldades da escalada. Arrostam, sem desfalecimentos, todos os obstáculos, com inquebrantável determinação de vencer. Vingam, por fim, um socalco e aí comemoram jubilosos ao término de mais uma caminhada os triunfos alcançados.
Declina o sol. Entardece. Fecha-se a pálpebra do dia. Corre célere a noite. E, no tempo, apenas uma estação de rápida demora. De novo a claridade reponta no levante, como crepúsculo indistinto de alvorada que vem perto...’
Por ter exercido várias funções técnicas, administrativas, políticas e educacionais, quando desenvolveu múltiplas atividades que lhe tomaram o tempo de que poderia dispor para se entregar, por exemplo, ao cuidado de editar os seus trabalhos, não é farta a confecção, e conseqüente publicação de livros da sua autoria. Conferências, artigos de jornais, discursos, estudos históricos, pareceres, relatórios etc, ao lado de serviços desempenhados na direção de repartições públicas, de secretarias de departamentos, de consultorias e de conselheiro em órgãos de governos, de representante do Estado do Piauí em congressos, de professor e de parlamentar (ele foi duas vezes senador da República, de 1935 a 1937 e de 1847 a 1951) fazem parte do seu patrimônio intelectual. Todavia, deu à publicidade um livro, que saiu em Brasília, no ano de 1980, cabendo a confecção do serviço gráfico à Editora do Senado da República. Trata-se de uma obra com 473 páginas, divididas em três partes: Falas e Conceitos (1ª), Trilhas Seguidas e Rumos Vislumbrantes (2ª) e Poesias (3ª), dentro das quais está algo da sua produção no campo da literatura, da tecnologia e da ciência. Quem lê essa obra de 473 páginas não deixa de encher-se de entusiasmo pela descrição que existe. Nela aparece o Brasil na sua riqueza e esplendor, capaz de contribuir para solução de assuntos internacionais de interesse público. Até os versos, simples e ternos com que as musas o distinguiram, enriquecem as páginas do Impressões e Perspectivas, que é o título do livro.
Como a Bahia ostentava o privilégio de ser um alto núcleo de cultura nacional, é certo que os estudantes das suas escolas secundárias e superiores se impunham como intelectuais de 1ª plana. Ribeiro, por exemplo, lia o francês com desenvolto, sabia de cor versos de Guerra Junqueiro e de outros grandes poetas, conhecia obras científicas e literárias; através da língua francesa foi ao âmago do Direito Romano e da História Universal.
Moralmente ele é o varão prudente e defensor da causa pública. O dinheiro que manejou com poupança e correção, pertencente aos orçamentos estadual e federal, assinala-se como exemplo a ser seguido. A sua vigilância no gasto ou na aplicação de numerário nunca foi posta em dúvida, mesmo entre a oposição ferrenha, que investe, geralmente com malignidade e má fé, às pessoas que trabalham em obras públicas.
Ao moral se inclui à poupança ou à economia dos seus próprios salários e vencimentos, dos quais ele destacava, para amealhar, mensalmente, o percentual de 10%. Ele seria, em matéria econômica, um sensato, contribuindo para si próprio no futuro, ou seja para compor uma reserva na velhice.
Umas das facetas magníficas da sua existência moral era o comporta-mento perante a sociedade.
Nunca julgava pelas aparências e, para ser justo na apreciação de atos de seus semelhantes, era um controlado, psiquicamente falando. Esse equilíbrio psíquico deve ter sido a causa da sua simplicidade como cidadão, da sua candura como homem público e de seu espírito de conciliação nas contendas de família e de amigos.
Chegou a conhecer o perdão porque o praticava toda vez que um ofensor, em sua maldade, o atingisse. Há um caso típico praticado por um governador do Piauí, que lhe fez uma injustiça. E quem era o governador? Não seria um homem do Amarante que lhe devia favores quando na juventude precisou de bons ofícios para galgar posições? ... O caso ou injustiça prende-se a dinheiro, pagamento de remuneração em cargo público a um aposentado, - remuneração essa feita na conformidade dos preceitos da Lei.
E qual foi a reação de Ribeiro: Perdoou quem lhe feriu naquilo que era sagrado, sagrado por ser, na concepção administrativa brasileira, alimento intransferível. Chegou a peticionar ao governador, por duas vezes, mostrando gentilmente o seu direito, mas não conseguira provimento.
E o importante de tudo era que ninguém sabia a razão do fato que in-fluiu no espírito do governador... Uma resposta para um amigo que o procurou para conversar sobre o erro do governador, foi a seguinte, dada nesta expressão em língua francesa e que certamente significava o perdão: ‘L’homme le plus libre est celui qui n’a pas de passions’. (O homem mais livre é aquele que não tem paixões). O emprego do ditado francês não lhe veio por vaidade (para mostrar sapiência), mas deve na ocasião ter lhe saído do pensamento, por acaso. Ribeiro era simples e não tinha hábitos imodestos.8
Fisicamente equilibrava-se dentro de preceitos anatômicos que podem ser gabados. A começar pela altura, que não passava de 1,68 e que ostentava as feições fidalgas de um indivíduo de raça branca, o seu físico deu provas de resistência e de representatividade, porquanto Ribeiro viveu 89 anos e 8 meses, isento de mazelas distorsivas.
Sabe-se que não é fácil a união das 3 qualidades (física, moral e intelectual) num indivíduo.
De relance podemos citar, agora, no Brasil, Joaquim Nabuco e Clóvis Bevilaqua, nomes que vêm à memória quando escrevo este trabalho mas que não excluem a inexistência de outros nomes pelo País”.
 
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O livro Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves - Cartas para A. Tito Filho, que ora de edita, tem três divisões: Inicialmente, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves traça o perfil de sete membros da Academia Piauiense de Letras: Honório Portela Parentes, Gonçalo de Castro Cavalcanti, Simplício de Sousa Mendes, Antônio Chaves, Artur Passos, Matias Olímpio de Melo e Pedro de Alcântara de Sousa Brito. A lembrança dos perfis foi por conta do centenário de nascimento dos referidos acadêmicos.
Depois, em mais uma prova de amor à sua terra natal, destaca-lhe os poetas, dando, sobretudo, o testemunho da inteligência das mãos do Da Costa e Silva que, além de ser o grande poeta de seu tempo (e dos tempos atuais), ainda desenhava, pintava e fazia esculturas com engenho e arte.
Com conhecimento de causa, acompanha o desenvolvimento material do torrão natal, que conheceu tempo de glória e hoje vive quase que completamente do passado.
Sobre este estudo a respeito de Da Costa e Silva, comenta Bugyja Brito9:
“Acredita-se que tenha sido o último trabalho literário de Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves uma apreciação crítica sobre Da Costa e Silva, publicada na revista Presença, que circulou em edição especial, na cidade de Teresina, nos primórdios em 1985.
A revista trouxe em suas páginas uma espécie de poliantéia, à figura inconfundível do poeta Da Costa e Silva, sendo um dos colaboradores da mesma revista, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, ou simplesmente Ribeiro - como devemos tratá-lo de agora em diante na presente biografia, - que se torna engrandecida em razão das altas qualidades do biografado.
O trabalho, a que aludimos, foi escrito em junho de 1984, e, daí, a 4 meses, os deuses (que o leitor me permita usar tiradas de sabor retórico, à semelhança do classicismo de antanho!) arrebataram Ribeiro para paragens que nós, aqui na Terra, ainda desconhecemos. O arrebatamento ou roubo, por parte dos deuses, deve ter este motivo: o ciúme da Terra - planeta que abrigava Ribeiro; e, no caso, repetia-se o fenômeno do ciúme quanto ao Cantor do Sangue - o grande Da Costa, desaparecido em 1950.
O mês de outubro marca, assim, para Ribeiro, o epílogo de uma existência que se apagou da convivência terrena. A Terra perdeu, quando gravitava na sua missão incessante, uma unidade de luz fulgente que a iluminava...
Em razão do exíguo tempo decorrido (de junho a outubro de 1984) é que se pode calcular que o trabalho sobre Da Costa, de Ribeiro, foi o derradeiro que este publicara.
Todavia, foi um trabalho tão belo, tão vigoroso, tão justo e tão convincente que o citamos agora. Reproduzindo dois trechos finais ou pedaços que, embora plangentes, não deixam de ter aplicação apropriada:
(1º trecho): A morte surpreendeu-o (Ribeiro refere-se a Da Costa) a meio do caminho. As sombras empanaram-lhe inesperadamente a claridade humana, mas permaneceu-lhe luzente a poesia magnífica e imorredoura.
Ribeiro, citando Martins Napoleão, condena ou deuses que se tornaram invejosos.
Mas só invejosos? Não também vingativos? E afirma, encerrando o trabalho:
(2º trecho): Vingativos e invejosos, eles emudeceram-lhe a sub-estrutura frágil e perecível, mas foram impotentes para ofuscar a sidérea cintilação dos seus versos que tanto nos envaidecem e iluminam e que serão motivos de justa glorificação da posteridade, pelos séculos dos séculos.
Quanto aos dois trechos citados, de Ribeiro, sobre Da Costa, eu gostaria de ter permissão para fazer uma aplicação naquilo que coubesse... naquilo que o leitor entendesse acertado”.
 
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Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves analisa pacientemente, em suas cartas, os informativos da Academia Piauiense de Letras, um por um, página por página. Comenta os livros recebidos, de acadêmicos ou de escritores, que inseridos, pelo professor A. Tito Filho, em seu sistema de assinaturas, uma das fontes de renda daquela instituição.
Mesmo sabendo que suas cartas poderiam ser publicadas um dia, como acontece agora, conta particularidades íntimas, como o caso de não poder ter filhos e da sua vontade de deixar herdeiros. “Um filho, bom, mau, qualquer que seja, é sempre para o pai o maior tesouro”, confessa.
Embora não fosse de tecer críticas pessoais, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, em uma das cartas ao professor A. Tito Filho, censura a maneira como o romancista de Oeiras e seu parente O. G. Rêgo de Carvalho se comportava quando convidado a ingressar na Casa de Lucídio Freitas. Não demonstrava qualquer interesse. Mas, a cada nova vaga, novo convite. Por muito insistirem, uma dia O. G. Rêgo de Carvalho concordou com a sua inscrição, mas disse que não iria, de forma alguma, pedir voto. Tornou-se imortal, ocupando a cadeira de nº 6, antes ocupada por Petrarca Rocha de Sá, cujo patrono é o poeta Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco.
 
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Autor de inúmeras obras, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves publicou: Problemas Municipais; Fases Biológicas; Magistratura e Justiça; Tipo de Colônia Agrícola para o Nordeste; Mapa do Piauí; A Servidão da Inteligência no Economismo Contemporâneo; Educação e Democracia; Construções Escolares no Piauí; A Escravidão e o Movimento Abolicionista; Política do Piauí (Im-prensa Nacional do Rio de Janeiro, 1948); O Babaçu na Economia Nacional; Fretes Marítimos Internacionais; Viagem de Inspeção ao Nordeste; Santos Dumont - Glória e Amargura; Joaquim Ribeiro Gonçalves - poeta, político e parlamentar; Paulo de Frontin; Maurício Joppert - engenheiro e professor; Le Maurício Corbusier - Luz Imperecível; A Formação do Engenheiro e sua função Social; Impressões e Perspectivas (trabalho organizado pelo professor A. Tito Filho, e publicado pelo Senado Federal, em 1986), dentre outros. Foi incluído na coletânea Os Mais Lindos Sonetos Piauienses (1940) e na Antologia de Sonetos Piauienses (1972), ambas organizadas por Félix Aires.
 
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Em 2010 foram publicados O que os netos dos vaqueiros me contaram - o domínio oligárquico no Vale do Parnaíba, de autoria do historiador Manuel Domingos Neto, que reuniu no livro, editado pela Annablume, entrevistas feitas com os ex-governadores do Piauí Pedro Freitas e Rocha Furtado e, também, com Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves. E, pela editora Zodíaco, de minha propriedade, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves - carta a A. Tito Filho, que agora, em 2011, sai em segunda edição, revista e ampliada.
 
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Títulos honoríficos: Medalha de Ouro e diploma do Mérito Rodoviário, conferido pelo Departamento de Estradas de Rodagem do antigo Estado da Guanabara; Medalha de Ouro e diploma de Honra ao Mérito (Federação Nacional de Engenheiros); professor honoris causa da Faculdade de Direito do Piauí; Cidadão Carioca; diploma de Serviços Relevantes ao País, concedido, em nome do Governo, pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e agronomia. Sócio da Societé des Engeniers de France.
 
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Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves faleceu no Rio de Janeiro, a 5 de outubro de 1984, aos 89 anos de idade.