Ícone e pilar da música norte-americana, morto em setembro de 2003, Johnny Cash é um daqueles que começou a ter projeção mundial apenas depois da morte, principalmente pelo filme “Johnny & June” (Walk the Line) de 2005. Porém, nos Estados Unidos, sempre foi um herói um tanto marginal, com uma série de altos e baixos.

Muitos me perguntam sobre este mito e sobre como avaliar a importância de Cash, já que sua música é tão plural que pode ser pouco compreendida, dependendo do disco que for ouvido pela primeira vez; a boa oportunidade, no entanto, surge agora com “From Memphis to Hollywood: Bootleg II”, que traz mais de 50 canções raras do arquivo de Johnny, do período de 1954 a 1969.

A crueza das gravações do início de carreira revela o potencial do que seria o simbólico “The Man in Black”, sem o verniz da modernidade, nem artifícios de remasterizações pasteurizadas; o disco começa nos transportando para uma época na qual o ato de realizar fazia parte do contexto; as gravações ao vivo na rádio, que abrem o disco, soam rústicas para ouvidos acostumados com a pseudo pureza digital, mas vale o exercício de pensar como chegavam rasgando nos sóbrios lares e rádios da época.

A partir da 12ª faixa, começam as antigas “demos” de Cash, gravadas provavelmente na metade dos anos 50, já que a certeza da origem do material é obscura. Mais uma vez, emociona ver como Cash, timidamente, começava a subverter o country. No final do CD 1, algumas raridades do antológico “Sun Studio”, algumas produzidas pelo próprio Sam Philips, o homem cujos ouvidos são os mais invejados pelos amantes do inicio do “rock’n’roll” e nesta hora a qualidade de gravação já se alia ao conteúdo.

O segundo CD, que traz os anos 60, pode ser comparado ao desenrolar de um livro, quando nosso herói nos redime de tanto sofrimento, tudo visto na sua saga inicial; assim como “Jean Valjean”, Cash, aqui, superou seu destino e já faz parte do brilho local; suas músicas já são a paisagem da América dos anos 60; um novo country que até hoje revigora a música pop e influencia nomes que vão de Bob Dylan a banda Wilco.

Há muitos e bons materiais de Cash: boas caixas, a série “American Recordings” produzida por Rick Rubin, suas históricas gravações nas prisões, mas este CD traz algo de especial; uma linha do tempo fascinante, que vai do rabisco ao retrato acadêmico, algo que poucos artistas da música poderiam vivenciar, principalmente hoje em dia, que não existe mais a gravação rústica como imposição.

Portanto, este é o tipo de disco que não se deve dar de presente a ninguém, e sim dar de presente a si mesmo; uma descoberta e paixão pessoal, uma viagem solitária como pregavam tantas canções do country americano. Então, ligue o som, fique sozinho e boa viagem!"

(http://blogdomaia.blog.uol.com.br/arch2011-02-20_2011-02-26.html)

 

 

 

SOBRE O AUTOR DO ARTIGO

ACIMA TRANSCRITO:

 

"Roberto Maia é jornalista e engenheiro, com especialização em História da Arte e Chief Information Officer. Dedica-se à relação entre comunicação e tecnologia. Atua como jornalista na área cultural há 30 anos. Trabalhou durante 14 anos como Diretor Artístico da Brasil 2000 FM. Foi o representante oficial no Brasil do CMJ (College Media Journal de New York), o maior complexo de música alternativa do mundo".

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johnny cash june carter folsom prison

"Johnny Cash and June Carter at Folsom Prison, 1968"

(http://theselvedgeyard.wordpress.com/2009/11/06/you-can-never-have-enough-cash-johnny-at-folsom-prison-1968/)