[Maria do Rosário Pedreira]

Uns dias antes de sair para as livrarias um livro maravilhoso cuja acção decorre numa escola de elite da Opus Dei (escreverei aqui sobre ele oportunamente), falo de um artigo que guardei sobre a quantidade de livros portugueses que estão proibidos por esta instituição e só tive tempo de ler agora. Os livros sempre foram malquistos por certas organizações e muitos deles, como todos sabem, foram queimados pela Inquisição e, mais tarde, pelos nazis que deles fizeram fogueiras públicas. A Igreja também chumbou a leitura de obras que a ofendiam ou iam contra os seus dogmas, e a escola fascista que frequentei durante a ditadura censurava os «fi de puta» de Gil Vicente nos livros escolares. Mas eu desconhecia que a Opus Dei em Portugal tivesse um index tão extenso (mais de 30 000 livros!) de  proibições e que, entre as mais ou menos evidentes, como o Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, ou A Relíquia e o Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, constassem obras de Lídia Jorge, como A Costa dos Mumúrios ou O Dia dos Prodígios,não se terão mesmo enganado? Faz-me lembrar há muitos anos uma livraria católica em Évora que não quis comprar exemplares de O Primeiro Éden, de David Attenborough, por achar que o Éden era outra coisa, e os censores do Antigo Regime que confiscaram uma biografia de Nijinski só porque lhes cheirou a russo. Brinco, mas não devia...