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[Flávio Bittencourt]

Genocídios anteriores ao Holocausto (1)

Namíbia, sudoeste da África.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"ESTE ESFORÇO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO É DEDICADO

AOS PEQUENOS ALUNOS QUE FORAM ASSASSINADOS

NOS ESTADOS UNIDOS QUANDO ESTAVAM APRENDENDO,

E A TODOS OS SEUS MESTRES, OS QUE FORAM BARBARAMENTE

MASSACRADOS QUANDO ESTAVAM TRABALHANDO E AOS QUE

ESCAPARAM COM VIDA NAQUELE CENÁRIO DANTESCO (MAS,

EVIDENTEMENTE, AGORA PRECISAM DE ATENÇÃO PSICOLÓGICA) -

E, EM MEMÓRIA, À SENHORA GENITORA DO HOMICIDA LOUCO,

QUE, PELO MENOS, NÃO VIU SEU FILHO PRATICANDO OS CRIMES QUE

PRATICOU, POR TER PERECIDO PRIMEIRAMENTE"

 

(Coluna "Recontando...")

 

 

 

 

EXERCÍCIOS RECOMENDADOS AOS ALUNOS DO ANTIGO CURSO

PRIMÁRIO (4ª SÉRIE)/SÉRIE-DE-ADMISSÃO-AO-GINÁSIAL/GINASIAL,

PRIMEIRO GRAU OU ENSINO FUNDAMENTAL - ou do segundo grau, se

houver essa lacuna no conhecimento dos estudantes (com adaptações

nos exercícios propostos) -, BEM COMO A ESTUDANTES ESTRANGEIROS,

DE QUALQUER IDADE, QUE APRENDEM O IDIOMA PORTUGUÊS:

 

SENHOR(A) PROFESSOR(A):

SE O AMIGO OU A AMIGA QUISER APLICAR UM BOM

EXERCÍCIO AOS ALUNOS (A ATIVIDADE É AQUI RECOMENDADA

PARA O ÂMBITO DO ENSINO FUNDAMENTAL), CONTE OU SOLICITE

A UM PROFISSIONAL CONTADOR DE ESTÓRIAS QUE VENHA A CONTAR

A FAMOSA NARRATIVA A FESTA NO CÉU.  EM SEGUIDA, DISTRIBUA

AOS SEUS ALUNOS CÓPIA DA NOTÍCIA DE MARÇO DE 2011,

TRANSCRITA AO FINAL DO SEGUINTE LINK (CONSTA NESSA

NOTÍCIA JORNALÍSTICA [VERDADEIRA] UMA RELAÇÃO DE

BICHOS DA FLORESTA):

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/animais-soltos-por-orgaos-de-protecao-ambiental-na-floresta-amazonica,236,8370.html

[esse link foi elaborado recentemente neste espaço educacional Entretextos, um portal

cultural-jornalístico que se dedica à crítica literária e à filosofia dos costumes].

 

EM SEGUIDA, PEÇA UMA REDAÇÃO CUJO TÍTULO PODE SER,

SE FICCIONAL:

"FESTA NA FLORESTA AMAZÔNICA" [LEIA, POR FAVOR,

AO FINAL DESTA MATÉRIA, UM CONTO DO PROF. DR. JOSÉ RIBAMAR

BESSA FREIRE, DA UERJ E DA UNI-RIO, NO QUAL OS PERSONAGENS

SÃO BICHOS AMAZÔNICOS]);

 

OU: "ALGUNS ANIMAIS DA FLORESTA AMAZÔNICA", SE O (A)

COLEGA PREFERIR APLICAR UM EXERCÍCIO MENOS CRIATIVO E

MAIS DOCUMENTAL-EMPÍRICO (há, na tabela, os respectivos

nomes científicos de todos os bichos ali relacionados);

 

DEPOIS, PEÇA PARA OS ALUNOS QUE SEJA FEITA UMA LEITURA DO

TEXTO ABAIXO (NESTA MATÉRIA AQUI APRESENTADA, SOBRE A 

NAMÍBIA) TRANSCRITO E QUE, EM SEGUIDA, SEJAM  RESPONDIDAS

AS SEGUINTES PERGUNTAS, TODAS ELAS DE CARÁTER ANTI-RACISTA

E ANTI-COLONIALISTA:

 

1) EM QUAL CONTINENTE SE SITUA A NAMÍBIA? EM QUAL REGIÃO DESSE CONTINENTE

SE SITUA ESSE PAÍS?

2) QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS RIOS DA NAMÍBIA?

3) QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS RIQUEZAS NATURAIS DESSE PAÍS?

4) QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS RIQUEZAS CULTURAIS DESSE PAÍS?

5) O QUE É PATRIMÔNIO IMATERIAL?

6) EM QUE ÉPOCA ACONTECERAM ASSASSINATOS EM MASSA (GENOCÍDIOS) NA NAMÍBIA E

O QUE SIGNIFICA OS GOVERNANTES DE UM PAÍS - E SEUS GOVERNADOS - RESPEITAREM

OS DIREITOS UNIVERSAIS DA PESSOA HUMANA?

7) EXPLIQUE AS RAZÕES PELAS QUAIS DEVEM SER RESPEITADOS OS POVOS QUE JÁ ESTAVAM

NAQUELA REGIÃO QUANDO OS EUROPEUS CHEGARAM.

8) QUANDO HOUVE A INDEPENDÊNCIA DA NAMÍBIA?

9) QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA DA NAMÍBIA?

10) QUAL É BANDEIRA DA REPÚBLICA DA NAMÍBIA?

 

ATENCIOSAMENTE,

 

Prof. MSc Flávio A. L. Bittencourt

Bel. em Comunic. Social - UFF / Especial. em Metodologia do Ensino Superior - UniCEUB /

Especial. em Linguística Aplicada às Ciências Soc. - UERJ / Mestre em Comunic. e Semiótica PUC-SP /

Colunista do portal Entretextos

 

PALAVRAS E EXPRESSÕES-CHAVE:  HISTÓRIA DO CONTINENTE AFRICANO - ÁFRICA AUSTRAL - RIO ZAMBEZI - REPÚBLICA DA NAMÍBIA - BANTOS - OVAHERREROS - HERREROS - NAMAS - HIMBAS - COLONIALISMO - ESCRAVIDÃO E RACISMO - GENOCÍDIO E BUROCRACIA - TRABALHO ESCRAVO - POPULAÇÕES AUTÓCTONES - MASSACRES COLONIAIS - INSALUBRIDADE NO TRABALHO - CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO - DIREITOS HUMANOS - LUTA ANTI-COLONIAL - INDEPENDÊNCIA DA NAMÍBIA

 

 

 BANDEIRA DA NAMÍBIA:

Ficheiro:Flag of Namibia.svg

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Nam%C3%ADbia)

 

 

 

 

 

 

Vida dos Himbas na Namíbia - Nova África,

Youtube:

Publicado em 25/05/2012

A equipe de reportagem atravessou o país, registrando a diversidade de paisagens desse território de colonização alemã e um dos destinos preferidos dos turistas no continente africano.
O programa mostra a Costa dos Esqueletos, no Atlântico, onde vive a maior colônia de focas do mundo, e também a região desértica e do rio Okavango. Este rio nasce em Angola com o nome de Cubango e cruza a Namíbia pelo estreito de Caprivi, faixa de terra concedida aos alemães quando dominavam o território do país para que tivessem acesso ao Zambeze. Ao chegar em território botsuano, o Okavango se subdivide em diferentes cursos para formar o maior delta continental do mundo.

A edição também revela os hábitos da Civilização do Leite do povo Himba. Aline Midlej conversa com Uwaserva, esposa do chefe Himba Atikuminwe, e com o antropólogo angolano Ruy Duarte, especialista na cultura dos povos pastoris que vivem na fronteira entre Angola e Namíbia.

E a história de um dos muitos episódios dramáticos do colonialismo: o massacre levado a cabo pelas tropas do general germânico Lothar von Trotha em resposta à resistência dos Herero. Segundo dados das Organizações Unidas, cerca de 65 mil Herero e 10 mil Nama, o equivalente respectivamente a 80% e 50% dessas populações, foram exterminados nos confrontos ou padeceram de fome e sede, confinados nos campos de concentração abertos pelos alemães no deserto do Kalahari.

 

 

 

 

 

"(...) Os primeiros europeus a desembarcarem e explorarem as suas costas foram os navegadores portugueses Diogo Cão em 1485 e Bartolomeu Dias em 1486, mas a região não foi reclamada pela coroa portuguesa.

Na sequência da Conferência de Berlim, em 1885, a Alemanha passou a administrar o território do Sudoeste Africano até a sua derrota na Primeira Guerra Mundial. Nessa altura, a União Sul-Africana obteve o mandato da Liga das Nações para administrar aquele território, mas não o substituiu por um mandato da ONU, em 1946, ficando a ocupar o território como se fosse uma quinta província.

Em 1966, a SWAPO (South-West Africa People's Organization), um movimento independentista, lançou uma guerra de guerrilha contra as forças ocupantes, mas só em 1988 o governo sul-africano acedeu a terminar a sua administração do território, de acordo com um plano de paz das Nações Unidas para toda a região.

A Namíbia tornou-se independente da África do Sul em 1990.

A Faixa de Caprivi, território estreito e longo ao norte do país, foi anexada através do Tratado de Helgoland-Zanzibar, assinado entre o Reino Unido e a Alemanha em 1890, isso em virtude de o então Sudoeste Africano Alemão não contar com "nenhuma saída estratégica para um grande rio africano". A partir de então, a Namíbia ganharia acesso ao Rio Zambezi. (...)"

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Nam%C3%ADbia)

 

 

 

 

 

"(...) Devido a escassez de trabalho na colônia, o extermínio da campanha de Von Trotha foi finalmente parado por Berlim, e os hereros sobreviventes foram aprisionados em campos de concentração, obrigados ao trabalho escravizado, sobrecarregados, com fome, e expostos a doenças como a febre tifóide e a varíola, a maioria dos homens pereceu e as mulheres foram transformadas em escravas sexuais.
O resultado desta política foi que, a partir de 1904 para 1908, foram reduzidas a nação herero de 80.000 a 15.000 pessoas (...)."

WALTER PASSOS (Pseudônimo: Kefing Foluke)

 

 

 

 

 

 The Herero Masacre (EM INGLÊS),

Youtube:

 Simon BoydSimon Boyd

"Enviado em 24/12/2009

Just over one hundred years ago some sixty thousand people were killed in german South West Africa by the colonising forces due mainly to an extermination order. Find out why they were killed in thi s week's video the n kindly rate it and subscribe! Regards to you all and have a fantastic Christmas!"

 

 

 

 

"O TEÓLOGO E HISTORIADOR WALTER PASSOS (Kefing Foluke) FEZ A PARTE DELE.

CABE-NOS, AGORA, DIVULGAR O SEU TRABALHO, EXCELENTE"

(Coluna "Recontando...")

 

 

 

15.12.2012 - Namíbia, sudoeste da África -

O GENOCÍDIO ESQUECIDO – A REVOLTA DOS HEREROS E NAMA NA NAMÍBIA 

 

 

 

"Domingo, 18 de janeiro de 2009

O GENOCÍDIO ESQUECIDO – A REVOLTA DOS HEREROS E NAMA NA NAMÍBIA

Por Walter Passos -Teólogo, Historiador

Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: [email protected]

O POVO HERERO
Provenientes da migração dos bantos da região oriental da África, o povo Herero instalou-se na Namíbia entre os séculos XVII e XVIII. Atualmente tem sua população estimada em 240 mil pessoas vivendo na Namíbia, Botsuana e Angola. O Ovaherero engloba vários subgrupos, incluindo o Ovahimba, o Ovatjimba o Ovambanderu e os vaKwandu, grupos em Angola incluem o vaKuvale, vaZemba, Hakawona, Tjavikwa e Tjimba (herero pobres) e Himba que regularmente atravessam fronteira da Namíbia com Angola quando migram com os seus rebanhos.
Durante o período colonial, os europeus tentaram defini-los como grupos étnicos distintos, mas as pessoas consideram-se todos Ovaherero. Apesar de divididos em diversos subgrupos, possuem o mesmo idioma herero, além de português em angola, inglês em Botsuana e inglês e africâner na Namíbia. Também, os antropólogos brancos a serviço do colonizador-racista tentaram dividi-los em seus estudos de antropologia dizendo que são de origens diferentes. Hábito dos brancos em dividir para governar ou exterminar.

O POVO NAMA OU NAMAQUA
Nama (em fontes mais antigas também chamados Namaqua) é um grupo étnico da África do Sul, Namíbia e Botsuana. Eles falam a língua Nama do Khoe-Kwadi (Khoisan central). Os Namas são o maior grupo de pessoas Khoikhoi, a maioria deles já desapareceram em grande parte como um grupo, exceto os Namas. Muitos vivem em Namaqualand.
Após a Conferência de Berlim, a Alemanha invadiu o continente africano e além de outras regiões anexou à Namíbia, enviando para a África invasores (colonos ou descobridores – denominações usadas pela historiografia branca) que pilharam as terras e riquezas da população nativa. Difundido a supremacia branca e comparando o povo herero a babuínos.


Babuínos

Os homens eram constantemente espancados até a morte e as mulheres vítimas de estupro e escravizadas sexuais dos colonos e soldados alemães.
Como conseqüência dessas violações em 12 de janeiro de 1904 o povo Herero resolveu resistir ao invasor-colonizador - racista alemão, liderados por Samuel Maharero. Conforme os historiadores essa guerra de libertação teve como conseqüência o primeiro genocídio do século do XX, impetrado pelo império alemão contra homens, mulheres e crianças originais: as populações Herero e Nama, habitantes na Namíbia.

Samuel Maharero
Líder guerreiro e chefe do povo Herero, ainda criança foi catequizado e frequentou escolas luteranas que o viam como um futuro pastor, ao crescer e tomar consciência da opressão, rebelou-se contra os invasores alemães e enfrentou as famigeradas tropas colonialistas. Teve que exilar-se em Botsuana onde continuou líder dos exilados herero vindo a falecer em 1923. É relembrando na Namíbia como herói em 26 de janeiro, dia dos hereros.

Hendrik Witbooi
Hendrik Witbooi tem o seu rosto estampado nas notas bancárias na Namíbia. Para seus seguidores ele era conhecido por seu nome de Nama Khaob! Nanseb/Gabemab, que significa "O capitão, que desaparece na grama”, uma referência à sua famosa habilidade como lutador de guerrilha. Nasceu em 1830 em uma família de líderes.
Hendrik Witbooi era um homem religioso. Mais tarde, durante a guerra com os alemães, em 1904-1905, Witbooi voltou ao seu povo com a convicção de que Deus o havia de guiá-los para lutar por sua liberdade contra os imperialistas.

Em Outubro de 1904, dez meses após os hereros estarem em guerra contra os alemães em sua totalidade, Hendrik Witbooi levou Namaland a aliança contra os alemães. No 28 de outubro de 1905 perto de Vaalgras, com 80 anos de idade lutou com os seus soldados e morreu no campo de batalha decorrente de um ferimento na coxa.


Cédula com a foto de Hendrik Witbooi

GENOCÍDIO PRATICADO PELOS ALEMÃES

 

Kaiser Wilhelm II

Com a mobilização do povo herero, o kaiser Wilhelm II enviou 14.000 mil soldados sob o comando do Tenente-General Lothar Von Trotha, conhecido pela brutalidade ao combater a revolta boxer na China e a violenta repressão aos povos pretos que ofereceram resistência à ocupação alemã na África Oriental (Ruanda, Burundi e Tanzânia), e ao chegar à Namíbia disse a sua finalidade:


- "Eu acredito que a tribo herero como tal deve ser exterminada."
E escreveu:
- "O exercício da violência e do terrorismo é a minha política. Eu vou destruir as tribos Africanas com fluxos de sangue e de dinheiro. Só após essa limpeza pode surgir algo novo, que permanecerá.”
E em um comunicado ao povo Herero disse:
"Todos os herero devem deixar a terra. Se recusarem, então eu vou obrigá-los a fazê-lo com as grandes armas. Qualquer herero encontrado dentro de fronteiras alemãs, com ou sem uma arma, vai ser abatido. Não serão tomados prisioneiros. Essa é a minha decisão.”
Inspirador e executor do massacre dos hereros na Namíbia o general Lothar Von Trotha seguiu um plano elaborado na Conferência de Berlim de 1885, onde os Hereros e Namas foram eliminados sistematicamente, já que o objetivo era apoderar-se de suas terras; para isso estabeleceram um campo de concentração, trabalhos forçados e execuções em massa.
Em contraste, uma carta do chefe herero Samuel Maharero ao seu povo logo após a eclosão da guerra estabelece que os ingleses, Boers, missionários e pessoas de outras tribos não viriam a ser prejudicados. A história tem demonstrado que ambas as instruções foram diligentemente realizadas.
Em uma batalha decisiva no Hamakari, perto Waterberg, em 11 de Agosto de 1904, as tropas de Von Trotha cercaram a nação herero em três lados e estes foram brutalmente derrotados. Em uma jogada cínica, ele deixou o caminho aberto apenas para a área do deserto do Kalahari. O plano de batalha para as pessoas que escaparam das balas do exército alemão deveriam morrer de sede e poços de 150 milhas (240 km) ao redor do deserto ou eram patrulhados ou envenenados, e aqueles hereros que vieram rastejando para fora do deserto, desesperados por água, foram mortos a baioneta. Isto os deixou com uma única opção: atravessar o deserto dentro de Botsuana, na realidade, marchar para a morte. Esta é, na verdade, como a maioria dos hereros foi exterminado.

Hereros no deserto famintos e sedentos após as tropas alemãs envenenarem os poços de água.

Devido a escassez de trabalho na colônia, o extermínio da campanha de Von Trotha foi finalmente parado por Berlim, e os hereros sobreviventes foram aprisionados em campos de concentração, obrigados ao trabalho escravizado, sobrecarregados, com fome, e expostos a doenças como a febre tifóide e a varíola, a maioria dos homens pereceu e as mulheres foram transformadas em escravas sexuais.
O resultado desta política foi que, a partir de 1904 para 1908, foram reduzidas a nação herero de 80.000 a 15.000 pessoas famintas e refugiadas em sua própria terra.

Guerreiros herero capturados por tropas alemãs

Após a guerra, todos os herero de idade superior a sete anos eram obrigados a vestir um disco metálico em torno de seus pescoços com seu número de registro, designando-os como mão-de-obra disponível.

O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NA ILHA SHARK

A ilha de Shark foi o local usado de 1904 a 1907 que confinou membros das tribos Herero e Nama. Ao longo dos três anos foi o acampamento onde 3000 pessoas encontraram a morte. Para todos os efeitos, considera-se um acampamento de morte, tal como o seu único propósito era o de exterminar pessoas herero e Namaka.
O trabalho forçado do acampamento foi utilizado para construir Lüderitz e vias férreas. Outros campos existiam em regiões invadidas pela Alemanha, incluindo Swakopmund, Windhoek e Okahandja.

Campo de Concentração na Ilha Shark

EXPERIÊNCIAS GENÉTICAS
Foi no Campo de Concentração da Ilha de Shark que Eugen Fischer realizou as suas primeiras experiências "médicas" sobre raça, genética e eugenia, utilizando como cobaias tanto hereros como os mestiços descendentes dos estupros das mulheres herero. Sob sua supervisão, foram preservados corpos e cabeça que tinham sido enforcados e enviados à Alemanha para dissecção.
Fischer tornou-se diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia. Foi co-autor do livro - Os Princípios da Hereditariedade, Raça e Higiene - que se tornou o livro padrão sobre o assunto na Alemanha.
Hitler nomeou Fischer como reitor da Universidade de Berlim, em 1933, onde lecionou medicina para médicos nazistas. Fischer é por vezes referido como o pai da moderna genética. Este homem foi um grande defensor do aborto e da esterilização dos não-brancos.

Foto de Eugen Fischer - Observe a foto de mulheres pretas nos seus estudos eugênicos.


“EU TAMBÉM VIAJO PARA O CÉU EM UMA CARROÇA."
Em seu livro Heróis Herero, Jan-Bart Gewald descreve a morte de um dos líderes cristãos herero, testemunhado por um missionário alemão Friedrich Meier:
“Fraco de doença e de maus tratos, Kukuri foi transportado para a sua execução nas costas de um carro de boi. Ele não mostrou o menor vestígio de medo, mas, em vez disso olhou como se estivesse indo para um casamento! Em uma etapa da viagem, disse ao “Pastor” Meier: como Elias, também eu vou viajar para o céu em um vagão.
Quando eles chegaram o local ainda estava sendo preparado. Meier temia pela tranqüilidade de Kukuri e pediu que parasse de olhar para a forca. Ele respondeu:
- Por que não devo olhar para ela? Não é “a minha madeira" (a minha cruz)?
Os dois oraram e juntos cantaram um belo hino: Então tome minha mão e leva-me. Então Kukuri disse:
- Parece que você ainda teme que eu tenha medo, mas quando um pai chama seu filho, o filho tem medo de ir para ele? Dê a minha esposa, que está em Okahandja, a minha saudação e diga a ela que eu já morri na fé do Senhor Jesus Cristo, assim também diga aos meus filhos, pois você deve sempre vê-los.
Em seguida, disse:
- Senhor Jesus, me ajude.
Kukuri subiu a escada e a corda foi colocada em volta do seu pescoço. Como ele estava caindo, o nó escorregou, de forma que ele caiu no chão, inconsciente. Dois soldados o levantaram e, seguindo ordens, e realizaram disparos de arma de fogo, matando-o. Assim entrou Kukuri na presença do Senhor.
Ainda hoje muitos Hereros são membros da Igreja Luterana, defendendo esta ideologia, e comungando com os brancos que assassinaram seu povo na chamada “Guerra de Pacificação da Namíbia”.

"Irmãs" Luteranas na Namíbia.

Em Windhoek, a Christuskirche e o Reiterdenkmal, monumento que homenageia os soldados alemães que morreram na “pacificação” da Namíbia ao fundo uma igreja luterana.

CONCLUSÃO
A Alemanha compensou os Askenazis (descendentes dos kazars) que se dizem judeus após a 2ª guerra mundial em milhões de dólares e apoiou o mundo branco ocidental cedendo terras no Oriente Médio, para a criação do estado de Israel. Mas, até hoje o brutal genocídio dos povos Herero e Nama não foram compensados, os seus descendentes que perderam terras, gados, e potenciais recursos minerais que estão nas mãos dos descendentes de alemães, não receberam das autoridades alemãs nenhum pedido de desculpas e reparação. Apesar dos protestos e mobilizações das minorias étnicas Herero e Nama.
O povo preto não pode esquecer dos 105 anos da resistência dos Herero e Nama! E também do Genocídio impetrado pelos Alemães.
Viva a memória de Hendrick Vitbooi, Samuel Maharero, e dos 65.000 mil hereros (70% da população) e 10.000 Namas (50% da população) que foram dizimados pelas forças genocidas da Alemanha.
Genocide and the second Reich 7: Shark Island.

16 comentários:

 

 

Anônimo disse...

O pastor que acompanhou o herero para a forca foi um cínico como são todos os brancos nas igrejas. O herero coitado acreditou na fraternidade e foi enforcado.O pastor branco é igual os pastores brancos que tão se lichando para o povo negro e o pior de tudo é que tem pastores negros e membros de igrejas também negros que todos os dias estão indo para a forca e ainda chamam os racistas de irmãos e irmãs. Parece piada.
Bom blogger vou ler sempre.

Anônimo disse...

Eu fiz uma pesquisa interessante so bre o massacre dos Hereros e Namas para uma disciplina Re-Pensar Africa(Ceao/PosAfro)por achar que o tema ou pesquisas sobre a Namibia são poucas ou nenhuma aqui no Brasil.Ainda assim, acho que o que houve na Namibia como o 1²campo de concentração da historia, e um tema a ser não somen te pesquisado mas divulgado. Acredito que se o mundo ate hoje se horroriza com as atrocidades dos campos na Europa, tambem a opnião publica tem que estar ciente do que houve na Africa no inicio do sec.XX.
E não tem sido nada facil para os Hereros, a propria corte europeia de direitos civis, não aceitou o pedido de idenização para a causa Herero.
Mas uma vez a Europa se mostra cinica e omite sua culpa em relação ao sofrimento dos africanos.
Muito bom sua pesquisa, se quiser trocar ideias sobre esse tema, estarei de acordo.

Sérgio O. Sá disse...

Sou branco e bem branco, europeu, português. Não sou pastor de igreja alguma. Sou agnóstico, ou melhor, ateu.
Também sou objector de consciencia relativamente ao uso de violência. Fui militar, em Angola, integrado no exército português, nos anos sessenta, nunca disparando a minha arma contra ninguém.
Mas muitas vezes desejei e desejo tornar-me guerreiro, GUERREIRO NEGRO: HERERO, NAMA, HUME, CUNHAMA ou de qualquer outra ETNIA NEGRA ou ÍNDIA.
Às vezes sinto-me racista, mas contra a minha própria civilização que, por ser branca, pensa que é mais limpa do que as de cor, quando é sabido que tudo o que de pior há neste mundo chamado Terra é obra de gente branca.
Que a Mãe-África possa um dia dizer aos povos que tanto mal lhe fizeram, que lhes perdoa porque afinal eles não sabiam o que faziam, nem sabem o que fazem nem saberão o que continuarão a fazer,
porque o tom da sua tez não lho permite.

Sérgio O. Sá disse...

Também parece que os HEREROS de Angola, por volta de 1940, sofreram um massacre feroz perpetrado pelas forças colonialistas portuguesas.
Quem me poderá adiantar pormenores sobre esse genocídio em que também milhares de criaturas foram mortas e feitas prisioneiras?
Agradeço a quem possa falar desse facto que passou despercebido aos portugueses da metrópole.
Obrigado.

Xam disse...

Sou coordenador do Fórum Permanente de Educação e Cultura Afro-brasileira no Estado do Tocantins.

Já fiz uma especialização sobre História da África, mas confesso que desconhecia esse fato.

Parabéns pela belissima pesquisa.
Esse fato é muito grande para ser esquecido. Estou indignado.

farao disse...

Incrivel , me parece que ainda os povos deste país áfricano ainda ficaram com as piores partes do plantil , más o que mais me deixa cheio de orgulho e a capacidade de perdoar que parece que vem com a gente ! nós os negros ....

Sérgio O. Sá disse...

Continuo muito interessado em conhecer pormenores sobre o massacre aos Hereros de Angola por volta de 1940.
Agradeço a quem me possa falar do assunto. «[email protected]»
Obrigado.

Anônimo disse...

...Talvez nunca se venha a saber quantos mortos provocou. Calcula-se entre um milhão a dois milhões. Se foram 800.000 equivaleriam aos 11 por cento do total da população e 4/5 dos tutsis que viviam no país. Tampouco se sabe quantas vítimas provocou a vingança hutus .

http://pt.wikipedia.org/wiki/Genoc%C3%ADdio_de_Ruanda

..branco matando branco, negro matando negro,índio matando índio, "chinês" matando "chinês"...


Somos todos criaturas de DEUS.

MAS:

“o diabo veio para matar roubar e destruir”, (JESUS CRISTO.)


"Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós"(Tg 4.7).

DIEGO MARTON disse...

Assiti um documentário na TV Senado sobre genocídios históricos provocados por europeus ao redor do mundo, e foi abordada esta história do campo de concentração da Iha Shark.
Parabéns ao autor deste blog pelo trabalho histórico, muito rico em detalhes. Sugiro que poste no WIKIPEDIA também. Tal fato brutal não pode desaparecer pelo esquecimento.
Este foi o ponto de partida alemão para a burocratização do extermínio em massa. Sendo "aperfeiçoada" mais tarde no período nazista.

Dg disse...

Quero lhe parabenizar pelo post. Este artigo é muito importante, deve ser exposto e compreendido completamente por todos. O que é chamado de Nazismo e está tão aparente e consciente de sua importância na cabeça de grande parte da população mundial, teve seus antecedentes. Estes são tão ou mais importantes que o próprio Holocausto.
A TV Senado mostrou um documentário muito interessante que falava sobre esta situação na história mundial.
Novamente, parabéns e obrigado pelo seu artigo.

Stefano disse...

ah... os hereros e nama são esquecidos pela historia porque não tem a grana do "Povo Eleito".

Eduardo José disse...

Assisti a este documentário na TV e fiz questão de pesquizá-lo na Internet para saber mais. O Continenete africano tem sido a maior vítima da ganância e oportunismo dos falsamente chamdos cristãos: católicos e protestantes!
Os "cristãos" europeus se valeram da teoria evolucionista de Darwin para justificar a escravidão, a espoliação de terras e o genocídio dos povos africanos baseados "sobrevivência do mais apto". Não se pode ser Cristão e se crer na Evolução...
A cristandade foi e continua sendo a mais criminosa e imoral parte da humanidade! São a negação de tudo o que Jesus Cristo fez e ensinou!
Nem por isto me tornei ateu, agnóstico ou descrente: aprendi a entender a Bíblia e amar meus semelhantes com os verdadeiros Cristãos: as Testemunhas de Jeová!
Eduardo Mari

umBhalane disse...

Branqueando a história!!!

Sendo verdade que houve massacres/genocídios dos Hereros e outros por parte dos "brancos", convém NUNCA esquecer que antes dos ditos "Brancos" chegarem a África, já todos estes Povos "Hereros/Khoisan" eram alvos de um REAL/AUTÊNTICO extermínio/usurpação/deportação/expulção de suas ancestrais terras pelas incursões/expansão/conquista Bantu, Povos Negros oriundos bem do Centro Norte de África.

Convém não esquecer/apagar/olvidar estes factos comprovadíssimos.

Não uma histório verdadeira baseada em preconceitos rácicos/racistas.

Quanto aos "Brancos" que têm nojo de o ser, deixo um conselho:

- Vão para Marte!

João Sousa disse...

Bem, quero, antes de mais, agradeçer por este trabalho de investigação que nos permite aprofundar o conhecimento sobre este triste drama vivido por um povo antigo e que apenas queria aquilo que de mais básico um povo pode desejar - o direito à existência...
Bem, aproveito para mencionar que sou português, de "raça" branca, mas isso não me impede de reconhecer os muitos crimes cometidos por esta "raça de heróis do mar"...
Saliento que coloquei a palavra RAÇA entre aspas, e isto porque, de facto, existe apenas UMA raça HUMANA; esta raça humana unica apresenta-se em muitissimas formas e variedades, quanto ao tom da pele, altura, tipos de cabelos, narizes, olhos, enfim... e que essa enorme variedade nos deve encher de admiração e respeito profundo por aquele que foi o CRIADOR dos nossos primeiros pais.
De facto, fomos feitos de forma maravilhosa, tendo a capacidade de nos adaptarmos ao meio em que vivemos, seja de muito calor, frio, húmidade, etc.
Bem, peço desculpa se me estou afastando demais do assunto em pauta, isto é: a perseguição feroz movida contra estes humanos da variedade HERERO/NAMA por humanos provenientes da Europa e que se julgavam superiores.
Vejo este nosso planeta como um doente cheio de feridas; algumas feridas estão já parcialmente curadas, ainda assim, doem quando lá pomos os dedos... e podem de facto abrir de novo! Um exemplo: o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte.
Outras feridas estão ainda frescas, são recentes, como por exemplo, os conflitos atuais entre "cristãos" e muçulmanos em várias partes do mundo.
Queridos amigos, parece que está a tornar-se claro que o SER HUMANO (independentemente da sua cor de pele, lingua, etc.) não se consegue governar sem a ajuda do seu CRIADOR... e no entanto é isso que tem procurado fazer!
E a ajuda do Criador vem de várias maneiras, uma das principais é aquele manual de vida, a Biblia. Se os humanos se guiassem pelos ensinamentos divinos presentes na Biblia, jamais escravizariam o seu próximo, muito menos o matariam.
Peço desculpa pela longa conversa, quero apenas deixar no ar para futuros comentários, a tremenda mentira que foi dizer-se que os NEGROS TERIAM SIDO AMALDIÇOADOS por Deus; bom, para complicar mais a coisa, ou melhor, para "branquear" este assunto, apoiaram-se na passagem biblica de Génesis 9:25, afirmando que este Canaã (que foi amaldiçoado) era de facto o pai de todos os africanos...
Completamente falso; de facto, não foi este neto de Noé o ancestral daqueles que viriam povoar África, mas sim Cus e provavelmente Pute... Quanto a Canãa, originou vários povos que povoaram a região que é hoje a Palestina e que de facto foram escravizados pelos hebreus e até dizimados.
Bom, meus amigos, como pôde a Igreja Católica e, mais tarde também as religiões protestantes, apoiar tal falsidade? Devemos ter em mente a importância deste facto; foi devido à cobertura doutrinal que a Igreja forneceu ao poder politico neste assunto, que permitiu toda a espécie de abusos, genocidios e a infame escravização dos povos africanos... Por isso, a CRISTANDADE (entenda-se Cristandade por seitas e religiões que afirmam seguir a Cristo mas que de facto o negam por meio das suas ações diabólicas) é responsável por esta imensa tragédia e, como tal, receberá da parte de Deus, cujo nome, Jeová, ela tem procurado ocultar, o castigo merecido.
Quanto àqueles que, ao longo dos séculos, perderam as suas vidas na brutal escravização/genocidio a que foram sujeitos, não estão esquecidos por Deus - aguardam o dia em que receberão uma nova oportunidade de viver aqui na Terra, dessa vez, num mundo bem diferente...
Amigos, obrigada por me aturarem e felicidades!

Zeca António Andrade disse...

Em Angola, muito povo que é de origem de outro povo, distingue-se pelas danças diversas, trajes e formas de preparo de seus corpos, significados essas formas equilibra o verdadeiro recreio do veículo social Lunda, pois na altura antes da expansão do povo Lunda da Mussumba a sua condição social era igual a actual povo Muíla.
Os seus penteados, trabalhados conforme a idade, passam por diferentes formatos. Na adolescência divina da mulher Lunda usava-se finas tranças adornadas com missangas, cabelo empastado com óleo de rícino coberta, até à nuca, com uma pasta feita com manteiga rançosa manji amonu” e pó de argila-encarnada “indeeñi” e a cada mulher é moldada no centro da cabeça um “itombi” crista de cabelos.
Conforme já dissemos, um povo é originário de outro povo, muitos dos nossos historiadores sustentam de que o povo Mwíla é tribo pertence a clã Herero, os Hereros, segundo nossos narradores, este povo é da origem Lunda; Halelo quer dizer: “hoje mesmo” Quero aqui transparecer um pouco desta conversa: Por a Região do Alto Zambeze não fornecer espaço para tantos Reis que lá habitavam depois da sua expansão, resolveu Ngola Kilwanje Kasamba abandonar a mesma indo a procura de outras terras para viver. Assim partiu para o Litoral, em companhia
de sua esposa Kamoña Kasoñu e algum povo Lunda Nkoya, Lunda e Lunda Mbwela que estava reconciliado com os Ndembos, que no século XVII habitavam o Zambeze, preferiu seguir outro rumo, este ultimo povo ao deixar o Zambeze, jurou fidelidade: “HALELU DINO CHIÑA TUYENU” traduzindo” Hoje mesmo temos que partir” então. A este povo foi dado o nome de “Herero” lunda mbwela.
O Movimento migratório possibilitou as deslocações de vários Chefes Lundas e seu povo, alguns deles foram parar a Sul de Angola e ganhando outras denominações, como por exemplo: os Lunda Mbwela, os Lunda Nkoya, saindo do Zambeze em busca de outras Regiões no Sul de Angola, dando-se aosLunda- Mbwelas “Herero” e aos Lunda-Nkoya “Ngoya”.

algum qualquer disse...

Seu trabalho de história é admirávelmuito importante para a conscientização daqueles que não sabem da propria historia. mas contaminar seu conhecimento com ÓDIO é cometer o mesmo erro daqueles que cometeram CRIMES contra o povo negro. Não se esqueça que NEGROS também exploram NEGROS, pare de viver no passado e veja o presente, não existe sua tribo ideal, existe o hoje que é o caos e está misturado. Quer ajudar os negros a não aceitarem que são escravos?então ajude também os brancos a não se verem mais como senhores feudais. paz

 

 

 

 

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"NA ESCOLA DO IGAPÓ
José Ribamar Bessa Freire
16/12/2012 - Diário do Amazonas

 

 

O bodó Cascudinho sempre chegava atrasado na Escola do Igapó, frequentada pelos peixes da Amazônia. Foi lá que ele ganhou a fama de mentiroso, porque inventava histórias mirabolantes para justificar o seu atraso. Na segunda-feira, no primeiro dia de aula, eis o que aconteceu.
Ás 7h00 da manhã, a sineta tocou. Tia Piraíba, a robusta e roliça professora da Escola do Igapó, balançou as duas nadadeiras dorsais e fez a chamada:
- Zezé Tucunaré?                                     
- Presente, professora.
- Manu Pirarucu?
- Presente, tia Piraíba! - respondeu o pirarucu-de-casaca, enquanto lixava as enormes escamas com sua língua de osso.  
- Pacu Tribufu?
- Presente, fessora! - disse o pacu-curupeté, de cor cinza arroxeada, balançando seu ventre amarelo com manchas alaranjadas.
- Cascudinho Bodó?
- ????
 - Cascudinho Bodó?
- Faltou - responderam os colegas.
Cascudinho Bodó não estava. Só chegou muito mais tarde, na hora da merenda.
- Discente Cascudinho, por que você se atrasou?
Todos fizeram uma roda para ouvir a resposta. A hora do recreio já era conhecida no igapó e adjacências como a novela das nove.
- Tia Piraíba, desculpa. Saí cedinho de casa, lá no lago Espelho da Lua. Era ainda de madrugada. O lago, todo prateado, banhado pelo luar, refletia dentro dele a lua que parecia uma tapioca de beiju. As margens estavam protegidas por buritizeiros, açaizeiros e outras palmeiras que, enfileiradas, se perfilavam como sentinelas avançadas. Soprava uma brisa suave com cheiro de pitanga e de ervas aromáticas que se espalhavam pelas margens do lago de água cristalina. Eu vinha nadando velozmente, alegremente, ouvindo o canto dos pássaros, contemplando o balé das borboletas coloridas e o voo rasante das garças que, em bandos, desenhavam piruetas graciosas no céu. Foi quando o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da pátria. Nesse instante, eu estava saindo do lago e ia entrar no rio, mas fui obrigado a frear bruscamente. Quase capotei.
- Por que freou? Freou por quê? - perguntou, com a respiração suspensa, a Piaba Vagaba de cor carmesim, pele manchada e barbatanas flácidas, interpretando a curiosidade de todos.   
- Tive de frear, porque naquele caminho hídrico congestionado não havia espaço sequer para um peixe-agulha. A água estava tomada por milhares e milhares de peixes de mais de 2.000 espécies diferentes. Os cardumes nadavam contra a correnteza, uns colados nos outros, e subiam o rio para desovar em suas cabeceiras, procurando os berçários que lá existiam. Essa piracema gigantesca deu um nó no trânsito e engarrafou rios, lagos, igarapés, furos, paranás, enseadas, mangues, cacimbas e todo o mosaico de veredas aquáticas. Eu tive de esperar aquela multidão passar. Por isso, me atrasei - completou Cascudinho, ofegante. Podem confirmar com os meus vizinhos. Moro no lago Espelho da Lua, Buraco n° 2433, Nhamundá, Amazonas, Brasil, CEP 69.140-000, email [email protected]
- Mentiroso! - exclamou com as costelas à mostra o gordo e untuoso Bibi Tambaqui, enquanto devorava 50 tucumãs, oito cupuaçus, 82 castanhas e dois cachos de açaí.
- Ele está inventando - reforçou Cunhatã Matrinchã cor de prata, cheia de espinhas. Ela movimentava as nadadeiras alaranjadas e, com suas três fileiras de dentes, mastigava um besouro e 43 moscas.
Cascudinho disse que queria ver sua mãe Madame Bodó mortinha num aquário ou numa rede de pescar se tudo aquilo não fosse verdade. Jurou:
- "Cruz de aço / cruz de ferro / se estou mentindo / vou pro inferno!"
- Ah, eu gostei dessa história. Vou contar pra vovó Elisa - falou Zezé Tucunaré, requebrando seu corpo com três pintas pretas, enquanto merendava farofa de aranha caranguejeira.
Vovó Elisa, a Traíra de Costa-Lisa, com os olhos verdes arregalados, enfeitou ainda mais a história da piracema, repassando-a para seu vizinho Tracajá Cheio-do-Chá, que a contou para Surubim Coisa-Ruim, que narrou para Piramutaba, que encaminhou num email para Big Fish, lá nos Estados Unidos, que traduziu para o inglês, fez um filme e espalhou pra Deus e o mundo as peripécias do Bodó, que ficou conhecido no Alabama como Ed Bloom.
As histórias de Cascudinho começaram subir os rios, até suas cabeceiras. Na terça-feira, às 7h00 da manhã, começou tudo de novo na Escola do Igapó, lá na floresta alagada. Ele, então, contou outras histórias. Inventou ainda novas histórias na quarta-feira e na quinta-feira, mas na sexta-feira, quando decidiu contar a verdade, ninguém mais acreditou."
 
(http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=1011)