[Gabriel Perissé]

Às vezes, diante de certas hipóteses etimológicas, convém dizer que a origem é obscura, que os estudiosos ainda não chegaram a um acordo... Ou então pode dar encrenca!

Esta palavra, por exemplo, é atribuída pela jornalista canadense Isabel Vincent no livro Bertha, Sophia e Rachel: a sociedade da verdade e o tráfico das polacas nas Américas (Editora Relume Dumará, 2006) a um dizer em iídiche, “ein krenk” (“um doente”), que as prostitutas judias sussurravam entre si quando aparecia na zona um cliente suspeito de ter alguma doença venérea.

Para Márcio Cotrim, no seu livro O pulo do gato 2, quando alguma prostituta polonesa da zona do meretrício carioca estava com um cancro (doença venérea) alertava possíveis fregueses com a seguinte frase: "Ich habe ein Kranke", isto é, "Eu tenho um cancro".

O escritor e acadêmico Raimundo Magalhães Júnior, em seu Dicionário brasileiro de provérbios, locuções e ditos curiosos, afirma que "encrenca" veio da Argentina, uma gíria por sua vez proveniente do catalão enclenque ("deitado", "acamado por doença", "sem forças"). Etimólogos espanhóis ensinam que enclenque terá vindo de um distante cranc (provençal), significando "coxo" e "impotente".

Ao chegar em terras sul-americanas, enclenque arrumou alguma encrenca e assumiu os significados variados de "situação confusa", "dificuldade", "tumulto" ou "intriga".

Há ainda uma outra conjectura, defendida por Mansur Guérios em seu Dicionário de etimologias da língua portuguesa. Escreve ele: "Mais razoável é admitir um verbo hipotético no português *crencar (e daí com prefixo encrencar), continuador de um latim *clinicare que se basearia em clinicus, 'doente acamado'."