[Flávio Bittencourt]

Crônica de Ulysses Bittencourt sobre antigos carnavais

O entrudo e seu tempo.

 

 

 

 

 

"O QUE SÃO, EXATAMENTE, catraios?

(Observe, por favor: os catraios que podem ser ingeridos.)

Respondo, prontamente:

Catraios, em Portugal, são REBUÇADOS DE ENTRUDO."

(COLUNA "Recontando...")

 

 

  

 

 

Alguns rostos da [EMISSORA DE RÁDIO E TELEVISÃO] RTP-Açores - 21 de Junho 2011,

Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=k9Sk7LR-gF4

 

 

 

 

 

REBUÇADOS DE ENTRUDO

(os rebuçados são comestíveis e

os desenhos de duas cenouras

na toalha de mesa são apenas para

contemplação, não podendo ser, portanto,

ingeridos):

 

 

 

 

 

 

(http://www.rtp.pt/acores/index.php?article=19957&visual=3&layout=10&tm=7)

 

 

 

 

 

"EM PORTUGAL, O GABINETE MULTIMÉDIA EM ANGRA DO HEROÍSMO E

A UNIVERSIDADE DO PORTO UNEM-SE PARA GARANTIR A ESTUDANTES

DE JORNALISMO A POSSIBILIDADE DE QUE FRUTUOSAMENTE ESTAGIEM

EM PRESTIGIOSOS VEÍCULOS LUSOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA"

(Coluna "Recontando estórias do domínio público")

 

   

 

 

 

"Angra do Heroísmo é uma cidade que se localiza na costa Sul da Ilha Terceira, nos Açores, com cerca de 10 200 habitantes. (...)"

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Angra_do_Hero%C3%ADsmo)

 

 

 

 

 

"Tatiana Ourique, estagiária no Multimédia Açores

 

Estudante finalista do curso de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia, Tatiana Ourique está a cumprir o seu estágio curricular no Gabinete Multimédia em Angra do Heroísmo.

É o resultado da frutuosa cooperação entre o Gabinete e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Tatiana Ourique tem desenvolvido entretanto algum trabalho de televisão, realizando reportagens para o programa Açores VIP. 

por: Blogs Açores"

(http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/antenas_verdes/?k=Tatiana-Ourique-estagiaria-no-Multimedia-Acores.rtp&post=8070)

 

 

 

 

 

"(...) Cândido de Figueiredo, no seu dicionário, dá o vocábulo ['ENTRUDO'] como sinônimo simples de carnaval, com origem na palavra latina 'introitus', que o notável Santos Saraiva traduz como 'ação de entrar; entrada'. Já o Aurélio explica melhor o nome ao defini-lo brasileiramente, como folguedo carnavalesco antigo que consistia em lançar uns nos outros água, farinha, tinta, etc. (...)"

(ULYSSES BITTENCOURT, trecho da crônica adiante transcrita, na íntegra)

 

  

 

 

 

"POR FALAR EM estudante finalista, ONTEM COLOU GRAU,

JUNTO COM SEUS COLEGAS, A MINICONTISTA QUE

JÁ TEVE NARRATIVA DIVULGADA NESTA COLUNA DO

ENTRETEXTOS: ROBERTA CHRISTIAN SILVA,

A PARTIR DE ONTEM BACHAREL EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

PELA UNIDF (Brasília). A CERIMÔNIA DE FORMATURA, QUE

ACONTECEU NO ENORME SALÃO - lotado - DO CLUBE DO EXÉRCITO,

FOI ORGANIZADA COM TANTA COMPETÊNCIA QUE

HAVIA ATÉ UMA grua ("guindaste de filmagem") MOVIMENTANDO

A CÂMARA DE VÍDEO A TRANSMITIR DETALHES DO

EVENTO AOS TELÕES QUE MOSTRAVAM, TAMBÉM,

takes VIDEOGRÁFICOS MAIS PRÓXIMOS DOS

FELIZES FORMANDOS. PARABÉNS, ROBERTA!

PARABÉNS, OUTROS FORMADOS (até ontem, formandos)!

PARABÉNS, FAMILIARES DOS FORMADOS!

PARABÉNS, COMUNIDADE UNIDF (Asa Sul, Plano Piloto)!"

(O RESPONSÁVEL PELA COLUNA "Recontando...")

 

 

 

 

 

 

"O QUE SÃO REBUÇADOS DE ENTRUDO?

NÃO SEI, MAS VEJO, EM FOTO CAPTADA

PELA JORNALISTA PORTUGUESA

TATIANA OURIQUE, QUE É ALGO QUE SE INGERE

COM CARNAVALESCO PRAZER E QUE, ANTES DE

SER TALVEZ ESQUENTADO, ESCORRE LENTAMENTE -

como caramelo ainda mole, é possível - DO PRATO DE PORCELANA

ONDE EVENTUALMENTE É PREPARADO PARA O RECIPIENTE

QUE IMAGINO QUE RESISTA A ALTAS TEMPERATURAS

DE COZIMENTO, se é que os rebuçados de entrudo

vão mesmo para o forno"

(Coluna "Recontando...",

assinalando-se que a fotografia

a seguir reproduzida foi flagrada em

cozinha de residência localizada

numa das ilhas do Arquipélago

de Açores, República Portuguesa)

 

 

 

 

 

"Rebuçados de Entrudo, uma tradição secular

(...) Publicado: 2011-03-05 (...)
Por: RTP Açores
Rebuçados de Entrudo, uma tradição secular (fotos e vídeo)

"No Ramo Grande, os rebuçados caseiros eram típicos da época de carnaval. Hoje em dia já poucos os conhecem e são menos, ainda, os que os confecionam. (...)"

(http://www.rtp.pt/acores/index.php?article=19956&visual=3&tm=7&layout=10,

sendo que a foto e o texto [NÃO SÓ AS LEGENDAS DE FOTOS] são da autoria de

Tatiana Ourique)

 

 

 

 

 

RECONTAÇÃO DE EXTRAORDINÁRIA

ESTÓRIA DO DOMÍNIO PÚBLICO,

POR ILUSTRADOR PORTUGUÊS 

QUE ESTAVA FALANDO E

DESENHANDO:

Pastel de Santa Clara,

Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=yOTrp0gagkQ

 

 

 

 

 

                     HOMENAGEANDO O POVO DE AÇORES (PORTUGAL),

                     ESPECIALMENTE AS PESSOAS QUE BRINCAM O CARNAVAL

                     NA ILHA TERCEIRA,

                     O POVO DE MANAUS (BRASIL),

                     TODOS OS ADMINISTRADORES, PEDAGOGOS, FUNCIONÁRIOS, TÉCNICOS E

                     SERVENTES DE DIVERSAS ÁREAS QUE NA U. P. EVENTUALMENTE COLABORAM,

                     PROFESSORES E ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DO PORTO (PORTUGAL) E

                     DA UNIDF (Centro Universitário do Distrito Federal, BRASÍLIA),

                     TODOS OS PROFISSIONAIS QUE, COM A SUA FORÇA DE TRABALHO,

                     INTELIGÊNCIA E SENSIBILIDADE COLABORAM NAS TAREFAS

                     DESENVOLVIDAS NO ÂMBITO DO

                     GABINETE MULTIMÉDIA EM ANGRA DO HEROÍSMO (AÇORES, PORTUGAL),

                     AS PESSOAS QUE DELICIOSAMENTE PREPARAM REBUÇADOS DE ENTRUDO EM

                     QUALQUER PONTO DO PLANETA (se é que fora de Portugal

                      essa guloseima carnavalesca também seja preparada), PARABENIZANDO

                      A JOVEM MINICONTISTA [*] ROBERTA CHRISTIAN SILVA, POR

                      SUA FORMATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS PELA UNIDF (Brasília),

                      AGRADECENDO À JORNALISTA TATIANA OURIQUE

                      ENTÃO (2011) ESTAGIÁRIA DE JORNALISMO DE 

                      MULTIMÉDIA RTP-Açores -, A QUEM (Roberta e Tatiana) SE DESEJA MUITA SAÚDE,

                     VIDA LONGA E UM ÓTIMO CARNAVAL DE 2012 -, E EM MEMÓRIA DE

                     UMBERTO CALDERARO FILHO (1927 - 1995), SAUDOSO PROPRIETÁRIO

                     DE A CRÍTICA, DE MANAUS, QUE REPETIDAMENTE SOLICITAVA

                     E PUBLICAVA TEXTOS PRODUZIDOS POR MEU PAI,

                     ULYSSES BITTENCOURT (1916 - 1993), E POR MEU TIO,

                     CARLOS DE ARAUJO LIMA (1912 - 1998), AUTORES QUE, INFELIZMENTE,                   

                     NÃO ESTÃO MAIS ENTRE NÓS, no ano do Centenário de Nascimento

                     de Carlos de Araujo Lima (nasc. em 12 de dezembro de 1912)

                 

[*] - A NARRATIVA CURTA DE R. C. SILVA [escrita em fev. / 2010] PODE SER LIDA EM: http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/fantasias-para-ilustrar-contos-de-petti-christian-e-aragao,236,3427.html ("Desculpe, ele veio sentar no jardim").

              

  

 

 

16.2.2012 - O entrudo e seu tempo - Crônica de Ulysses Bittencourt sobre antigos carnavais. (É BEM POSSÍVEL QUE OS AÇORIANOS REBUÇADOS DE ENTRUDO, uma guloseima que, no passado, era preparada na época do carnaval, SEJAM DELICIOSOS.)  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O entrudo e seu tempo

                  Ulysses Bittencourt [http://pt.wikipedia.org/wiki/Ulysses_Bittencourt]

 

Quando hoje nos preocupamos, cheios de justas razões, com a escalada ascendente de violência que nos cerca e envolve, seja na distância do plano internacional, seja na proximidade da calçada pela qual transitamos [O CASAL DE AMAZONENSES ULYSSES E FERNANDA BITTENCOURT MORAVA NA RUA BARATA RIBEIRO, EM COPACABANA, RIO, NA ALTURA DO POSTO 5], será oportuno lembrarmos, para melhor avaliação do assunto, que, pelo menos em termos de carnaval, a coisa já foi outrora bem pior que atualmente, nos grossos tempos do entrudo.

No Brasil, a prática do entrudo veio da era colonial e estendeu-se até o final do século passado [DO SÉCULO XIX].

Cândido de Figueiredo, no seu dicionário, dá o vocábulo como sinônimo simples de carnaval, com origem na palavra latina "introitus", que o notável Santos Saraiva traduz como "ação de entrar; entrada". Já o Aurélio explica melhor o nome ao defini-lo brasileiramente, como folguedo carnavalesco antigo que consistia em lançar uns nos outros água, farinha, tinta, etc.

Em mais de um dos seus artigos, Genesino Braga evocou velhos carnavais amazonenses. E Agnello Bittencourt, no seu livro "Fundação de Manaus - Pródromos e Sequências", descrevendo a cidade que ele viu ir se transformando pelas grandes reformas de Eduardo Ribeiro, registra, descrevendo a cidade no ocaso do século XIX, que "o carnaval era um pouco rude, e o 'entrudo' invadia e sujava as residências, mas sem quaisquer ofensas".

Não havia, de início, músicas especialmente feitas para os festejos carnavalescos. Nos salões, o divertimento transcorria ao compasso dos mais ligeiros ritmos, das mais animadas polcas, mazurcas, valsas e quadrilhas já conhecidas. E nas ruas, antes do uso comportado e romântico do corso em carruagens e, depois, em automóveis, dos desfiles de carros alegóricos, dos ranchos, havia foliões isolados, quase sempre mascarados e com disfarces e alguns bandos - como agora os remanescentes "blocos de sujos" e "clóvis", corruptela de "clowns" - divertindo-se em tocar o "Zé Pereira", quando havia instrumentos para isso ou apenas em fazer barulho com latas, tambores, apitos e bexigas de boi cheias de ar e amarradas na extremidade de uma vara. Havia os chamados "assustados", que consistiam em ir à casa de um conhecido e transformá-la em festa improvisada.

A turma do entrudo estava sempre munida dos chamados "limões" que eram pequenas cabaças feitas de cera contendo presumivelmente água perfumada. Mas nem sempre era esse seu conteúdo. Havia com talco, tinta, carvão em pó e, às vezes, até coisas piores... De preparo artesanal, tais cabacinhas possuíam consistências variadas e eram destinadas a arremesso para espocarem de encontro ao alvo; certas vezes pareciam pedradas. Depois do forte impacto, o conteúdo, cheiroso ou não.

Os alvos do entrudo tanto podiam ser transeuntes que se afoitassem a ir às ruas, quanto residências de conhecidos. Geralmente eram necessários dias para se limparem as casas, até com caiação, depois da brincadeira. E o jeito era aguentar, ter ou fingir bom humor, porém jamais reagir. Nada de tiros, facadas ou brigas por causa do entrudo, que isso era profundamente antiesportivo. Afinal, ele consubstanciava toda uma concepção de vida, mais simples, menos neurotizada e, sobretudo, até mais humana, hoje difícil até de compreender, de captá-la em toda sua extensão e em toda a sua força. 

(Extraído de Raiz [coletânea de crônicas publicadas no jornal A Crítica, de Manaus, nos anos 1980], de Ulysses Bittencourt, que foi membro do IGHA e da AAL), pág. 39 [Rio de Janeiro: Copy & Arte, 1985];

escreveu Rogel Samuel sobre U. B., em seu blog Literatura:

http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/2009/07/ulysses-bittencourt-e-os-poetas.html;

sobre o infausto falecimento, em set. / 2011, da viúva de U. B., Srª Fernanda Bittencourt:

por Rogel Samuel: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/2011/09/d-fernanda-bittencourt.html);

por Flávio Bittencourt:

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/fernanda-araujo-lima-bittencourt-setimo-dia,236,6709.html

e

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/filatelia-selos-postais-sobre-contos-infantis,236,6699.html

 

  

 

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RTP / NOTÍCIAS / SOCIEDADE:

Notícias /
Sociedade
 

 

Receita: Rebuçados de Entrudo

Publicado: 2011-03-05 11:03:25 | Actualizado: 2011-03-05 11:03:25
Por: RTP Açores
Receita: Rebuçados de Entrudo

 
 
 
 
 

 

 





Açúcar, água e vinagre são os ingredientes iniciais para a confeção dos rebuçados de entrudo.

Numa panela de ferro, são adicionados dois quilos de açúcar com quatro colheres de vinagre e diluídos em água até formar uma pasta homogénea.

É tempo de ir ao lume e deixar cozer lentamente. No cozinhar, sente-se um cheiro de vinagre que posteriormente não se refletirá no paladar.

Após cerca de 35 minutos, a preparação deverá estar a ferver de uma forma lenta e a fazer a chamada "bolha morta", que rebenta lentamente.

Entretanto já estão preparados quatro pratos untados em manteiga. Os pratos devem ser de barro para que aguentem o calor sem partir.

Caso pretendamos rebuçados com cores, os corantes devem estar dentro de pratos à parte.



Feito o "ponto de rebuçado", que se testa na tampa da panela e ver se faz fios como os de seda, retira-se o açúcar caramelizado e coloca-se nos pratos.

Depois de estar nos pratos, o rebuçado deve arrefecer até ficar mais consistente.



Dos pratos deve passar-se para um tabuleiro, com farinha para não colar.

Depois deve ser puxado com alguma insistência até ficar de cor branca. Durante o puxar, deve ser acrescentada raspa de limão.



O rebuçado repartido pelos pratos com corante não deve ser puxado para não perder a cor.

O objectivo é formar tubos mais finos com as cores e encostar ao branco.

Depois de vários tubos formados o corte deve ser feito rapidamente antes que fiquem completamente arrefecidos e depois seja mais difícil de cortar.

                                         

Os rebuçados devem ser embrulhados em papel vegetal, uma vez que já não existe o papel utilizado antigamente, o papel "cristal".

Texto e fotos: Tatiana Ourique, Multimédia RTP-Açores."

(http://www.rtp.pt/acores/index.php?article=19957&visual=3&layout=10&tm=7)

 

 

 

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"Coisas e Gentes da Nossa Terra
 
Tradições, Usos e Costumes:
A última Partilha do Burro, Casamentos, e Enterro do Entrudo na nossa aldeia [PORTUGUESA (Santa Valha [**])], foi no ano de 1977. Esta tradição acontecia todos os anos na altura do Entrudo. Também o Carnaval, conhecido por cá na altura por Entrudo, era tradição obrigatória até final da década de 1970 e mesmo início de 1980. Lembramo-nos dos especialistas e ferrenhos na arte, que nunca deixaram morrer a tradição, nem que chovesse “a cântaros”, como era o “líder” Toninho Rolo, filhos, e o sogro Manuel Coroado, conhecido pelo “Ti Carvela e Terra Quente”, que residia em Edral do Concelho de Vinhais, o Joaquim “Padeiro”, o José “Sarrá” etc. Também outros já mais jovens como o Joaquim Leite Contins, Zé Manuel Nogueira, Elias Ervões e irmãos, Lilo, e outros mais.
Ouvimos dizer que os “Ti Carvela e Sarrá”, eram tão ferrenhos nesta arte, que um certo dia, mataram uma burra(o) velha(o) para os lados de Monte Cerdeira,  tiraram-lhe a pele, para fazer um bombo para os instrumentos do Entrudo que se aproximava, dizendo ao dono que a(o) encontraram morta(o).
A partilha ou Divisão do Burro (Testamento) e os casamentos do entrudo, era uma tradição que se realizava na última quinta-feira antes do carnaval. Era engraçado de se ouvir, pois estava tudo sempre na expectativa, em particular as moças casadoiras e até algumas senhoras solteiras, que não gostavam nada do que ouviam, nomeadamente dos casamentos, quando o par não era a seu gosto, e também se lhes tivesse calhado um verso com uma das partes do animal que não fosse do seu agrado.
No dia seguinte a partilha do burro e os casamentos eram tema de conversa em toda a aldeia; se porventura alguma viesse a reclamar, no ano seguinte seria bem pior. Havia versos brejeiros e casamentos para todos os gostos.
Os rapazes já adultos escreviam quadras testamenteiras destinadas às raparigas e solteironas que depois gritam bem alto para toda a povoação ouvir, revelando os defeitos e virtudes de cada uma, ou um. Nessa noite, os rapazes divididos pelos lugares mais altos de cada bairro da aldeia disparavam contra o ar, como se tivessem morto um burro; ouvia-se o zurrar e ao segundo tiro de caçadeira era dada a notícia que o burro morreu - os rapazes chamam-se entre si de compadres. Seguia-se a "partilha/divisão do burro e casamentos”, feita através da récita das quadras. Para o efeito, usavam-se vários funis do vinho, conhecidos por embudes a servir de altifalantes.
Alguns bons especialistas nos anos 1950 e 1960: Irmãos Toninho, Manuel e João Rôlo; Zé Gonçalves (Gago); Alípio Cardoso; Zé Cavalheiro;  irmãos Manuel, Zé, e Óscar Barrosão, entre outros.
A última Partilha do Burro e Casamentos, foi feita pelos seguintes conterrâneos: António Neves (Tótó); Lilo Rôlo; Carlos Cardoso; Carlos e Jorge Fontoura; Agenor Rôlo e irmão Zé; Ricardo Moreiras, Alexandre Mairos, Helder e João Barrosão, entre outros. Já quanto ao Enterro do Entrudo desse mesmo ano, a organização foi dos mesmos elementos, mas com a participação de toda a juventude e até de muitos adultos (perto de 200), contribuíram para o sucesso ainda hoje recordado. Não podemos deixar esquecido o falecido Zé Lopes, que fazia de padre por baixo do palio, seguindo à frente da urna improvisada, juntamente com algumas carpideiras e “familiares enlutados “ do falecido Entrudo.
Também outras tradições populares se foram perdendo progressivamente no tempo, como os jogos aos domingos e dias Santos: Chino, Fito e Pedra, que se realizavam quase sempre perto das tavernas. Havia um local mais distante que era junto à amoreira, agora rua  de Stª. Maria Madalena. As tradições da Serrada da Velha, do Rapa na noite de natal, do Cantar dos Reis, Levar o Ramo ao Padrinho, das Maias na visita Pascal e do Toque das Trindades, umas, a partir do final da década de 1970, e outras, do final da década de 1980, seguiram o mesmo caminho.
O jogo do rapa na noite de natal (rapa/tira, deixa, põe) era jogado com pinhões, extraídos das pinhas dos pinheiros mansos, onde os miúdos e os adultos, mesmo até os avós, se divertiam com esse jogo, enganando-se mutuamente, para ajudar a passar parte da noite de natal. Alguns (muito poucos) mais endinheirados, jogavam também com rebuçados, mais propriamente conhecidos por “catraios”, mas era caso raro.
No cantar dos reis, se porventura, as casas a quem se ia cantar, não abrissem a porta ou não oferecessem nada, era costume “ameaçar” em voz alta, com a cantiga/verso das “Barbas de Farelos”, assim cantada/recitada:
Estes reis que nós cantámos; Voltemo-los a descantar; Estes Barbas de Farelos; Não têm nada para nos dar.  
Um verso:  Estes reis que nós cantámos; Não são pagos com dinheiro; São pagos com vinho fino; E chouriças do fumeiro.
A “Serra(da) da Velha”, era uma brincadeira, tanto de jovens, como de adultos, que se realizava no meio da Quaresma, a uma quarta-feira.
Rapazes e raparigas andavam em grupo pela rua ao anoitecer com umas latas velhas a raspar nas paredes das casas das mulheres mais idosas, mas estas tinham que ser obrigatoriamente “avós”, dizendo em voz alta o seguinte: Raspa/Serra na velha, Raspa/Serra na velha, Raspa/Serra na velha …….. :
- Vamos serrar a velha?. ; Vamoooos!.; Para o que é que há-de servir o corpo dela!.; (diziam em voz alta várias coisas que lhe viessem de momento à cabeça). Enquanto serravam a mulher, fingindo serrar o caldeiro velho, os rapazes proclamavam em altas vozes para os presentes, uma quadra brejeira, alusiva à data e à pessoa (velha).
 Estas, aborrecidas com o barulho nas paredes das suas casas e com tais dizeres,  já sabendo da tradição desse dia, tinham sempre à mão, um púcaro ou tacho de água, ou uma “penicada” , para atiram em cima dessa “criançada”. O que valia é que as paredes das casas eram de pedra e não estavam pintadas com cal.
Pela noite dentro, os mais velhos, percorriam todos os bairros da aldeia com um odre do vinho em cima de um burro e uma zorra a reboque, recitando versos tradicionais e pedindo em cada casa uma pinga de vinho para beber, e outra, para a velhinha, destinada  a encher o obre. Se eventualmente o pedido não fosse atendido, raspavam com latas velhas nas paredes das casas das “velhas” e serravam na zorra de madeira, dizendo: raspa e serra na velha, raspa e serra na velha, raspa e serra na velha…. .
O Ramo ao Padrinho: Era no dia de Ramos, antes da Páscoa, quase sempre depois da missa. Os  “miúdos e até alguns graúdos” enfeitavam um ramo de oliveira com bolachas e rebuçados pendurados por fios, e iam a caso do padrinho ou madrinha oferecê-lo, e desejar-lhe boa semana de Páscoa, sempre com o pensamento numa contra-partida, que normalmente era em dinheiro (moedas). Os com mais posses, enfeitavam melhor o ramo, com mais alguns doces, e até alguns, com um salpicão e/ou linguiça penduro. Esta tradição já quase não existe no presente ano de 2010. Contudo, contaram-nos algumas pessoas que presenciaram este ano um sobrinho, levar o ramo ao padrinho, da forma que atrás referimos. Foi o afilhado José Martins Rôlo, de 53 anos de idade, levar o ramo enfeitado ao padrinho Artur “Feijão” de 83, em que este, agradeceu e retribuiu, com a oferta de um garrafão de cinco litros de azeite ao afilhado. “ Lá viu ele que o afilhado não colhia azeite e era só isto que ele necessitava”.
A tradição das “ Maias”, consistia no seguinte: Havia sempre um enorme grupo de miúdos e até alguns bastante já graúdos, que acompanhavam o Sr. Padre em cortejo na visita pascal a todas as casas da aldeia. No fim da visita,era normal os donos das casas oferecerem aos acompanhantes (miúdos) alguma coisa para comer, conhecida por “maias” que normalmente eram, quase sempre,  figos secos, castanhas, maçãs e até algumas nozes, atiradas, salvo raras excepções, da varanda ou da janela para o chão do pátio ou da rua (estupidez da época). Quando a casa era mais abastada, a miudagem estava sempre à espera que a oferta fosse um pouco melhor, como, por exemplo: rebuçados “catraios” ou bolachas.
As “Maias”, eram sempre pedidas pelos miúdos em voz alta quando o Sr. Padre e os restantes elementos do grupo que o coadjuvavam com a Cruz de Cristo, Caldeia da Água- Benta, Sineta, e ofertas/donativos), acabassem a visita, que era o seguinte: Boa casa; Boa brasa; Bom ferrolho; Bom trambolho; Venham as “Maias”. Se porventura não oferecessem nada, diziam também em voz alta: Má casa; Má brasa; Que lhe dê uma dor de barriga (caganeira) e que lhe caia a casa em cima.
Quanto à oferta das “Maias”, concordamos com esse feito, pois era sinónimo de alguma alegria e certa pobreza à mistura. Já quanto à forma de oferecer, ou seja: atirar para o chão, assim como se fazia também nas amêndoas dos casamentos à saída da igreja na praça, era uma verdadeira estupidez, falta de respeito, de cultura e higiene.
Também a Visita Pascal, (por volta do fim da década de 1980 ou início de 1990), deixou de ser feita pelo Senhor Padre (Compasso), tendo esta festa católica sido delegada a leigos, e a tradição da abertura da porta à Cruz de Cristo crucificado está-se a perder progressivamente, deixando, de certa forma, uma enorme nostalgia desse passado católico.
O Toque das Trindades, “após o sol desaparecer e antes de anoitecer”, hora de recolha a casa, em particular os mais novatos e, onde os mais velhos , davam ordens desse dever, que todos acatavam. Os sinos da igreja tocavam todos os dias três vezes (com intervalos) para um convite a rezar a Avé-Maria. Infelizmente também esta tradição deixou de existir a partir do fim da década de 1970.
Pedir a “Bênção aos Padrinhos” e, o “Cumprimentar dos Compadres/Comadres”: Os jovens, ao passarem pelos padrinhos, avós, e até tios, para os cumprimentar, diziam o seguinte: Padrinho,  dê-me a sua bênção! Beijando-lhe ao mesmo tempo a mão direita. Estes, retribuíam com a seguinte frase: Deus te abençoe meu afilhado/neto/sobrinho. Também os pais dos afilados, ao passarem (cruzarem) pelos compadres ou comadres, para se cumprimentarem, diziam da seguinte forma: Bom dia compadre/comadre, Nosso Senhor o/a salve! Estes(as), retribuíam  da seguinte maneira: Boa dia compadre/comadre, Salve-o(a) Deus Nosso Senhor!  Restam muito poucas pessoas idosas na nossa freguesia que ainda usam esta cultura religiosa de cumprimentar.
Houve também uma tradição muito antiga, que se realizava depois do natal ou ano novo e que já muito poucos se recordam, chamava-se “ A Chocalhada ou Cavalhada”. Os jovens e até alguns adultos, vestiam-se com alguns arreios dos animais de trabalho e andavam com eles pelas ruas numa correria e algazarra ensurdecedora, imitando-os e cantando cantigas/versos tradicionais, alguns até bastante brejeiros em frente de certas casas, já antecipadamente referenciadas. Essa tradição perdeu-se no tempo a partir das primeiras décadas do século XX (1900).
Ainda outra muito engraçada e de que toda a gente gostava, “As Serenatas”. Pela noite dentro, alguns tocadores e bons recitadores de versos, deixavam apaixonadas mensagens amorosas em frente às casas de moças casadoiras. Disseram-nos recordarem-se de alguns bons especialistas em Serenatas, tais como: os falecidos António Teixeira e Abílio “da Maria dos Santos”, e ainda, o Aníbal Barreira, “cinquenta” como era conhecido, também bom cantador de reis. Certamente haveria outros, mas foram só estes de que nos falaram.
Parte destas tradições, deixadas perder no tempo e que atravessaram gerações, seria muito importante vir a recuperá-las, pois simbolizaram alguns usos e costumes da nossa terra, valioso património cultural da época.
A história e a cultura de um povo, são tão ricas, quanto maior for o seu passado, e, Santa Valha, tem este, e muito mais passado que nos orgulha e nos enriquece.
 
Matança do Porco:
Até finais da década de 1980, era rara a casa da nossa terra, em que não tivesse a matança do porco, tradição que se praticava durante todo o mês de Dezembro e até ao dia 6 de Janeiro, dia de Reis.
Havia espalhados por toda a aldeia, vários especialistas na arte de “ matar e desfazer o porco. Recordamos alguns nomes: José Joaquim Rôlo; Rocha: Fernando “Pedreiro”; Francisco “Ferruge(s); Victor Cardoso; Maurício; João “Nascimenta”; Manuel “Cantarinhas”, mais tarde: Amadeu Moreiras; Agostinho Pires “Nascimenta”; José Domingues; Manuel Fontoura; Filipe Nascimento e Domingos Mosca Pires, Fernando Barreira, entre outros.
Esta tradição artesanal secular foi-se progressivamente perdendo, devido à facilidade de aquisição e oferta dos produtos com carnes e enchidos (fumeiro) de porco, do sistema industrial. Também o aparecimento dos frigoríficos  e, mais tarde, das arcas congeladoras, vieram substituir as salgadeiras de conservação das carnes de porco, que tinham que durar para todo o ano.
A brincadeira ou “malandrice” da “Pedra de Lavar o Porco”, que os mais velhos faziam às crianças na matança, quando da lavagem do porco, também se perdeu com o tempo.
Por tudo isto contado, hoje só restam pouco mais que dois matadores artesanais na aldeia, o Fernando Rôlo e o Manuel “ da Lina”, arte, que só aprenderam há poucos anos.
Nas décadas de 1950, 1960 e início de 1970, houve sempre talho na nossa aldeia. O “açougueiro ou magarefe”, como se dizia nessa época, era o (falecido) Amadeu Moreiras “Pedreiro”. O último talho dele funcionou num pequeno armazém na praça, já demolido, onde hoje se encontra o coreto.  O preço da carne de cordeiro, a mais vendida, já que a de vitela era só em dias festivos, rondava na década de 1960, os seis escudos (0,3€). Mais tarde, o Sr. Fernando Barreira, após ter regressado de Angola, foi matando alguns animais para venda, num baixo da sua antiga habitação.
 
Porquinho de Santo António:
Este “uso e Costume”, por promessa, terminou nos meados da década de 1970. O porquinho, antes de ser leiloado, chocalhava por todas as ruas dos bairros da nossa aldeia a pedir comida. A receita do leilão, revertia a favor do Santo António. (Ver Link- As Minhas Memórias)
Santa Valha, Site: 01-03-2011
Última actualização: Fevº. de 2012"
 
 
 
[**] - Santa Valha: 

"Encontra-se bem ao  norte de Portugal na região do Alto Tâmega entre a Terra Fria e a Terra Quente.

As cidades mais próximas são: Valpaços (conselho) Vila Real (distrito) Chaves, Vinhais ( terra fria) Mirandela, Vila Flor (terra quente)"

(http://santa-valha.paulo-fontoura.com/html/aldeia.html)

 


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