COMENTÁRIO TORNADO, AGORA,  BREVE  ARTIGO

Para o escritor João Pinto, exemplo de integridade intelectual.

                                                                                                     Cunha e Silva Filho

Halan Silva:

 

       Em boa e oportuna hora vem o seu veemente e polêmico artigo, que põe a nu a situação ambígua e provavelmente hipócrita de uma vaga posição de intelectuais piauienses, ainda muito colados à ideia de que um escritor piauiense deva ser sempre um piauiense, morar na terra de berço ou vindo se estabelecer no Piauí a fim de que possa ser acolhido no mundo movediço e cheio de preconceitos e provincianismos como, em geral, são as regiões do interior do país, e aqui incluo as capitais.

     Você, que já deu provas suficientes de que é um ensaísta sério e atualizado, amante da produção cultural piauiense, vem levantar todas estas questões concernentes a valores da terra mafrense e ainda a alguns tópicos fundamentais de historiografia literária e de julgamento crítico no Piauí intelectual.

    A sua última afirmação, no lúcido e fundamentado artigo, resume bem o cerne de todas as polêmicas e mal-entendidos que cercam a vida literária piauiense, cujos nós e quiproquós (vale a rima) ainda estão muito presos a um passado que não tem sentido agora.

     Se a Universidade Federal do Piauí não deu (ou ainda não dá o justo valor a alguns autores locais, velhos ou novos, ou "novíssimos", como diria Tristão de Athayde), a culpa é dela e da falta de abertura  não preconceituosa  atinente às questões basilares deste porte.

    O que, a meu ver, precisa ser disseminado, aí no Piauí (desculpe-me a inoportuna rima), é não só valorizar os escritores antigos e novos surgidos, mas também abrir-se para a compreensão de que o fenômeno literário não pode se limitar a um juízo meramente regionalista, cerceador da criação literária em sua dimensão universalista.

    A questão discutível de se denominar "literatura piauiense", "literatura de autores piauienses", "literatura brasileira de expressão piauiense" e outras denominações pouco enriquecedoras, só tende a insular os escritores da terra a um maniqueísmo inoperante e carente de solidez. A questão do valor estético, no julgamento literário-crítico, é o protocolo mais coerente da historiografia literária. O seu desabafo é justo e coerente.

    Se não houver mudança progressista e sem prevenção    de juízos de valores sem o devido aprofundamento estético- hermenêutico diante    da produção literária e cultural vinda dos centros universitários locais, públicos e privados, não se poderá ir muito longe em direção a uma pesquisa autêntica e imparcial reconhecendo os valores da terra, sua produção, sem cerceamentos nem patrulhamentos de qualquer natureza, porquanto o escritor deve ser medido pelo valor de sua obra em si, sem julgamentos apriorísticos e paroquiais subjetivistas,  cheios de tabus críticos atingindo até a individualidade civil e as opções morais  ou sexuais  de um escritor.

    Reforço, nada de patrulhamentos ideológicos ( como justamente se queixava o poeta e sociólogo piauiense Clóvis Moura) a nenhum autor. Nada de beletrismo e provincianismo que só abastardam e vilipendiam os valores da terra. O mesmo vale tampem para as instituições  locais  que têm o vezo de só   aceitarem    o que seja  piauiense, em temas,    em cor local,   em hábitos  e costumes   de vida,  em raízes telúricas.    O importante é a obra  literária em si como fenômeno estético e cultural, no qual se imbricam o regional não reducionista,   o nacional e o universal.  Afinal,  vivemos, para o bem ou, infelizmente,  para o mal  num   planeta globalizado.  

    Que os escritores piauienses sejam simultaneamente divulgados tanto no seu estado de origem quanto nos centros mais adiantados do país. Sem parti-pris, igrejinhas, grupelhos de índole facistoide - esses sim, os inimigos do saber e da pesquisa competente.

    Diferentes de você, que publica o que vale a pena e, assim, engrandece a cor local. Seu artigo deveria ser mais divulga, sobretudo no Piaui. Abraço.