Chico Miguel e sua antologia (1)
Em: 03/08/2007, às 13H36
(*) Herculano Moraes
Ouçam o que disse, em 1978, a pro- fessora de Literatura Brasileira
Rejane Machado, no texto a que deu o título “Para entender Francisco”:
“Pedra em Sobressalto é um salto sobre a pedra. Alguns doa seus belíssimos poemas nos semelham modernos cromos, apesar de sua forma contida, lixada, das imagens depuradas”.
“O que nos transmite em seus versos é a realidade ambiental, particular, subjetiva. Os sentimentos do poeta gravitam em seu redor, emprestando-lhe seiva; e dela surgem e saltam lembranças que transcendem o objetivo inerte e bruto”.
Mais ou menos na mesma época o romancista O.G. Rego de Carvalho expôs a seguinte opinião:
“Francisco Miguel de Moura cresceu na minha admiração e hoje o posso citar como um dos maiores poetas do Piauí, ao lado de Da Costa e Silva e H. Dobal”.
Pedra em Sobressalto, na segura análise de Hardi Filho, projeta Chico Miguel apara além de nossas fronteiras.
Homem simples, é estreitamente ligado à sua terra e ao seu povo e por isto mantendo com este uma identidade fundamental na construção de sua rica poesia.
Água, pedra, areia, terra e ternura são alguns elementos que compõem o universo poético de Francisco Miguel de Moura.
Dos três principais nomes do Circuito Literário Piauiense – CLIP, que comemora 40 anos de sua existência, Francisco Miguel de Moura sempre esteve no centro das vertentes poéticas gerados por nós.
Hardi Filho sempre foi o poeta amoroso, sentimental, ardente. De poesia ao mesmo tempo espiritual e temporal, buscando respostas para as indagações que lhe incomodam e tendo a mulher, a sua mulher, Adélia, como motivo de suas mais ingênuas confissões. Nítidas influências de Cruz e Sousa e Celso Pinheiro, mas íntegro e livre na lavratura do verso.
Minha poesia atravessou alguns estágios. Era, no princípio, arrebatamento, revolta contra as injustiças sociais, a paixão pela terra, o amor pelas mulheres, raízes telúricas expondo as feridas do tempo. Na essência da criação poética, os sonhos de Castro Alves e Vinícius de Moraes guiavam meus passos.
Francisco Miguel de Moura, desde Areias, já revelava essa dimensão singular. Poesia enxuta, sem artifícios, modelada como se fosse um artesão talhando a pedra. Escoimada dos excessos encontrados na poesia adolescente que escrevemos há quatro décadas.
O crítico literário Campomizzi Filho, em artigo ilustrativo na “Folha de Ubá” – Minas Gerais, identificou a crença e o amor como elementos substanciais na poesia de Francisco Miguel – “O caminho da redenção do poeta”.
Esta Antologia, cujo lançamento faz parte das comemorações dos 40 anos do CLIP, revela a grandeza de um poeta que consegue construir sua obra tendo, como obstáculo, o isolamento de um Estado invisível aos olhos do Mundo, cujas autoridades não conseguem romper os preconceitos claros e injustificados contra a arte, a cultura, a história do nosso povo.
De tudo o que produzimos pouco ou nada chega ao conhecimento da sociedade brasileira. Aqui mesmo entre nós o esforço de poucos que se concentram em demonstrar a grandeza de nossas manifestações não recebe o necessário apoio.
(*) Herculano Moraes é membro da Academia Piauiense de Letras e apresentou o poeta Chico Miguel, também na APL, no lamçamento da "Antologia", no Auditório da Academia, 12.05.2007.