Carlos Evandro Eulálio: Apresentação da obra Falando à moda antiga, expressões e termos da minha infância.

Carlos Evandro Martins Eulálio - Professor e Crítico Literário, membro da APL

Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.  (Manoel de Barros -  in Memórias Inventadas)

É com alegria que apresentamos na noite de hoje o livro Falando à moda antiga: expressões e termos da minha infância, de autoria do amigo e confrade da APL, engenheiro Cid de Castro Dias, editado pela Nova Aliança.

O autor, como pesquisador, historiador e ambientalista, tem-se destacado ao publicar obras que contam a história das antigas e modernas edificações do Piauí, referência para estudiosos da engenharia e demais pesquisadores.

Ao prefaciar o livro Piauí: seus engenheiros; suas obras, de autoria de Cid de Castro Dias, o jornalista e escritor Magno Pires afirma que o autor é um cristão humanístico, de visão sensível e contemporânea. E os sentimentos de pesquisador e historiador infatigáveis extrapolam até a sua consciência imaginária de um exegeta imponderável, porque não se cansa de produzir e criar novos livros. (1)

Com esse propósito, vemos agora não o autor de obras que primam pelo rigor científico, mas aquele escritor sensível aos apelos da memória e que, como lexicólogo, documenta vivências da infância impregnadas de experiências passadas, pelo registro da palavra dicionarizada.

Parafraseando Manoel de Barros, Cid de Castro Dias agora “é o caçador de achadouros da infância, que meio dementado e enxada às costas, vai cavar em seu quintal vestígios do menino que foi.”

Mas para levar adiante tão árduo ofício, seguiu o caminho percorrido pelo lexicólogo Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), para quem “fazer dicionários é como caçar borboletas. As palavras voam, é preciso caçá-las no ar”.  E foi assim que testemunhei o trabalho incessante e diuturno de busca empreendido por Cid de Castro Dias, conforme diz ele na apresentação do livro:

“Ultrapassando a barreira dos 80 anos, e atendendo às recomendações médicas para praticar exercícios e manter a mente ativa, vieram-me as lembranças da traquinagem dos bons tempos da infância em São Raimundo Nonato, recordando-me também de algumas palavras e expressões que me causam estranheza, ou despertavam admiração. Ao me deparar com um palavreado estranho utilizado costumeiramente pela população daquela época, fui anotando muitas delas, então resolvi repassá-las a um amigo, autor de vários livros, para sua apreciação. O assunto o remetera às recordações da própria infância, e foi de bom grado. Tanto que me recomendou que persistisse no resgate do maior número possível dessas palavras, dando-lhe o significado de cada vocábulo e um exemplo prático de como era usado cada verbete. Aconselhou-me, por fim, que publicasse o trabalho, deixando assim o registro em livro para divulgação, pois a maioria dessas palavras e expressões já são pouco usadas e muitas delas foram totalmente esquecidas. A ideia prosperou, e o presente trabalho foi organizado e poderá contribuir para resgatar uma tradição da nossa linguagem popular, oportunizando a muitos relembrar os bons tempos da infância.” (2)

O nosso trabalho de convencimento para que o autor fosse adiante em seu projeto deu resultados positivos, isto porque temos a certeza de que esta significativa obra de arte lexicográfica acrescentará algo de novo a esse gênero de texto. Afora essas virtudes, a obra Falando à moda antiga será também útil em nossas escolas, pois se trata de uma valiosa ferramenta como instrumento didático na área da Lexicografia Pedagógica, para que nossos estudantes possam resgatar mediante a prática de exercícios um repertório lexical, rico em memória, com indícios de historicidade.

Valter Benjamin afirma que, “Contar a história é a arte de contar de novo”. [...] “a narrativa se perde quando as histórias não são mais conservadas.” (1993b, p.205). (3) Do mesmo modo, o resgate lexicográfico que faz o autor nessa obra além de resgatar experiências humanas pela linguagem, transmite seu aprendizado a gerações futuras.    

Eu finalizo esta apresentação, sem azucrinar a paciência de vocês.   Falo agora à moda antiga, com a pança cheia, esparramado ou aboletado onde quiser. Assim, reavivarei em minha cachola, sem nariz arrebitado e sem faniquito feito boboca, esse relambório de palavras que sacolejaram nossa infância e agora nos encasquetam em todo lugar, seja na latrina de um bangalô ou até mesmo na boleia de um caminhão. 

 

Notas

1. PIRES, Magno. Obra insuperável e inigualável. In DIAS, Cid de Castro, Piauí: seus engenheiros e obras. Teresina: Nova Aliança 2021, p. 5.  

2. DIAS, Cid de Castro. Falando à moda antiga: expressões e termos da minha infância. Teresina: Nova Aliança Editora, 2024, p. 10.

3. BENJAMIN, Walter. O narrador, apud AGUIAR, Rosiane de Sousa Mariane, Infância em Manuel Bandeira: experiência e linguagem poética, Revista eletrônica de crítica e teoria de literaturas, UFRGS – Porto Alegre – Vol. 04 N. 01 – jan/jun 2008.