BRASIL: UMA REFLEXÃO
Por Cunha e Silva Filho Em: 08/12/2016, às 21H14
Cunha e Silva Filho
O país da contemporaneidade se mantém funcionando graças à diversidade de sua estrutura social-trabalhista. A divisão interna do trabalho é o que o salva de uma revolução mais radical e traumática. Aqui há um parcela de ricos que não estão nem aí para a casa do vizinho infeliz. Por pior que esteja a nossa economia, o país não parou.
Se há muito desemprego na iniciativa privada, há os que ainda possuem trabalho, recebem seus salários e tocam a vida. Entretanto, há uma parcela menor, que é formada de funcionários públicos, os das esferas estadual, os quais estão vivendo dias de inusitadas aperturas financeiras com os salários atrasados ou pagos em minguadas parcelas. Os da esfera municipal, na qual alguns municípios, em situação de falência, estão sacrificando seus funcionários, também sem receberem normalmente seus vencimentos.
Toda essa situação de calamidade financeira se deveu aos desatinos provocados por governantes inescrupulosos, por espertalhões, cuja lábia eleitoreira consegue alçar-se ao poder e, a partir daí, vão praticar atos de administração fraudulentos, o que os levam a locupletar-se do dinheiro público e logo infernizar as vidas principalmente dos barnabés, os primeiros a pagarem o pato pelas leviandades desse gestores desonestos.
O mais grave é que eleitores ingênuos ou pouco politizados os elegem e mesmo elegem alguns candidatos que, antes de tomarem posse nos seus cargos, já estão sendo procurados pela órgãos policiais com pedidos de prisão para eles. Inclui-se neste caso, conforme foi noticiado pela imprensa falada e escrita, um grupo de vereadores e um prefeito recém-eleitos numa cidade brasileira. É de se perguntar: onde está a lei da ficha-limpa? Parece uma piada de mau gosto que, de tanta corrupção em que o país se vê atolado, essa tragédia política assuma uma natureza cômica.
Tem-se aí exemplos de programas de humorismo em que a figura do político brasileiro é carnavalizada, não só nos dias de hoje mas até em tempos pretéritos. A arte cênica e a vida real se misturam às maravilhas. A politicagem permanece. A comédia a imita e a figura do político oportunista e venal se banaliza, se naturaliza, ou seja, o eleitor continua a votar mal e idiotamente. Ai , então, me lembro da frase de Pelé pela qual foi criticado muitas vezes e injustamente.
A famosa afirmativa de Sêneca (4 a. C.- 65 d. C.), célebre autor da Antiguidade latina “Castigat ridendo mores” há muito perdeu a sua força edificante, porquanto o cinismo deslavado dos políticos nacionais, com raras exceções, pouco ou nada se importa com o enxovalhamento de seus brios morais.
O povo acha até engraçada a comédia nacional da baixa politicagem e, assim, vai vivendo uma Nação feita de conchavos, de patranhas, de brechas, de redução de sentenças, de “prisão domiciliar (que comédia grotesca, ausência de seriedade de nossas leis, sempre tendentes a relativizações!) e sobretudo de imoralidade escancarada. Os maus políticos mantêm-se no poder pelo voto indireto ou mesmo por nomeação autocrática? Não, simplesmente com o aval ingênuo ou feito de cinismo, cumplicidade vergonhosa, extrema ignorância e malandragem do próprio eleitor brasileiro.
Ora, um comportamento social da sociedade por estas vias transversais, em que as partes da pirâmide social estão ainda fortemente consolidadas,tal qual castas, hierarquizadas, repartidas injustamente, pouco podem avançar em direção a um país sério, unido e que tenha sentimento cívico. Longe disso.
Enquanto os ocupantes do poderes constituídos não se esforçarem por mudanças na fisionomia do suposto estado democrático que todos almejamos, haverá uma simetria, um estado analógico entre o comportamento do vértice da pirâmide (motivo de execração pública) e o comportamento das partes intermediárias, com o seu habitual individualismo, futilidades e convencionalismo vazio de ideias nobres, até chegar à base geométrica onde se homiziam bandidos e assassinos. tão impunes quanto a elite política e imoral que grassa em todo o território do país.