[Bráulio Tavares]





 

Em seu livro Popular Fiction 100 Years Ago (1957), Margaret Dalziel chama de literatura popular “os livros e revistas que são lidos puramente por prazer por pessoas para as quais este prazer é incompatível com o dispêndio de esforço intelectual ou emocional.”  É o tipo de leitura praticado, p. ex., pelas mocinhas que leem revistas Bianca ou Sabrina.  O livro de Dalziel é um estudo sociológico, de modo que existe um viés para dar um caráter de classe a essa definição, mas todo mundo lê assim em algum momento. Até intelectuais como Antonio Cândido ou Harold Bloom pegam de vez em quando um livrinho bobo para ler sem analisar, ler pelo prazer de ler, como aqueles craques internacionais que nas férias vão jogar futevôlei na praia. A mesma pessoa pode ler Proust ou Beckett com esforço intelectual durante o dia, e de noite, após o jantar, ler uma aventura de Tarzan. Não há uma divisão tão nítida entre quem só lê isto e quem só lê aquilo.

 
O entretenimento, nestes termos, é uma atividade mental (ler, ouvir música, assistir um filme ou espetáculo) praticada por quem passou o dia numa concentração mental intensa, ou executando tarefas repetitivas, e quer continuar pensando, quer uma experiência mental variada, movimentada, mas sem compromisso. “Sem compromisso” significa que não é necessário conduzir nenhum processo até o final caso ele exija muito esforço. A leitura por entretenimento raramente requer que um trecho seja lido duas vezes para ser compreendido. O entretenimento se dá na esfera do já conhecido, e mesmo quando o leitor (erudito ou não) está buscando o novo, isto em geral acaba sendo com “um pouco mais daquilo mesmo”.  Sua expectativa é por uma combinação nova de elementos já familiares, ou pela presença de elementos novos numa estrutura que ele sabe prever (como no romance detetivesco).

 

Há outro tipo de entretenimento, no entanto: o das pessoas que não estão mentalmente cansadas, não precisam relaxar do trabalho. Na verdade, são pessoas desacostumadas a esse tipo de esforço. São pessoas que têm boa educação, bom poder aquisitivo, mas têm a vida voltada apenas para o lazer e a diversão. Fazer esforço mental diante de um livro ou um filme, para elas, é tão incômodo quanto trabalhar – uma atividade plebéia que nunca precisaram nem precisarão exercer, uma atividade que eles deixam “para os criados”. Esse grupo de gente abastada gosta muito, por exemplo, de ironizar os eruditos e de ridicularizar os artistas de vanguarda. Para esse grupo, a arte não deve servir para nada além da diversão e do lazer dos que já têm dinheiro e por isso não querem ser induzidos a qualquer atividade intelectual.