Alcântara (Maranhão)
Por Jefferson Bessa Em: 18/03/2020, às 21H59

A vida cresce e definha em Alcântara
Ao passar plantas parecem esconder
Pedras parecem brotar nos cantos.
Os vazados das portas se enchem
De fora e de dentro, todos se abrem.
A vida sustenta a corrosão e atravessa
Casas sem tetos, escadas não concluem.
Pelas ruas velhos alicerces surgem
Ao lado de flores brancas e murchas:
O sol e o tempo esmaecem Alcântara
E fazem erguer do chão traços ao céu.
Ela vaza expectativas e decadências:
Decai à espera pelas riquezas,
Se levanta no concreto de ruínas,
Decai à espera pela realeza,
Se levanta no presente do passado,
Decai à espera pelo convento,
Se levanta no abandono das ambições,
Decai à espera pelos que desistiram,
Se levanta no pelourinho que ainda castiga,
Decai à espera pelos escravos na Amargura,
Se levanta na resistência de quilombos,
Decai à espera pelos que lá deixaram
Na portada seu símbolo,
Se levanta à espera pela festa do Divino
E decai na dureza das casas coloniais.
A noite de Alcântara emite ruínas
Nas luzes baixas de seus lampiões:
Vozes, ecos, desmontes, quietudes.
Ao amanhecer, ela se ergue e decai
Voltada para a Ilha do Livramento.