AGRADECIMENTO E GRATIDÃO
Por Antônio Francisco Sousa Em: 04/10/2013, às 13H47
A gratidão é uma das maiores virtudes que o homem pode exercer. Não é sinônimo unívoco de agradecimento, mas se confunde com reconhecimento. Alguém pode ser muito grato a outrem sem que este, pessoal ou diretamente, saiba disso. Quer dizer, aquele que se considera “devedor” de um favor ou benefício obtido, pode demonstrar gratidão ao “credor”, simplesmente, admitindo ou reconhecendo o obséquio recebido, perante alguém do convívio do autor da benesse, um amigo dele, ou o próprio Todo Poderoso.
Uma das diferenças entre agradecimento e gratidão é que aquele tem que ser manifestado ou demonstrado, verbal ou oralmente, ao feitor do favorecimento. Isto é, não se pode agradecer a alguém, por algo que fez, sem que este dê ciência ou tome conhecimento do fato.
A falta de gratidão, que seria a ingratidão, por vezes, tem o poder de despertar ou fazer brotar no mais humilde e desprendido dos indivíduos, ainda que subliminarmente, nuances de egoísmo ou presunção: é que nenhum homem é santo; todos têm brio, orgulho e dignidade, e isso faz com que, até involuntariamente, em dado momento ou diante de determinada circunstância, ele se ressinta de algo que não compreendeu ou não conseguiu aceitar, naturalmente. Não é o caso, a propósito, daquela situação em que, depois que o problema foi resolvido ou o mal não se concretizou, graças à intervenção despretensiosa, mas compromissada de alguém, e após todos os envolvidos ou participantes do círculo existencial do favorecido terem se manifestado felizes com o que lhe fora feito e até se regozijado em relação à benfazeja providência, apenas e tão somente o beneficiário não haver demonstrado o devido reconhecimento ao autor do favor. Aqui, a ingratidão do insensível favorecido foi substituída pela gratidão dos demais.
Por outro lado, é compreensível alguém que tenha agido ou intercedido em favor de outrem por algo, uma vez atendido o pleito ou resolvida a questão, e a ele não tenha sido dado conhecimento, sequer de que o beneficiário ficara satisfeito, não ficar feliz com essa ingratidão; notadamente, quando sabe ou tem informação de que pessoas, que não somente não ajudaram na solução do problema, como procuraram esconder ou lhe negar a condição de benemérito, receberam, além de manifestações da mais pura gratidão, efusivos agradecimentos por conta do que, verdadeiramente, não realizaram.
A ingratidão tira a afeição, diz um ditado popular. Por mais que alguém aparente não se ressentir com a falta de reconhecimento a um ato, voluntariamente realizado, um pouco de ressentimento ou decepção acontece; afinal, mesmo o mais bondoso e humilde dos seres humanos tem momentos de homem comum, e, como tal, precisa ver reconhecida sua presença e valorizados seus atos.
Um exemplo prático de falta de gratidão e de agradecimento. Um suposto amigo, às voltas com a elaboração de uma monografia para a tese que defenderia relativamente a doutorado prestes a concluir, resolve pedir-lhe subsídios, informações ou contribuições que pudessem ser úteis à sua empreitada. As colaborações a ele enviadas foram tão importantes que uma delas deu título ao trabalho científico. A tese redundou na edição de um livro, para cujo lançamento não convidaram o colaborador. Nenhum problema de gratidão, a priori: era direito do escritor convidar quem quisesse. Dias após o lançamento, uma boa critica ao livro, encontrada pelo velho colaborador em um veículo de mídia, foi por ele repassada ao autor, que não esboçou nenhum agradecimento. Tudo bem: agradecer por que a quem não pedira nada? A comprovação da falta de gratidão ao amigo aconteceu ao mesmo tempo em que ocorriam manifestações de agradecimento a outrem: na apresentação do livro o autor agradecia, pelos mais variados motivos, uma relação considerável de pessoas, a ele, que contribuíra, inclusive, com o título da obra, nenhuma palavra fora dedicada. Aí já era imperdoável. Não, não levaria nenhum exemplar. Compraria outro, de alguém que não conhecia, mas, quem sabe, talvez um dia pudesse reconhecer ou ser grato por seu ato.
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])