[Margarete Hülsendeger] 

Emoções conflitantes a dominavam e, mesmo reconhecendo que a decisão tomada há algumas semanas era o caminho mais racional a seguir, uma dor profunda e estranha ameaçava sufocá-la. Ela compreendia que se não agisse desse modo estaria a um passo de adoecer, não só física, mas também emocionalmente. Essa certeza, no entanto, não diminuía a dor.

Piscando várias vezes tentou, sem sucesso, conter as lágrimas.

“Bobagem!”, disse a si mesma. “Idiota!”, insistiu, enquanto limpava, com raiva, o rosto.

Seu olhar vagou pela sala vazia. Quantas salas, antes dessa, havia deixado para trás? Várias. Não se tratava, portanto, de uma situação nova. Porém, sentia como se fosse a sua primeira vez. Talvez porque soubesse que era a última.

Fechando os olhos, lembrou como estava à sala há poucos minutos. Cheia. Não só de cadeiras e mesas, mas de gente. Ainda conseguia sentir um resquício da eletricidade que sempre a percorria nessas ocasiões: as batidas do coração cada vez mais rápidas, a incerteza de nunca saber o que esperar e o desejo, quase doloroso, de fazer a coisa certa. A adrenalina disparava, fazendo com que esquecesse os problemas, mantendo-a focada no momento e, principalmente, nas pessoas. Ela, no entanto, nunca levou a sério essas emoções. E agora era tarde demais para agir de forma diferente.

Não podia permanecer por mais tempo, precisava sair. A bolsa e o laptop eram seus, mas os papéis e a pasta ela os deixaria no armário, entregando a chave ao responsável quando partisse. Daquele lugar só desejava levar as boas lembranças. Não seria justo permitir que todos esses anos fossem marcados apenas pelas más recordações.

Tentando afugentar os seus demônios interiores, lembrou-se dos bons momentos que ali viveu. Os abraços sinceros, as palavras de afeto, os olhares atentos e os sorrisos enormes quando fazia alguma brincadeira. Sem querer, riu de si mesma. O estranho é que nunca premeditou nada. Ao contrário. Tudo sempre foi espontâneo, como se fosse uma segunda natureza tentando escapar do campo de força que ela criou em torno de si mesma.

“Eles vão esquecer rápido!”, pensou, com mais do que uma ponta de amargura.

Contudo, não havia como negar: boa parte da culpa fora dela. Seu maior inimigo, o medo, obrigou-a a construir um muro bem alto entre eles e ela. Convenceu-se de que, se não demonstrasse o quanto se importava, muito provavelmente não seria ferida. Enganou-se. Mesmo tendo erguido milhares de muralhas ao longo dos anos, nunca conseguiu evitar o sofrimento.

“Meu Deus. Como sou idiota!”, disse em voz alta. Afinal, não havia mais ninguém para ouvi-la.

E de repente, o simples pensamento de estar esperando algo que nunca ia acontecer fez com que olhasse para porta.

“Será?”

A porta continuou fechada, desafiando-a a pensar diferente.

Outra lágrima escorreu pelo rosto. Bem devagar. Dessa vez, ela não a secou. Afinal, não havia mais ninguém para vê-la.

Objetos pessoais na bolsa. Papéis na pasta. Chave na mão. Lágrima quase seca. Estava pronta para sair.

Sem pressa, andou até a porta sentindo o coração bater mais forte. Abrindo-a devagar espiou o corredor. Ele estava vazio. Bem, era isso. Virando-se, trancou a porta pela última vez. Partiu. E agora para sempre.