Já falamos aqui, no Hoje na História, que a menor distância entre dois pontos é uma reta. Lição apenas relembrada, já que isso havíamos aprendido na escola. Consequentemente a menor distância para se ligar dois territórios separados por um rio é uma ponte. E uma ponte, um tanto quanto, famosa aqui no Brasil, é a Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro. Só que a ponte Rio-Niterói começou a ser construída em 1969. Antes disso o transporte era feito por barcas que transportavem quase 100 mil passageiros diariamente.

O transporte feito pelas barcas era responsabilidade do Grupo Carreteiro, que pedia dinheiro ao governo para poder pagar suas dívidas pois, alegava que tinha prejuízo. O governo por sua vez não fornecia dinheiro afirmando que as informações passadas pelo grupo eram falsas. Essa alegação do governo tinha como fundamento o patrimônio da família Carreteiro, através da análise de seus bens e das recentes compras de imóveis, como por exemplo, fazendas. Essa divergência de informações, segundo Edson Nunes, autor do livro “A Revolta das Barcas – Populismo, violência e conflito político”: “o sistema de privatização brasileiro tem defeitos brutais, ele não tem lugar para o consumidor e o Legislativo não reservou o controle das agências reguladoras; aqui as agências não são supervisionadas por ninguém, elas respondem parcialmente ao Executivo”. As agências não têm informação suficiente para saber se as empresas dão lucro ou prejuízo. “É a assimetria da informação, ou seja, o regulado sabe mais do que aquele que o regula.”

O serviço oferecido pelo Grupo Carreteiro era alvo de críticas: as filas, os atrasos eram motivos de insatisfação pelos usuários do serviço. Somado a isso a mobilização dos sindicatos ds marítimos, que exigiam melhores salários, e a pressão do Grupo para que o Governo lhe desse dinheiro para superar a suposta crise. Com o clima tenso, numa bela noite os marítimos decretaram greve pelo pagamento dos salários. A Marinha, pra não deixar a população na mão, e tentar minimizar o problema, colocou duas lanchas a disposição da população, mas na hora do rush do dia 22 de maio de 1959, elas não foram suficientes para transportar os usuários. Imagine o empurra-empurra nas filas que se formavam. Os 18 homens do Corpo de Fuzileiros Navais, que faziam a segurança da estação Cantareira, tentavam organizar a bagunça em vão, fazendo uso de violência.

Os protestos então começaram e os Fuzileiros tentavam conter o tumulto, a tensão crescia a medida que o atraso aumentava. Uma das barcas foi recebida com pedradas e os fuzileiros reagiram com uma rajada de metralhadora. Começava a rebilião na qual incendiaram a estação Cantareira, depois para outras estações. Por fim a multidão partiu para a casa da família Carreteiro, a qual foi invadida, depredada e por fim incendiada.

A luta terminou com 6 mortos e 118 feridos.