A morte nada respeita




A morte nada respeita


Rogel Samuel


Morreu uma pessoa muito querida para mim. Eu a via muito pouco, mas em minha mente ela era permanente lembrança. Eu a via muito bem, pois ela era uma das minhas mais antigas recordações de infância.
Morreu na véspera de completar 100 anos. Mas como era cheia de vida!
Lembro-me do dia em que um ladrão entrou em sua casa. Ela morava sozinha, em Manaus.
Como ela tinha um piano na sala, o ladrão exigiu que ela tocasse enquando ele ia atrás dos valores pela casa afora.
Nunca me esqueço de como ela nos contou o fato às gargalhadas, apesar de ter sido roubada.
Não perdia nunca o bom humor.
Ela era minha madrinha de crisma, e do casal eu recebi uma caneta, presente que guardo e uso até hoje.
Deve ter sido por isso que virei escritor.