(LIRIA PALOMBINI, GRAVURA)


A METONÍMIA E A SINÉDOQUE
 
JORGE TUFIC
 
(CURSO DE ARTE POÉTICA)

 
 
 
                   Não se deve confundir a metonímia com a metáfora, pois a figura metonímica tem o seu objeto real e a este objeto se acha ligada pela nomeação ou “transformação” daquilo ou de algo que com ele se relacione (de causa a efeito, de matéria a objeto, de continente a conteúdo, de ação a sujeito, do genérico ao específico etc.). Como Waterloo, que substitui a derrota de Napoleão Bonaparte no poema “O Livro e a América”, de Castro Alves:


 
O Livro este audaz guerreiro
que conquista o mundo inteiro
sem nunca ter Waterloo...

 
                   Sinédoque é a figura do todo que nomeia a parte, ou da parte que nomeia o todo. Vela por barco; água por lágrima etc. Dirigindo-se a uma área específica do ensino de Literatura, alguns mestres advertem tanto para o significado (lógico) das palavras, quanto para a significância destas como instrumentos de poesia, onde a semelhança aparente metáfora/metonímia/sinédoque, confunde os leitores. Será, portanto, fundamental observar as diferenças entre os planos de idealização e a realidade em foco.



 
II.5.5 - O SÍMBOLO
 


 
                   Como significado ou representação de algo, o símbolo, em poesia, concretiza-se em, ou passa de metáfora a símbolo pela repetição ou pela incorporação de elementos afetivos, estéticos, entre outros, com força necessária para fixar, geralmente numa só palavra, o terror ou a beleza dos fenômenos evocados. Nelly Novaes Coelho exemplifica o “corvo” como símbolo da morte e do jazigo, citando Bocage. Na galeria dos animais – escreve o professor e crítico Othon M. Garcia – quantos não são os símbolos ou personificações de sentimentos, idéias, vícios e virtudes do homem? A águia, talento, perspicácia e também velhacaria; o cágado e a lesma, lentidão; o cão, servilismo e também fidelidade ao homem, seu senhor; o chacal, voracidade feroz; a coruja, sabedoria; o camaleão, mimetismo e versatilidade de opiniões; o leão, coragem e bravura; a lebre, ligeireza; o rouxinol, canto melodioso; o touro, força física; a pomba, inocência indefesa; a víbora, malignidade... Símbolos... Símbolos... (Comunicação em prosa moderna, Othon M. Garcia, 7ª ed., Fundação Getúlio Vargas).
 
 


 
II.5.6 - A ALEGORIA


 
 
 
                   Figura inseparável da fábula e da parábola, a alegoria detém um poder de transfiguração total. Suas normas, como espécie de figura, remontam a Quintiliano, que a dividia em pura (a um passo do enigma) e mista, esta última provida de indicações marginais possibilitando a associação da coisa descrita com a subentendida (PDAP, Geir Campos, etc). Com mais pormenores, explica Nelly Novaes Coelho, ob. cit.: “Na transfiguração alegórica já não se trata de um termo real, mas de um todo real (A) que se oculta sob um todo ideal (B). Na alegoria o plano literal vale por si, mas só adquire a sua real significação quando transposto para o plano figurativo. Veja-se, por exemplo, o soneto de Olavo Bilac, “Sahara Vitae” (= o Saara da vida), onde temos – no plano literal da figuração poética – a visão de uma caravana que atravessa o deserto e que é exterminada pelo simum, vento muito quente e avassalador que sopra do centro da África para o norte. Pode-se afirmar que tal soneto é todo ele expresso com signos reais (= a caravana, o céu, o sol, o simum etc.), porém o valor essencial de sua mensagem poética repousa em seu plano significativo transliteral: a visão da vida humana como uma dura e sofrida caminhada para a morte. Aceito nessa perspectiva, ele passa a ser lido como uma série de sugestivos signos metafóricos.”


 
                   Caindo em desuso e transformando-se desde a Antiguidade Clássica e a Idade Média, a alegoria assume, na prosa, “formas especiais” como o apólogo, a parábola e a fábula.