[Maria do Rosário Pedreira]

Goste-se ou não de Margaret Thatcher, há um filme sobre a dama de ferro que importa ir ver. Não porque nos dê uma imagem mais cândida da senhora que governou a pulso o Reino Unido (alguns dirão que existe esse perigo) ou porque nos mostre a mulher por detrás da figura política que alguns de nós conhecemos bastante bem. Tão-pouco – embora essa razão já fosse mais do que suficiente – para ver a performance de uma Meryl Streep que se ultrapassa a cada novo trabalho. Este é um blogue confesso sobre livros e, se sugiro que A Dama de Ferro deve ser visto, é também por causa da literatura. Ultimamente, reparo que alguns guiões devem bastante à «arte da escrita» e, no filme em causa, há um diálogo-monólogo da senhora Thatcher envelhecida com o médico que a observa que é pura literatura. Quem me dera que muitos dos livros que me passam pela mão tivessem passagens tão inteligentes e ao mesmo tempo tão esteticamente irrepreensíveis; mas, parafraseando o que também se diz a páginas tantas no dito filme (e, repare-se, a expressão «páginas tantas» saiu-me como se se tratasse de um livro), agora muitos autores já não querem «fazer» coisas, mas apenas «ser» alguém...