Zenon Rocha
Em: 13/08/2009, às 06H35
Carlos Said
O médico Zenon Rocha (Maceió, Alagoas, 1915-Teresina, Piauí, 1990), amigo nosso no cotidiano do cafezinho proporcionado pelo Banco Econômico (Agência de Teresina, da praça Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Júnior: Rio de Janeiro, 1845-1912), jamais intrigou-se com as declarações que fazíamos sobre futebol. Aliás, Zenon Rocha – além de entusiasta -, um analista das manhas esportivas. Os conhecimentos adquiridos ao longo da carreira médica influíram para o amadurecimento dos critérios de avaliação psicológica envolvendo dirigentes e jogadores.
A nossa amizade foi interrompida porque a traiçoeira ceifadora de vidas decepou prematuramente a trajetória do insigne mestre da medicina implantada no Piauí com a desinência de médico de família, embora a estrutura individual de cada esculápio tivesse a norma especial de médico-hospitalar. Quantas e quantas vezes discutimos futebol com educação e cavalheirismo? Perdemos as contas. Às segundas-feiras, inevitavelmente, o confronto do médico com o crítico. Melhor dizendo: pugna entre dois especialistas. Cada qual defendendo a sua posição vivenciando lembranças do futebol, reavivando episódios e fortalecendo as narrativas prenhes de emoções de Vasco da Gama e Flamengo (Zenon Rocha pelo clube vascaíno e Carlos Said pelo clube flamenguista). Duelo de palavras sadias atravessando horas sob olhares fixos e posições imobilizadas de clientes e funcionários daquela agência do extinto Banco Econômico, do não mais lembrado Calmon de Sá. A discussão formalizada em opiniões abalizadas hipnotizava (mesmo) a multidão.
A saudade chegou tornando possível a elaboração do artigo. Daí, o percentual das lembranças estabelecer o silêncio d´agora que é o ato normativo de paz, sossego para se trazer à tona tudo aquilo que se pode escrever a favor de Zenon Rocha tal como salientou o dramaturgo e contista Nelson Rodrigues (Recife, Pernambuco, 1912-Rio de Janeiro, 1980), num dos momentos de tranqüilidade e franqueza absoluta: “O que nós procuramos nos clássicos e nas peladas é a poesia, insuspeita e absoluta. Há por todo o Brasil uma sede e uma fome de bola. O sujeito vai a um clássico de futebol, ou a um torneio de peteca ou de cuspe à distância é na esperança ainda da poesia”.
O emérito Zenon Rocha (exercitava o inglês com tamanha facilidade que impressionava amigos e admiradores), quando diretor da Faculdade de Medicina do Piauí, fez parte do processo de implantação e fundação da Universidade Federal do Piauí no não distante ano de 1971. Formado médico pela Universidade do Brasil, 1939, especialista em cirurgias de alto risco no ramo da ginecologia, exerceu os mais importantes cargos e funções.
Destacamos: 1 – diretor dos hospitais Getúlio Vargas (Getúlio Dornelles Vargas: São Borja, Rio Grande do Sul, 1883-Rio de Janeiro, 1954) e Areolino de Abreu (Areolino Antônio de Abreu: Teresina, Piauí, 1865-União, Piauí, 1908); 2 – coordenador da clínica cirúrgica da Universidade Federal do Piauí; 3 – diretor da Faculdade de Medicina do Piauí e um batalhador incansável para que o Piauí fosse reconhecido como centro médico de nomeada nacional; 4 – professor de Medicina Legal ganhando vários troféus ofertados pela diretoria da antiga Faculdade de Direito do Piauí; 5 – Na Academia Brasileira de Ciências Médico-Sociais, tornou-se membro efetivo do Colégio Brasileiro e do Colégio Internacional de Cirurgiões; 6 – titular na Academia Nacional de Medicina; 7 – literato de escol pertencente à Academia Piauiense de Letras; 8 – comendador da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí; 9 – renomado escritor: “Do Estado Puerperal”, “O Delito Privilegiado do Infanticídio”; “Eu Vi Petrônio”, 1993. Portanto, cultor da ações e das palavras, eis a melhor das suas reflexões: “São inesgotáveis as vocações de servir, porque constante e irresistivelmente estimuladas pela aspiração da glória infinita de criar, descobrir ou fazer dos discípulos filhos espirituais”.