Veja como foi o bate-papo com Eliana Mora

A jornalista e poetisa Eliana Mora foi a convidada para o bate-papo de Entretextos desta quarta-feira, 17.  Mora conversou sobre a literatura que produz. Consultora em comunicação e revisora, Eliana, que ministra cursos de Locução & Interpretação, publica poemas em http://liriodeserto.blogspot.com.br/.

Veja como foi o bate-papo

PEQUENA BATERIA DE POEMAS DE ELIANA MORA

Devaneios quase possíveis


O sol derreteu-se devagar
a escorrer pela ponta de um pincel macio,
no corpo daquela manhã.


Lenta e preguiçosa,
a tarde, insegura e tonta,
perde-se em divagações em tal cenário.


Ao pintor imaginário
resta a tela e um desafio: cerzir na noite
uma nova manhã.

Sobras de gotas douradas,
novos ares, nova vida,
matéria viva

[até algo surgir da costura agonizante].




Eliana Mora, 11/4/13

 

Península

 

Território

que se prende

por um fio

lâmina escorregadia

tempestade que não passa

vento frio

embaçando uma vidraça

céu escurecido

chuva sem mordaça

em pele de cordeiro

luz que laça

vela que ilumina

um palmo do caminho

e toca sino

a meio pau

bandeira que se ergue

e não tremula

dia feito de névoa

espessa e dura

saudade do langor

e da aliança

rede que balança

trevo de uma folha

nesga de esperança

[terra e sal]

abraço interminável

olho que procura

arquipélago distante

sonho errante

 

desejo de cristal

 

©Eliana Mora, 21 de outubro de 1999


Síntese de Tudo




Por onde correm emoções
desinvento arestas


nas pontas dos dedos

plenos de remendos
alguns sóis absorvem [ainda]
alguma claridade

dos nasceres de mim



Eliana Mora, 22/2/13

 



Sabor Crepuscular

dessa lembrança dá-me um corpo
e um poema
suave odor colorido
uma bruma ecegueira aos meus sentidos
um cansaço e uma febre assim
no início
de aparência e sabor crepuscular

dá-me do rio a margem

onde posso ainda imaginar algumas trilhas
contenção de águas
sombras a crescer em vias soltas
frondosas úmidas
suaves
dá-me o sabor de enlouquecer
de nada mais querer saber

[e não me acorde mais

 

Eliana Mora, 7/05/2009

 


Medo



telas de um palco a escorrer
da trêmula luz
retratos de pessoas
corpo de pessoas

escamas ocas, vazias
na superfície do caos
cascos fendas



brilho dos olhos
muito
muito abaixo do nível do mar



Eliana Mora, janeiro/2013

 

 

De planetas e desenhos novos


movem-se hoje dentro em mim

sem natureza sem identificação

pedaços nada sólidos

espécie de matéria a que falta o molde

verdadeira planície que não sabe

mas sumirá na chuva

para emergir na pele de um planeta estranho

coberto por domínios muito pouco

conhecidos

planeta de terra água ar e cobre

gênese nobre

desarrumados feitios

talvez nasça de um ris(c)o de criança

desenho bem primário

do que poderia ser

um dia

um eu de mim.



Eliana Mora, 02/11/2011