Veja como foi o bate-papo com Eliana Mora
Em: 16/04/2013, às 16H59
A jornalista e poetisa Eliana Mora foi a convidada para o bate-papo de Entretextos desta quarta-feira, 17. Mora conversou sobre a literatura que produz. Consultora em comunicação e revisora, Eliana, que ministra cursos de Locução & Interpretação, publica poemas em http://liriodeserto.blogspot.com.br/.
Veja como foi o bate-papo
PEQUENA BATERIA DE POEMAS DE ELIANA MORA
Devaneios quase possíveis
O sol derreteu-se devagar
a escorrer pela ponta de um pincel macio,
no corpo daquela manhã.
Lenta e preguiçosa,
a tarde, insegura e tonta,
perde-se em divagações em tal cenário.
Ao pintor imaginário
resta a tela e um desafio: cerzir na noite
uma nova manhã.
Sobras de gotas douradas,
novos ares, nova vida,
matéria viva
[até algo surgir da costura agonizante].
Eliana Mora, 11/4/13
Península
Território
que se prende
por um fio
lâmina escorregadia
tempestade que não passa
vento frio
embaçando uma vidraça
céu escurecido
chuva sem mordaça
em pele de cordeiro
luz que laça
vela que ilumina
um palmo do caminho
e toca sino
a meio pau
bandeira que se ergue
e não tremula
dia feito de névoa
espessa e dura
saudade do langor
e da aliança
rede que balança
trevo de uma folha
nesga de esperança
[terra e sal]
abraço interminável
olho que procura
arquipélago distante
sonho errante
desejo de cristal
©Eliana Mora, 21 de outubro de 1999
Síntese de Tudo
Por onde correm emoções
desinvento arestas
nas pontas dos dedos
plenos de remendos
alguns sóis absorvem [ainda]
alguma claridade
dos nasceres de mim
Eliana Mora, 22/2/13
Sabor Crepuscular
dessa lembrança dá-me um corpo
e um poema
suave odor colorido
uma bruma ecegueira aos meus sentidos
um cansaço e uma febre assim
no início
de aparência e sabor crepuscular
dá-me do rio a margem
onde posso ainda imaginar algumas trilhas
contenção de águas
sombras a crescer em vias soltas
frondosas úmidas
suaves
dá-me o sabor de enlouquecer
de nada mais querer saber
[e não me acorde mais
Eliana Mora, 7/05/2009
Medo
telas de um palco a escorrer
da trêmula luz
retratos de pessoas
corpo de pessoas
escamas ocas, vazias
na superfície do caos
cascos fendas
brilho dos olhos
muito
muito abaixo do nível do mar
Eliana Mora, janeiro/2013
De planetas e desenhos novos
movem-se hoje dentro em mim
sem natureza sem identificação
pedaços nada sólidos
espécie de matéria a que falta o molde
verdadeira planície que não sabe
mas sumirá na chuva
para emergir na pele de um planeta estranho
coberto por domínios muito pouco
conhecidos
planeta de terra água ar e cobre
gênese nobre
desarrumados feitios
talvez nasça de um ris(c)o de criança
desenho bem primário
do que poderia ser
um dia
um eu de mim.
Eliana Mora, 02/11/2011