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I.

POTICAGANDO

Lixolatrina 
aos olhos d’água: 
esgoto caseiro de coliformes.

Eles estão cagando presse rio, 
eles estão ali,
nem aí...

II.

OUTRO LEITO DE FOLHAS VERDES

Por que tardas, Poder, ao Poti,
se à beira do rio, os edifícios
defecam a água e os resíduos
caseiros via latrinas ou pias?

Quem tece o manto de folhas verdes,
a mortalhar a vida de evoluídos
seres da cidade no concretaço 
das margens da sustentabilidade?

Quem crava suas garras nas encostas
do rio quinda é dessa minha casa
e vergalha projetos contra o veio
d’água doce do solo de nossa taba?

A espinha do rio que já foi meu – que não foi
dum Pessoa ou dum Francisco amarantino –,
cobreando (subterrâneo!) o seu rumo teresino,
reverbera uma verde mortalha ecotrágica.

Dejetos sem tratamento, um erro de projeto,
de lei, de responsabilidades, de quem culpado é,
publicamente, pela água suja do consumo, à margem,
à beira do rio coberto da vergonha verde de aguapés.

Na noite, a poluição movem as folhas, 
corre o perfume das fezes na brisa,
a cujo influxo trágico respira-se
o quebranto de morte, pior que a vida!

Não me escutas, Poder! Nem acodes Poti 
à voz do meu clamor, que em vão poema,
como grito de dor, estas ferozes fezes, que,
no silêncio da noite, o rio exala inerte.

Por que tardas por vir (vens quando?)
poder dos poderes públicos de Piauhy,
para assistir esse rio doente, o Poti,
à mortalha de fezes sufocando-se?

III.

POR QUE MANHANAS TARDAS EM NOITADAS POR VIR, SOCORRO?

Qual Jati, a ti, Poti,
pra te-salvar não quer vir
quem vê sem poder o público
compartilhar tua imagem
de aguapés sem esperança,
apenas verdes se vale
a pena ou este teclado
a poetarem o mesmo tema
a variações nestas cenas.

 

(Luiz Filho de Oliveira)