Variações em solo dum rio desta aldeia
Por Luiz Filho de Oliveira Em: 23/05/2015, às 10H03

I.
POTICAGANDO
Lixolatrina
aos olhos d’água:
esgoto caseiro de coliformes.
Eles estão cagando presse rio,
eles estão ali,
nem aí...
II.
OUTRO LEITO DE FOLHAS VERDES
Por que tardas, Poder, ao Poti,
se à beira do rio, os edifícios
defecam a água e os resíduos
caseiros via latrinas ou pias?
Quem tece o manto de folhas verdes,
a mortalhar a vida de evoluídos
seres da cidade no concretaço
das margens da sustentabilidade?
Quem crava suas garras nas encostas
do rio quinda é dessa minha casa
e vergalha projetos contra o veio
d’água doce do solo de nossa taba?
A espinha do rio que já foi meu – que não foi
dum Pessoa ou dum Francisco amarantino –,
cobreando (subterrâneo!) o seu rumo teresino,
reverbera uma verde mortalha ecotrágica.
Dejetos sem tratamento, um erro de projeto,
de lei, de responsabilidades, de quem culpado é,
publicamente, pela água suja do consumo, à margem,
à beira do rio coberto da vergonha verde de aguapés.
Na noite, a poluição movem as folhas,
corre o perfume das fezes na brisa,
a cujo influxo trágico respira-se
o quebranto de morte, pior que a vida!
Não me escutas, Poder! Nem acodes Poti
à voz do meu clamor, que em vão poema,
como grito de dor, estas ferozes fezes, que,
no silêncio da noite, o rio exala inerte.
Por que tardas por vir (vens quando?)
poder dos poderes públicos de Piauhy,
para assistir esse rio doente, o Poti,
à mortalha de fezes sufocando-se?
III.
POR QUE MANHANAS TARDAS EM NOITADAS POR VIR, SOCORRO?
Qual Jati, a ti, Poti,
pra te-salvar não quer vir
quem vê sem poder o público
compartilhar tua imagem
de aguapés sem esperança,
apenas verdes se vale
a pena ou este teclado
a poetarem o mesmo tema
a variações nestas cenas.
(Luiz Filho de Oliveira)