Uma questão recorrente
Por Cunha e Silva Filho Em: 08/11/2015, às 18H58
Cunha e Silva Filho
Por mais que não deseje voltar ao tema, o dever de cidadão brasileiro fala mais alto e é por isso que volto à tona discutindo a violência generalizada no país, não só nas megalópoles Rio e São Paulo como também nas outras capitais e mesmo no interior. O meu afastamento da questão não significa que esteja pacífico em relação a ela.
Ao contrário, tenho acompanhado pelos cais de TV e pelos jornais o noticiário da violência. Ela se alojou no seio da sociedade indefesa, abandonada pelas autoridades de segurança. Até parece que esse mal instalado serve a interesses escusos, já que, não atacando a criminalidade brasileira, a omissão dos responsáaveis equivale a cooptá-la do ponto de vista da solução do problema.
Continuam a se multiplicar os casos de criminalidade.Ela penetra em todos os setores da vida em sociedade: nos lares, na rua, na indústria, no comércio, nos serviços diversos, nas padarias, nos shoppings, nos bancos – todos esses espaços são alvos de bandidos à cata do dinheiro fácil acobertado pela infame impunidade e descaso dos órgãos de repressão policial, dos departamentos de segurança, do Ministério da Justiça.
Tenho a impressão às vezes de que o país vive um período de longa treva fatídica de alheamento do governo federal para com a questão da criminalidade. Mais ainda, tenho a impressão de que há um vazio de governança no Brasil que não se restringe tão-somente à discussão ora levantada neste artigo. Esse vazio se denomina falta de comando, de vontade política para cuidar profundamente da segurança do povo brasileiro.
Não é possível que vozes de homens sérios deste país sucumbam à passividade, à estagnação no tocante a pôr esse quesito em evidência e como um dos maiores problemas que o país deve enfrentar.
Será que não se deram ainda conta de que estão matando nosso jovens, nossas crianças, nosso adultos, nosso velhos entregues à própria sorte e vivendo sob um estado de terror que se está banalizando?
Onde estão os órgãos mais decisivos da Justiça Brasileira que não se debruçam de vez sobre as vítimas da delinquência, dos homícidios diuturnos, dos assaltos a bancos e a outros lugares - reitero -, a ponto de não mais a população acreditar que somos uma nação relativamente desenvolvida e que, por esta razão, não deveria estar vivendo um clima catastrófico de verdadeiro genocídio de suas população indefesa?
Os senhores do poder não se pejam de que a imagem do país está cada vez mais desgastada diante dos olhos de países desenvolvidos, seja que forma de governo tenham?
Isso não acontece na China, no Japão, nos Estados Unidos, na Suécia, na Suíça, até em Cuba ou na Rússia? E aqui não estamos em guerra civil, não sofremos do terrorismo islâmico, não somos bombardeados por aviões não-tripulados, não sofremos uma intervenção de um país estrangeiro, nem fomos invadidos pela tristeza dos imigrantes vindos da Síria e de outras regiões do mundo em guerras civis e outros tipos de sofrimentos.
O que nos falta para iniciarmos uma combate sem trégua à criminalidade no país? Vontade política, decisões firmes de um governo federal que deu as costas para essa questão vital e inadiável.
O povo brasileiro não dispõe de segurança armada particular para poder ir às ruas sem medo. A Presidente da República tem sua segurança ao seu lado, os governadores, os prefeitos, os ricos, os ministros, os deputados e senadores, os desembargadores, juízes, idem. E a patuleia, que tem que enfrentar o metrô, os ônibus, os trens, o dia-a-dia com todos os altos riscos de vida, que tem de enfrentar os centros das cidades e as periferias? Quem vai socorrer toda essa gente de classes desfavorecidas e de classe média?
Deixem só de lengalenga tentando descobrir quem é mais desonesto na politica nacional e levantem os olhos de forma patriótica para salvar a sociedade de malfeitores, de delinquentes armados e protegidos pelos direitos humanos, de assaltantes que matam sem misericórdia os cidadãos trabalhadores de bem deste país desmoralizado pela escândalos de roubalheiras de big shots de parte das grandes empreiteiras mancomunados com a setor público do Estado Brasileiro.
Criem leis que salvem os brasileiros abandonados pela segurança pública incompetente. Revejam a maioridade penal nos casos de criminosos, de maior ou de menor, que estão assassinando o nosso povo de forma brutal caracterizando crimes hediondos.
Se os governantes ou os responsáveis pelas penalidades infligidas a facínoras incorrigíveis, verdadeiros monstros saídos do Hades, não alteram o Código Penal em alguns quesitos importantes, se acreditam que a culpa de delinquentes se deve à situação social do povo, à pobreza, às desigualdades, por que não lutam para combater os governos que ainda mantêm populações vivendo em verdadeiros guetos, em comunidades lideradas por traficantes e bandidos armados com poder de destruição igual ou superior aos das Polícias Militar, Civil, Polícia Federal e Forças Armadas?
Se todos os pobres em conjunto fossem bandidos, seria a derrocada do país, porquanto não haveria como resistir às numerosas formações de gangues, de máfias, de milícias e de outros grupos de fora da lei. Não, ao criminalidade não advém somente do fator pobreza.
Ela se origina em outras fontes realimentadoras do crime: a educação pública sucateada, o alastramento do uso das drogas, a co-participação dos consumidores de drogas das classes privilegiadas que sustentam o grosso da traficância, a falta de vigilância nas nossas fronteiras com a facilitação da entrada de armas pesadas em solo brasileiro, a parte podre da segurança pública.
Estes e outros são elementos determinantes do recrudescimento da escalada sem-fim da criminalidade no país. No entanto, o que mais fica evidente como solução a médio prazo é o investimento maciço na educação das crianças e adolescentes, o real aumento de emprego e de maior renda para a média da população ativa, a melhoria de nossa saúde pública, dos nossos transportes de massa, de campanhas direcionadas à prática de esportes e de áreas de lazer nas comunidades, a possibilidades de acesso aos bens imateriais instilando nos jovens a fruição das produções artísticas: dança, teatro, literatura.
Creio que só na possibilidade de propiciar às crianças e jovens carentes os benefícios mencionados se poderia mudar substancialmente o quadro da miséria espiritual e da tentação dos jovens para o mundo do crime e da dissolução dos costumes. Educação e cultura são o binômio para redirecionar esse país manchado pela impunidade, pelo descaso público e pelo mau exemplo crônico – não é só de hoje - que nos vem do topo da pirâmide social.