UMA LUTA DE SISIFO
Por Cunha e Silva Filho Em: 21/09/2017, às 15H42
UMA LUTA DE SÍSIFO
Cunha e Silva Filho
Se a vida é dinâmica, assim como todos os nossos atos bons ou ruins, o estado de tranquilidade, de paz e de alegria é, todavia, muito precário. Cada dia tem sua história, suas lutas, seus descaminhos, suas surpresas. Tudo é incerto, volúvel, fugaz. E assim também é a Natureza que nos cerca, na qual nada é duradouro, seguro, estável. O próprio Universo, segundo os cientistas, aumenta de tamanho. A “Canção do Tamoio”("Não chores, meu filho:"Não chores, que a vida/ É luta renhida: Viver é lutar/ A vida é combate/Que os fracos abate/ Que os fortes, so bravos/ Só pode exaltar"), de Gonçalves Dias (1823-1864), também se poderia aplicar a esse combate sem trégua entre o homem e a Natureza.
A história da Humanidade é essa contínua refrega de perdas e ganhos, talvez mais perdas do que ganhos. Vem-me à mente, guardadas as devidas diferenças, esse descer e subir da imagem mitológica do rochedo de Sísifo simbolizando, com propriedade, as forças físicas e morais entre o homem e seu meio ambiente, esse eterno castigo e luta para alcançar um desiderato. Assim igualmente se poderia invocar a imagem da Fênix da mitologia grega. Das cinzas, quer dizer, da destruição, renasce a ave indefinidamente, do mesmo modo que dos escombros das construções ressurge o trabalho árduo e persistente do homem em prélio contra as forças naturais inapeláveis e aquém dos poderes humanos.
A Natureza constrói e destrói ao mesmo tempo. Não tem hora marcada para que se revolte contra a paz dela mesma. Assim, se explicam os caprichos e a selvageria que ela exibe no que os ingleses denominam, com sentido antinômico, de acts of God (ações de Deus).
Os exemplos mais emblemáticos da fúria da Natureza contra a vida e a própria Natureza são os terremotos, os furacões, os maremotos, os tsunamis, os ventos assassinos que, de vez em quando, assolam regiões diversas da Terra sem dó nem piedade. Nem as criancinhas são poupadas quando esses flagelos mortíferos atacam as cidades, os países, a humanidade. E o pior e menos consolador é que a Natureza não paga pelos seus erros e defeitos. Nem ninguém é capaz de puni-la. Ela permanece indiferente como a baleia branca do romance Moby Dick de Helman Melville(). Nada a atinge mortalmente quando ela se manifesta em toda a sua brutalidade e crueza contra nós, pobres mortais, que, diante da sua ira ciclópica, nos reduzimos a ínfimas criaturas desprotegidas.
Não há avanço tecnológico e científico que possa ombrear-se com a pujança da sua destruição. Inclemente, está acima dos homens e da civilização. Seu ímpeto é destruir, transformar prédios, casas, em pó, detritos, areia, poeira. Tudo vem abaixo na sua passagem sem freios nem impedimentos, Não pede licença a prefeitos, governadores nem presidentes. Monarcas e ditadores. Vem arrastando tudo, causando inundações e vítimas fatais.
E, desse modo, foi agora com os furacões Harvey e o Irma, e agora mesmo, com o terremoto no México, país assentado numa parte do Planeta onde se concentra a área mais sujeita a terremotos. O Brasil deve agradecer sempre à Natureza por não registrar terremotos. Pelo que sabemos, aqui só temos tido notícias de tremores de terra. Entretanto, inundações de rios são constantes entre nós e têm trazido muitas desolações e perdas de vida, infortúnios e pobreza.
Os acts of God provocam não só devastações e tragédias humanas, mas também prejuízos financeiros incalculáveis. Atingem pobre e ricos e nisso são democráticos. Mas, é claro que os pobres são os que mais sofrem com esses flagelos naturais.
Muita gente atribui a esses males da Natureza aos homens e suas maldades e neles veem um recado profético do Criador dirigido às perversidades humanas contra o ecossistema, contra a cupidez de ações governamentais que maltratam a paisagem física, a flora e a fauna, as nossas florestas, os nossos lagos, rios, mares e oceanos. Espírito predador, o homem mau se comporta diante da Natureza de forma prepotente e dela só deseja espoliar seus frutos, suas riquezas que mais servem aos potentados de todos os continentes.
Poluindo os rios, praticando desmatamentos, nos campos e nas cidades, o homem vem se portando indiferente às depredações que estragam as fontes d’água, matam os rios, secam as nascentes nas cidades do mundo inteiro, poluem o ar que respiramos com o veneno do CO2 vindo dos canos de descarga dos carros, dos fornos das fábricas, das queimadas e vão, desta forma, brutal e selvagem, provocando o aumento do efeito estufa com todas as consequências deletérias dele advindas e que, por seu turno, acarretarão o aquecimento global da Terra com forte influência negativa para as regiões polares, cujo resultado sãos o derretimento das geleiras, aumentando, assim, o nível dos oceanos.
Os organismos internacionais em defesa do clima e do meio ambiente, em reuniões de cúpula, aprovam propostas de redução dos níveis de CO2. No entanto, países mais poluidores do Planeta ainda resistem a reduzir suas cotas de poluição atmosférica alegando prejuízos econômicos ou até desemprego caso diminuam os gases venenosos poluidores do Terra. Ora, se essa é a atitude de alguns chefes de Estado, depois não venham chorar pelo leite derramado ao serem atingidos pelos danos irreversíveis que provocaram e ainda provocam na Natureza. Cumpre-lhes pensar no bem-estar do Planeta e não nos lucros do capitalismo que, diante da Natureza bravia, não valerão um tostão furado. Repensar formas de preservar o meio ambiente é uma questão que deveria ser a pauta constante dos organismos mundiais incumbidos da defesa da Natureza e da vida humana. Nada somos sem o equilíbrio ecológico, sem os cuidados que devemos ter com a terra, a água e o ar.
Não desejo nesse artigo esquecer de acrescentar mais um item para discussão em escala global, que são os testes nucleares feitos por nações belicosas. Qualquer pessoa sensata há de entender que, se os governos que emulam entre si pela a soberania de possuir armas nucelares, pensam que estão agindo corretamente, estão redondamente equivocados.
Os testes nucleares só danificam a estrutura da Terra, podem provocar efeitos catastróficos, como, por exemplo, desequilíbrios nas camadas profundas da Terra, as chamadas camadas tectônicas, causadoras de terremotos, tremores de terra e outros malefícios. Que esses governos deixem de esburacar o Planeta, seja em testes nucleares, seja para extrair riquezas que só ajudarão no enriquecimentos de uma parte menor de bilionários que povoam os quatro cantos do mundo. É tempo de mudar mentalidades tacanhas que só valorizam o vil metal. O planeta Terra está cansado de apanhar como se fora um escravo de tempos sombrios e desumanos que a consciência dos homens de bem, em qualquer parte, reprova e repudia com veemência e indignação.