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 UMA LÁGRIMA DE MULHER

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance de Aluísio Azevedo. Livraria Martins editora, São Paulo-SP, 1960. Capa de Clóvis Graciano. Introdução de Lúcia Miguel Pereira.

 

            Faz muitos anos eu era menor de idade e, naquele tempo, assistia as incipientes novelas que passavam nas extintas TV Tupi e TV Rio. Hoje não suporto novela de tv, mas isso é outr ahistória.

            Numa dessas estações passava uma novela cujo nome e elenco já não recordo, mas que falava numa jovem que vivia numa ilha ou numa praia, junto do seu pai rude e prepotente. A moça se apaixona por um rapaz bonito, mas encontrava com ele às escondidas do pai. Um belo dia o par se encontra no alto de um penhasco — ora, logo num lugar desses! O pai violento aparece e, sem querer conversa, vai logo se atracando com o moço e termina por jogá-lo do penhasco. Dando-o por morto sai da aldeia levando a chorosa filha, para instalar-se numa cidade. Só que o rapaz não morreu e, mais tarde, seguirá a pista da garota. Não me lembro de termos visto essa história até o fim; naquela época era comum que o televisor enguiçasse (e como davam defeito!) e meu pai, por falta de dinheiro, custava a mandar consertar ou comprar outro.

            Ora, qual não foi a minha surpresa ao ler, este ano, o romance “Uma lágrima de mulher”, de Aluísio Azevedo, autor falecido em 1913! Está ali a passagem melodramática! Quer dizer, a novela em questão devia ser adaptação desse livro.

            Esse aliás é um livro do romantismo, embora Azevedo seja considerado autor naturalista. A história tem muitos pontos fracos. O suposto herói ou galã revela-se um assassino; a garota, Rosalina, apresentada com ares angelicais, torna-se depressa leviana com a nova existência na cidade. O caráter de seu namorado Miguel, um músico ambulante (creio que não era isso na adaptação televisiva), também não é a doçura com que o autor o pinta no início; antes é desses indivíduos que se entregam em demasia ao amor tornado em paixão que pode levar ao crime. Há outras inverossimilhanças no enredo, como a aus~encia de Maffei da ilha por dois anos, para enriquecer, deixamdo porém a filha entregue a uma governanta. E isso não combina com o caráter possessivo e controlador do sujeito.

            Curiosamente a trama se passa na Itália, como outro livro de Azevedo, “A mortalha de Alzira”, passa-se na França.

 

(Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2016)