Uma conta perdida, uma vida ganha

CLARISSE DE OLIVEIRA


  
   Antiga tradição brasileira diz que quando um acessorio
   de contas se rompe, se todas as contas são reencontradas,
   o dono dele não tem mais direito à Vida.

   A Baiadera costumava trazer com seus enfeites de prata
   e turquesa, um rosario de contas de sândalo ao pescoço -
   bento por um monge itinerante que passara uma vez pelo
   Templo, a moça não se desapegava dele, com fé em  sua
   proteção.

   No tumulto de sua morte, assasinada pelo amante numa
   tarde de festa, ninguém reparou no rosario que se rompeu
   e em suas contas espalhadas pelo chão do templo.

   No dia seguinte, antes do amanhecer, o chão foi lavado
   e suas companheiras de dança, recolheram as contas e
   o rosario recomposto, foi levado para sua mãe.

   Ninguém reparou numa conta que rolara para o fundo da
   Sala do Altar, e ali se encaixara entre as lages, sob  a
   escada que levava para a sequencia de grutas atrás do
   Templo.

   Uma tarde, reencarnada num país da America do Sul, a
   alma da baiadera voltou ao seu templo - ela não se deu
   conta de que estava refazendo o restante de sua vida
   devida àquela conta.