Uma conta perdida, uma vida ganha
Em: 29/11/2009, às 08H55
CLARISSE DE OLIVEIRA
Antiga tradição brasileira diz que quando um acessorio
de contas se rompe, se todas as contas são reencontradas,
o dono dele não tem mais direito à Vida.
A Baiadera costumava trazer com seus enfeites de prata
e turquesa, um rosario de contas de sândalo ao pescoço -
bento por um monge itinerante que passara uma vez pelo
Templo, a moça não se desapegava dele, com fé em sua
proteção.
No tumulto de sua morte, assasinada pelo amante numa
tarde de festa, ninguém reparou no rosario que se rompeu
e em suas contas espalhadas pelo chão do templo.
No dia seguinte, antes do amanhecer, o chão foi lavado
e suas companheiras de dança, recolheram as contas e
o rosario recomposto, foi levado para sua mãe.
Ninguém reparou numa conta que rolara para o fundo da
Sala do Altar, e ali se encaixara entre as lages, sob a
escada que levava para a sequencia de grutas atrás do
Templo.
Uma tarde, reencarnada num país da America do Sul, a
alma da baiadera voltou ao seu templo - ela não se deu
conta de que estava refazendo o restante de sua vida
devida àquela conta.