[Maria do Rosário Pedreira]

Já se encontra à venda desde o dia 31 de Março o romance português que foi contemplado recentemente com o Prémio LeYa. Chama-se O Teu Rosto Será o Último e é da autoria de João Ricardo Pedro. Trata-se de uma estreia absolutamente invulgar que o júri quis distinguir sobretudo pela estrutura que, assim às primeiras, parece a de um conjunto de contos independentes, mas que, ao fim da primeira parte, se percebe ter sido uma opção mais do que reflectida e planeada. Lê-lo é o que faz falta, porque eu – que tive a felicidade de o ler três vezes – tenho a consciência de que tudo o que possa dizer sobre ele ficará sempre aquém da fruição que oferece a sua leitura. E, no entanto, para levantar a pontinha do véu, deixem-me contar que nele se fala de uma família – sobretudo de três gerações masculinas (mas também de uma mãe muito especial, de uma mulher que já foi uma menina muito especial e de outras figuras exteriores à família que não deixam de ser personagens muito especiais) – num contexto que abarca o Portugal da ditadura, da Guerra Colonial, da Revolução de Abril e da contemporaneidade; e existe uma maturidade literária rara num estreante que, ainda por cima, tem um tipo de humor bastante raro nas nossas letras, aplicado curiosamente nas cenas que nos poderiam indispor por uma certa crueldade e frieza, mas produzem, dessa maneira, uma espécie de baque seco e desarmante. Conheçam, pois, Augusto (o avô, médico no Interior), António (o pai, marcado pela guerra), Duarte (o neto, genial ao piano) e, acima de todos, o autor, que ainda nos vai dar muitas alegrias com este livro e os outros que queremos que ele escreva. Serão, prometo, horas extraordinárias.