Um poema de Mário Faustino
Em: 31/10/2009, às 05H21
Um poema de Mário Faustino
Rogel Samuel
Ele morreu aos 32 anos (1930-1962). Nasceu em Teresina PI, 1930 e morreu no Peru, Cidade de Dios, 1962.
Seu soneto é famoso, incluído nas antologias. Deve falar de um deus. Pode ser Ganimedes. Qualquer deus, de qualquer mitologia. Ou de todas as mitologias. Todas elas têm um deus que nunca envelhece, eterno adolescente. Na praia, onde nasceu Vênus, da perna de seu pai. Amado por faunos e prostitutas. Dorme. O rosto sobre um ombro, é uma criança. Um deus velado pelas deusas prostitutas.
Ganimedes, que não era um deus, mas um príncipe de Tróia, aquele jovem é raptado por Júpiter. Mas o que queria Júpiter?
Não era amá-lo. Jupiter queria o tempo. A juventude é tempo. O breve encanto do tempo.
Divisamos assim o adolescente
Divisamos assim o adolescente,
A rir, desnudo, em praias impolutas.
Amado por um fauno sem presente
E sem passado, eternas prostitutas
Velavam por seu sono. Assim, pendente
O rosto sobre um ombro, pelas grutas
Do tempo o contemplamos, refulgente
Segredo de uma concha sem volutas.
Infância e madureza o cortejavam,
Velhice vigilante o protegia.
E loucos e ladrões acalentavam
Seu sono suave, até que um deus fendia
O céu, buscando arrebatá-lo, enquanto
Durasse ainda aquele breve encanto.
FAUSTINO, Mário. Poesia completa e traduzida. Org. Benedito Nunes. São Paulo: Max Limonad, 1985.