Alphonse Daudet, escritor francês, nasceu em Nîmes, em 1840, e morreu em 1859. Poeta, romancista, contista, dramaturgo e cronista Em 1858, conseguiu reunir um conjunto de poemas sob o título de Les amoureuses. Distinguiu-se, porém, mais como contista. Observador arguto da realidade cotidiana, sua ficção põe em foco temas vinculados às pessoas humildes: crianças infelizes, pessoas transviadas, mal-sucedidas, operários, artesãos dos subúrbios. Nesses seres do infortúnio foi capaz de vislumbrar traços de bondade e dedicação. A sua ficção tanto agradou ao leitor comum quanto ao leitor exigente, segundo observações colhidas em P. G. Casteux e P. Surer.
              Abaixo, em versão bilíngue por mim preparada, trago-lhe, leitor amante de poesia, um poema de Daudet pertencente ao mencionado livro Les amoureuses

AUX PETITS ENFANTS

Enfants d’um jour, ô nouveau-nés,
Petites bouches, petits nez
Petites lèvres demi closes,
Membres tremblants,
Si frais, si blancs,
Si roses;

Enfants d’un jour ô nouveau-nés,
Pour le bonheur que vous donnez
À vous voir dormir dans vos langes,
Espoir des nids,
Soyez bénis
Chers anges;

Pour vos grands yeux effarouchés
Que sous vos draps blancs vous cachez,
Pour vos sourrires, vos pleurs mêmes,
Tout ce qu’en vous,
Êtres si doux,
On aime.

Pour tout ce que vous gazouillez,
Soyez bénis, baisés, choyés
Gais rossignols, blanches fauvettes”

Que d’amoureux
Et que d’heureux!
Vous faites!

Lorsque sur vos chauds oreillers,
En souriant vous sommeillez,
Près de vous tout bas, ô merveille!
Une voix dit:
“Dors, beau petit;
Je veille”.

C’est la voix de l’ange gardien;
Dormez, dormez, ne craignez rien;
Rêvez, sous ses ailes de neige:
Le beau jaloux
Vous berce et vous
Protège.

Enfant d’un jour, ô nouveau-nés,
Au paradis, d’où vous venez,
Un léger fil d’or vous rattache
À ce fil d’or
Tient l’âme encor
Sans tache.

Vous êtes à tous Maison
Ce que la fleur est au gazon
Ce qu’au ciel est l’étoile blanche,
Ce qu’un peu d’eau
Est un roseau
Qui penche.

Mais vous avez de plus encor
Ce que n’a pas l’étoile d’or,
Ce qui manque aux fleurs le plus belles!
Malheur à nous!
Vous avez tous
Dês ailes.


AOS PEQUENOS INFANTES


Crianças de um dia de vida, oh, recém-nascidos,
Boquinhas, narizinhos
Labiozinhos semi-cerrados,
Membros trêmulos,
Tão frescos, tão brancos,
Tão róseos;

Crianças de um dia de vida, oh, recém-nascidos,
Pela felicidade que proporcionais
Para vos ver dormir em vossos cueiros,
Esperança dos ninhos,
Sede benditos
Anjinhos queridos;

Por vossos grandes olhos assustados
Que, sob vossos brancos panos, ocultais
Por vossos sorrisos, mesmo vossos choros,
É que vos amamos,
Doces serezinhos!

Vossos cantos de pássaros a tudo servem,
Sede benditos, beijados, acariciados
Alegres rouxinóis, brancas toutinegras!

Quão amorosos
Quão felizes
Sabeis ser!

Quando, sobre vossos travesseiros,
Sonhais sorrindo,
Pertinho de nós, bem baixinho, oh, maravilha!
Diz uma voz:
“Dorme, lindinho;
Aqui vos velo”.

Do anjo da guarda é aquela voz;
Dormi, dormi, esquecei de tudo;
Sob as asas de neve, sonhai:
O zelo sem limites
Vos embala e vos
Protege.

Crianças de um dia de vida, oh, recém-nascidos,
Ao paraíso, de onde vindes,
Um leve fio dourado vos liga
A este fio
A alma pura
Presa ainda está.

Para todos os lares sois
Aquilo que a flor é para a relva,
Aquilo que ao céu é para a branca estrela,
Aquilo que um pouco dágua
É para o caniço
Que pende.

No entanto, tendes ainda mais.
Tendes o que não possui a estrela áurea,
O que falta às mais lindas flores não possuís!
Pobres de nós!
Vós – sem exceção – tendes
Asas.