UM  PAÍS SEMPRE  EM RECONSTRUÇÃO,  VERDADEIRA OU  DE FACHADA?

CUNHA E SILVA FILHO

         Nas esferas  das  letras e artes em geral  o país sempre  se distinguiu  e deu  certo. Vejam-se o quanto  somos   como  nação  que tem dado  frutos de  primeira qualidade e,  o que  é  altamente  auspícioso,  nesses  domínios culturais  andamos  muito  para frente ao  passarmos  pelas diversas  modalidades  de movimentos  artísticos : na literatura  na  pintura,  no teatro,  no cinema, na  música, enfim,  em  tudo que depende de nosso   talento  multifacetado para   a criação artística.

      Por  outro lado, ao nos defrontarmos  com a práxis política, os resultados são desastrosos,  desde o  Brasil  Colonial. Aqui a coisa  pega  e os retrocessos  são  muitos. No  plano ético, no  plano  jurídico, só  teoricamente avançamos na produção de obras caras ao pensamento   avançado  nacional.

       Citemos alguns autores de grande  monta,  que  deram  um  enorme contribuição  ao entendimento   da nossa formação  histórico-social, não  importando aqui  a  posição ideológico-política  de cada  um:  Gilberto Freyre,  Nelson Werneck Sodré, Alceu Amoroso  Lima (Tristão de Athayde), Caio Prado Jr., Clóvis Moura,  Raimundo  Faoro, Celso  Furtado, o recém-falecido  historiador  Bóris Fausto,  Eduardo Portella,  José Guilherme Merquior, entre tantos  outros  pensadores tanto  no   passado quanto  na atualidade.   

       Entretanto, tudo desanda na ordem  política e praticamente  em  poucas fases da  história  social e política brasileira  tivemos   resultados   compensadores   no que concerne  à vida  social,  notadamente  na questão  crônica  e imutável da  mobilidade social.  

       A questão que se   põe em discussão  é:  por que  não  melhoramos  secularmente  o que de mais   se exige  no desenvolvimento de um  país  com as riquezas  que  tem  o Brasil? Por que teimamos  em  não sermos  verdadeiros,  sérios   íntegros? Por que, quando menos se esperam   resvalamos  no lodaçal  da corrupção e da impunidade  crônicas?  

       Para  sermos mais  simplificado,  uma vez que aqui  não  temos a  pretensão em breve artigo,   de  largos voos  em  torno da  vida  social e  política nacional, a  velha  citação  do livro de Stefan  Zweig,  Brasil, país do futuro se torna, assim,  tão  rasa e bombástica   quanto  ao  livro do conde de  Afonso Celso  Por que me ufano do meu  país?. Um fato  curioso é que,  nas festas de nosso  carnaval, tão bem   estudadas  nos seus  objetivos  sociais e simbólicos   pelo antropólogo  Roberto  DaMatta no  livro Carnavais,  malandors e heróis, o que se depreende  é um  país  que  está sempre   se vangloriando  de nosso   fastos  e de temas  ufanistas,  como  se  nosso  país   fosse  uma ilha de fantasia   durante  os festejos  do  momo. Ora,  ao combinarmos  os  ingredientes   ufanistas   de  país  do  carnaval e do futebol, o “grande  catalizador” na  afirmação  laudatória de  Tristão de Athayde (já citado  atrás ), juntando  samba e mulheres  bonitas,  negras,  mulatas  e brancas, obtemos  uma retrato  que não  expressa  o que  adrede   quer  ocultar  da pátria amada, salve salve.

       Ou seja,  na fusão  das etnias  e livrando-se do  odiento  preconceito  hoje  ressuscitado para vergonha  de um  país mestiço,  que foi  polarizado, nas últimas  eleições presidenciais,  drasticamente dividindo-nos   como  uma sociedade  que  se define  como  progressista  ou conservadora, fenômeno  provocado  pelas disputa acirrada   entre   o bolsonarismo e o lulismo, os quais,   nos seus extremos   ou excessos,   se transformaram  em fanatismo  perigoso  de  debates  políticos  no país inteiro.  

     Ora,  o fanatismo  é pernicioso   em ambos os lados e ninguém  pode   se arvorar   detentor  da verdade  em matéria  controversa  como  no domínio  político.  Cumpre  agir  no meio termo,  a fim de  não   cairmos  no bolsonarismo    que culminou  na  quase  tragédia do dia  8 de janeiro naquela tentativa  de   extremistas  da direita (civis e militares)  de invasão  da Praça dos Três Poderes na      tentativa  fracassada de colimar   uma ruptura  do Estado  Democrático ainda que este  tenha  igualmente seus erros  e defeitos ocorridos  no passado  do governo   petista, sobretudo   levando  em conta  mudanças político-econômicas que só  pioram com  a implantação  do nefasto  neoliberalismo  globalizado, cujos princípios datam   já da infausta era Collor,  passando  por FHC e até,   em parte,  pelo  petismo.   

       Quem acompanhou  com atenção os  sucessivos  governos federais  anteriores  à volta da democracia e  posteriores a ela,  não pode  do mesmo  modo ignorar  os acertos,  fracassos  e os escândalos  petistas. Em vários artigos, no passado,  me reportei  aos  desmandos e “malfeitos”   ocorridos   no  governo  Lula  a partir do seu  segundo mandato, assim como  no governo de Dilma  Rousself e  Temer dois grandes fracassos causadores de sofrimentos  e aperturas financeiras, ainda culminados  com o fracassado  governo  do Sr.  Bolsonaro.       

        Por  outro  lado,  espero que,  desta vez,  com  uma experiência mais  vasta na presidência da República, o  Sr. Lula  tenha o amadurecimento   cabal  de  se recuperar   dos estigmas  do passado  e realizar  um governo  sóbrio  e que atenda  não só aos  despossuídos  mas  a todas as diferenças  de classes sociais, enfrentando  dois  grandes  problemas inadiáveis: a elevadíssima  carestia (inflação impiedosa))   desenfreada  de preços  de alimentos  e outros  itens  vitais  a uma vida  digna de  todos os brasileiros e  a escalada  nunca vista antes  da violência  em todo  o  país, sobretudo  no  eixo  Rio-São Paulo. Esse dois  urgentíssimos  problemas   devem ser a meta  principal   do Sr.  Lula.  Ignorá-los  seria a derrocada do  PT.