ELMAR CARVALHO
 

 
Será lançado no próximo sábado, dia 05, às 10 horas, no auditório da Academia Piauiense de Letras, o livro As Ideias no Tempo, da autoria de Cunha e Silva Filho. Pelo subtítulo ficamos sabendo que a obra contém crônicas, artigos, resenhas e ensaios. O autor é um mestre dos gêneros literários referidos. Seu estilo é límpido, correto na gramática e fluente, como escritor que domina sua língua, seu assunto e sua linguagem. Sua erudição lhe permite fazer analogias, e trazer exemplos da história e da literatura, se necessário e oportuno. Trata das mazelas dos dias atuais, mas também versa assuntos agradáveis, bem como também escreve crônicas de caráter memorialístico, recheadas de emoção e saudade – de pessoas que já partiram para a eternidade ou de um tempo mais ameno, mais feliz, sem a brutalidade e a pressa dos dias de hoje. Na crítica, Cunha e Silva Filho foge de certos modismos, em que o crítico, para se fazer passar como profundo, constroi uns períodos herméticos, sibilinos, que ninguém entende, ou em que, para demonstrar que é atualizado, envereda pela chamada crítica estruturalista, cujo conteúdo o leitor mediano jamais poderá alcançar. Embora seja um erudito, professor universitário, mestre e doutor em Literatura Brasileira, faz uma crítica moderna, contudo de fácil entendimento, uma vez que procura contribuir para aclarar a obra analisada, tornando certos aspectos dela mais perceptíveis a um leitor menos atento ou com menos traquejo na fruição literária, em que analisa a linguagem, o estilo e o conteúdo da obra, todavia sem rechaçar, de todo, as boas lições da velha crítica impressionista, no que ela tem de eterno, de permanente. A sua dissertação de mestrado foi transformada num belo livro, talvez o mais importante, sobre a poesia de Da Costa e Silva, enquanto a sua tese de doutorado abordou a contística de João Antônio. Em ambas, se houve como o mestre e doutor que é, de fato e de direito.


Conheci Cunha e Silva Filho em sua terra natal, Amarante, em 1990,  por ocasião de um evento cultural de que participei. Estava ele num dos vetustos casarões da avenida Desembargador Amaral, quando o vi pela primeira vez. Logo notei tratar-se de uma pessoa afável, simpática e acessível; numa palavra, amigável, como dizem os jovens dos dias atuais. Imediatamente, entabulamos uma conversa sobre literatura, em que se notava a sua erudição, repassada de forma discreta, espontânea, conforme o rumo da conversa, contudo emitida sem empáfia e sem um pingo de afetação. Pode ser considerado um mestre da conversação, com sua voz agradável e de boa dicção. Contudo, não obstante todas essas qualidades, é franco em suas análises, e não contemporiza com mediocridades para se tornar simpático ou para agradar quem quer que seja. Com efeito, já o vi partir para o confronto intelectual, quando lhe quiseram atacar injustamente, sem o perfeito conhecimento de sua obra de crítica literária.

Nessa época, falei-lhe da primeira edição de A Rosa dos Ventos Gerais, através da editora da UFPI. Prometi enviar-lhe esse meu livro de poemas, quando voltasse a Teresina, o que efetivamente fiz. Fui premiado com uma excelente crítica que o Cunha escreveu, o que muito me desvaneceu e incentivou. A partir de então construímos uma sólida amizade, regada e alimentada através de cartas, de telefonemas e agora, com o avanço tecnológico, mediante e-mails e recíprocas “visitas” que nos fazemos aos nossos blogs. Posteriormente, ele me prefaciou livros e escreveu ensaios sobre textos de minha autoria, um dos quais foi enfeixado no livro que será lançado no sábado vindouro. À noite, no cais do Parnaíba, o Cunha e Silva Filho e o José Pereira Bezerra entabularam uma ferrenha (porém amistosa), e infindável discussão sobre aspectos da literatura universal. Essa discussão não nos impediu de falarmos sobre a literatura de nossa aldeia, que também é universal. E será tanto mais universal quanto mais falar de nossa aldeia, conforme entendia Tolstoi.