Hoje trazemos como autora convidada a jovem e talentosa escritora amazonense Maria Santino

 

 1-Inspirado em “O Chamado de Cthulhu” de H.P Lovecraft (os grandes escritores que me perdoem).

2-Homenagem a todos aqueles que têm uma “quedinha” por catástrofes.

UM LEVE ESPASMO

 

                                                     Maria Santino


     
As ondas chegaram de madrugada, quando as pessoas jaziam adormecidas em suas camas. Muitos morreram instantaneamente afogados, outros, esmagados. Usinas, plantações... Foram inundadas e devastadas pelo furor das águas. Carros, árvores, humanos... Foram arrastados para longe. Clamores, desespero, temor nos olhos daqueles que presenciaram a chegada da primeira grande onda de quase dez metros de altura só comprovava que: para muitos, aquele, era o fim.
     
A segunda onda, bem mais impetuosa, veio vinte minutos depois e trazia consigo a certeza de que só restaria um amontoado de mutilações, madeira, pedra e ferro. Construções, adornos mais belos e dignos de orgulho para humanidade ruiam abaixo enfileirados como dominó.
     
As notícias chegaram rápidas e comoveram o mundo. As sinagogas e templos foram invadidos por fiéis. Preces e ritos foram prestados às divindades. Não raro, se ouvia: É o fim do mundo! O castigo de Deus!
     
Velas foram postas em praça pública, artistas famosos criaram obras para homenagear as vítimas do que foi descrito como fenômeno natural, Tsunami. Algumas centenas... Dezenas de milhares... Milhões.
     
E... No fundo do oceano, indiferente (é claro), ao que os seus leves espasmos causavam a nós, seres humanos, ELE permanece adormecido.

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Eternas Ondas

Zé Ramalho

Quanto tempo temos antes de voltarem aquelas ondas
Que vieram como gotas em silêncio tão furioso;

Derrubando homens entre outros animais,
Devastando a sede desses matagais; (bis)

Devorando árvores, pensamentos seguindo
A linha do que foi escrito pelo mesmo lábio tão furioso.

E se teu amigo vento não te procurar
É porque multidões ele foi arrastar. (bis)

A ONDA-MONSTRO

 

Miguel Carqueija

 

 

            E quando vier a onda-monstro, avassaladora, sufocando tudo, reduzido a escombros os arranha-céus de Copacabana, avançando sobre o Rio de Janeiro, submergindo o Centro da Cidade, a Tijuca, os subúrbios, Bangu, Campo Grande, chegando até a raiz da Serra dos Órgãos? Teremos tempo de fugir? Conseguiremos salvar alguma coisa? Que faremos nós, que será da nossa identidade de cariocas, quando o Rio não mais existir, sob o silêncio das águas, não passar de uma cidade-fantasma submersa, amortalhada pelo peso incomensurável do oceano?

 

(imagem do google)