Um conto de Herta Müller, Nobel de Literatura
Em: 19/10/2009, às 11H22
Os varredores de rua
A cidade está impregnada de vazio. Um carro atropela meus olhos com suas luzes.
O condutor foge, pois não podem me ver na escuridão.
Os varredores de rua têm trabalho.
Eles varrem as lâmpadas, varrem as ruas para fora da cidade, varrem o morar das casas, varrem-me os pensamentos da cabeça, varrem-me de uma perna para outra, varrem-me os passos do andar.
Os varredores de rua enviam-me suas vassouras, suas magras e saltitantes vassouras. Os sapatos batem fora do meu corpo.
Caminho atrás de mim, caio fora de mim sobre a margem de minhas imaginações.
O parque late ao meu lado. As corujas comem os beijos que ficaram sobre os bancos. As corujas não dão por minha presença. Os cansados e estafados sonhos acocoram-se nos arbustos.
As vassouras varrem-me as costas porque me apoio muito na noite.
Os varredores de rua varrem as estrelas formando uma pilha, varrem-nas sobre suas pás e as esvaziam no canal.
Um varredor de rua chama um outro varredor, este um outro e este novamente um outro.
Agora todos os varredores falam e misturam todas as ruas. Caminho através de seus gritos, através da espuma de seus chamados e quebro e caio na profundidade das significações.
Dou passos grandes. Arranco minhas pernas com o andar.
O caminho foi varrido para longe.
As vassouras caem sobre mim.
Tudo dá voltas sobre si.
A cidade erra sobre o campo, para algum lugar.