[Gabriel Perissé]

Nada contra os chutes etimológicos. Fazem a alegria da torcida linguística, trazem tempero para a discussão, são o esporte preferido dos amadores, exasperam os cientistas, estimulam a imaginação.

Um chute de Luis Fernando Verissimo, em sua coluna de hoje no Estado de S.Paulo: "Aquela 'pasta' curta e oca que os italianos chamam de 'pene' tem este nome porque lembra o pênis."

Descartemos a analogia, embora também possa se tratar de uma piada intencional do Verissimo, e não um simples chute. O certo é que a massa em questão (penne, em italiano) chama-se assim pela semelhança com a pena das aves.

Quanto ao chute... tem algo de verdadeiro e pode levar ao gol numa outra investigação: em francês, pène (a lingueta da fechadura), segundo o filólogo Jean-Baptiste-Bonaventure Roquefort (1777-1834), prestigioso chutador... provinha do latim penis, associando-se o movimento da peça ao do órgão masculino.

E voltando ao penis em latim, tanto designava o pênis, como a cauda de um animal. Estando em jogo aí, nos dois casos, o verbo latino pendere, isto é, "pendurar".