ELMAR CARVALHO

Outro dia, enquanto esperava a conclusão de um serviço de confecção de capas para os bancos de meu carro, ouvi na oficina uma história, dada como verídica, que mais parecia um conto policial. Inicialmente, pensei em exagerá-la, dar-lhe alguns “enfeites”, acrescentar-lhe alguns diálogos e entrechos, e transformá-la numa narrativa ficcional. Porém, pensando mais, preferi contá-la neste diário, tal como a retive em minha memória, sem nada além do que me foi narrado.

 

Certo rapaz, cujo nome não foi revelado, alugou uma casa, em certo conjunto residencial de Teresina. Tinha todo o conforto na residência – geladeira, aparelho de som, televisor, ar condicionado, poltronas, etc. Dizia ser sustentado pelo pai, suposto fazendeiro maranhense. Quando uma moça da vizinhança foi comemorar um aniversário, ele patrocinou o churrasco e as cervejas. Quando essa mesma moça teve um celular roubado, ele, não se sabe com que artes mágicas, conseguiu encontrar o aparelho e lhe devolver. Embora ninguém lhe conhecesse os parentes, amigos e procedência, tornou-se querido, conquanto nunca ninguém lhe tenha adentrado a casa, que nunca era aberta para visitas.

 

Um ou dois meses depois de ele se instalar nessa casa, um jovem delinquente apareceu morto, vítima de dois ou três balaços. Suspeitava-se, pelo menos corriam rumores a esse respeito, de que esse rapaz, anos antes, matara um fazendeiro maranhense, atendendo “encomenda”. Como vingança, a família do proprietário assassinado supostamente teria contratado um pistoleiro de aluguel, que seria o prestativo e educado vizinho referido nos parágrafos acima. Suspeitaram fosse ele o executor do homicídio porque logo após a notícia do assassinato do jovem delinquente esse bom e solícito vizinho sumiu, sem deixar o menor rastro ou notícia, deixando todos os móveis e eletrodomésticos na casa.

 

Dele ficou a lembrança de um rapaz simpático e atencioso com os vizinhos, e essa insidiosa suspeita pairando no ar. Contudo, é legítimo supor que ele não tenha cometido nenhum crime, e qualquer dia reapareça, ou que tenha cometido outro tipo de crime, que não o assassinato de um pistoleiro de aluguel. Afinal, para cometer o último crime talvez não precisasse passar mais de dois meses em uma casa mobiliada por ele. O aluguel, a compra dos móveis e aparelhos, bem como a relação com os vizinhos sempre deixariam rastros.