Leio a lista dos ganhadores do Prêmio Jabuti 2005 (47ª edição). Reconheço nomes: Nélida Piñon, João Gilberto Noll, Cristóvão Tezza, Victor Burton, Octavio Ianni, Roger Mello, Angela Lago, Marcia Kupstas, Neide Archanjo, Frederico Barbosa, João Luiz Lafetá...

 

Detenho-me, porém, nos três primeiros lugares de categorias menos badaladas. “Contos e crônicas”, Urgente é a vida, de Alcione Araújo (Record); “Didático e paradidático de ensino fundamental ou médio”, Explicando a filosofia com arte, de Charles Feitosa (Ediouro); “Educação, psicologia e psicanálise”, A ignorância custa um mundo, de Gustavo Ioschpe (Francis).

 

As crônicas de Alcione Araújo são bastante medianas, uma demorada e gostosa conversa de bar, uma citação filosófica ali, um causo interessante acolá, nada tão urgente quanto a vida. E conversa vai, conversa vem, Belo Horizonte não perdeu seu belo horizonte, muitos são os desejos para tão curta vida, e o silêncio da madrugada só é rompido pelo latido distante dos cães. E o ano se despede. E o doce outono nos envolverá numa atmosfera sem calor e sem frio. Enfim, citações de seu livro... a vida vai, meio morna, sem nenhuma urgência...

 

No ano passado, eu havia lido este livro de Alcione, roteirista do filme Policarpo Quaresma, o herói do Brasil, entre outros, e da inesquecível série de TV Malu Mulher. Crônicas, vamos admitir, não é o seu forte.

 

Muito bem feito o livro de Charles Feitosa. Parabéns (não para males!). Bela introdução à filosofia. Ilustrações escolhidas a dedo, os textos contracenando sem perder a pose. Uma pintura de idéias. Uma atraente apresentação cuja força está no projeto gráfico desenvolvido pela designer Ana Carla Cozendey. Justiça mencioná-la.

 

Mais justiça seja feita: não se explica filosofia. Com arte, filosofia se insinua. Vai chegando e, quando vemos, se instalou. Ou quando não vemos... já se foi.

 

E Gustavo Ioschpe defende que a ignorância é o verdadeiro custo Brasil. Não faltam estatísticas, números, dados, informações para corroborar a tese. Impressionante a meticulosidade. Informações atualizadas. As análises estão garantidas pelo tom seguro de quem não ignora...

 

Um momento a registrar desse último vencedor. Pergunta-se o jovem autor o que motiva nosso docente a trabalhar. Sua primeira resposta: “Não sei”. Mas no fundo sabe, e o diz. Afirma Gustavo que (talvez) lecionamos alimentados pela aprovação dos alunos e pelo reconhecimento dos colegas professores. Explicação psicológica, intuitiva, que transcende os terríveis números.

Gabriel Perissé é  autor do livro recém-lançado Elogio da Leitura, pela Editora Manole.