[Maria do Rosário Pedreira]

Um bom título é importante, se queremos que leiam os livros que escrevemos – e já me aconteceu chegar um livro muito bom com um mau título (e o autor acabou por mudá-lo); chegar a um livro com um título excelente que não correspondia ao que o livro tinha dentro (e não o publiquei); e até haver um título que foi alterado à última hora porque incluía uma palavra «difícil» que cerca de 70 por cento das pessoas que então trabalhavam na editora não conheciam, e a administração achou melhor não correr riscos... Mas há que reconhecer que temos na nossa terra alguns bons escritores com grande talento para intitular. Entre os meus títulos preferidos, está Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo, de António Lobo Antunes, que sempre achei genial, ou Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto, de Mário de Carvalho, que sabe nomear um romance na perfeição e também já nos brindou com Um Deus Passeando na Brisa da Tarde. De outra geração é o autor que nos tem habituado a querer ler os seus livros só pelos títulos, José Eduardo Agualusa, que tem um trio perfeito: As Mulheres do Meu Pai, Barroco Tropical e Milagrário Pessoal – e que recentemente fez jus ao seu jeito e inteligência e escreveu Teoria Geral do Esquecimento, que apetece logo ler (assim que possa, fá-lo-ei) mesmo sem se saber de que trata. Mas a arte não é para todos, e tenho pena daqueles que escrevem livros belíssimos e que depois, no título, deitam tudo ou quase tudo a perder. No caso de serem autores reconhecidos, com leitores fiéis, ainda vá que não vá; o problema é quando se estreiam com romances muito fortes em que ninguém pega por causa de um título menos apelativo...