Cid de Castro Dias: "Teresina nos anos 60"
Em: 16/08/2020, às 07H54
[Cid de Castro Dias - historiador e engenheiro, da Academia Piauiense de Letras]
Para nós, rapazes de 17-18 anos, Teresina era uma festa.
À noite, seguimos para a praça Pedro II, que, dotada de cinema, teatro, bares e restaurantes, se tornaria o point da juventude.
As garotas circulando em volta da praça e os marmanjos a paquera-las. Se recebia um flerte, era sinal que poderia se aproximar, podendo dali, resultar num futuro namoro.
Quando, às 9,30h soava o sinal da usina elétrica, alertando que a energia seria desligada, era aquela correria para chegar em casa com as ruas ainda iluminadas.
Aos domingos a tradicional tertúlia dançante do Clube dos Diários. O porteiro Marcelino, filtrando a entrada dos sócios e barrando os penetras que queriam leva-lo na lábia.
Muito bolero e música romântica para se dançar de rosto coladinho. Aqueles que não tinham namoradas poderiam tirar uma moça desconhecida para dançar. Dificilmente receberiam um fora. Existia uma espécie de código não escrito, porém respeitado. Se a garota simpatizasse com pretendente, tudo bem continuaria dançando toda musica do momento. Se não, dava alguns passos de dança e então, educadamente, dizia se cansada, pedindo para retornar à sua mesa.
Observava-se que todos queriam dançar no centro do salão, infiltrados na multidão de passistas, longe dos olhares indiscretos, onde poderiam dançar mais agarradinhos e até roubar um beijo de raspão.
O Carnaval! O carnaval era uma verdadeira maratona física, testando a nossa resistência por quatro dias. O Wilson Viana, meu amigo e vizinho, era incansável. Já às 4,0 h da tarde, me acordava e seguíamos numa caminhoneta para o bar carnaúba, onde iriamos fazer a “base”, tomando uns rum Montila, para então, seguir para o Corso.
O corso era um desfile carnavalesco promovido pela Prefeitura, onde um carro de som, com o rei Momo e a Rainha do Carnaval seguiam na frente seguido dos demais carros particulares percorrendo um percurso pelas principais ruas da cidade, exaltando a beleza e magia do carnaval.
À noite, já estávamos tomando umas cervejas no porão do Clube dos Diários, ansiosos, esperando o inicio do baile carnavalesco. Ao iniciar as marchinhas Chiquita bacana..., mamãe eu quero..., olha a cabeleira do Zezé, e outras da moda, subíamos apressados para desfrutar de uma noite inesquecível com muitos confetes, serpentinas e lança perfume.
No domingo, pela manhã, cansado da noite anterior, passa o Wilson me convidado para o baile infantil a se realizar na sede esportiva do Clube dos Diários. Tentei argumentar que o baile era infantil, quando então, ele saiu com essa: Sim, mas as menininhas não vão só. As irmãs mais velhas é que as levarão. Essas serão as nossa paqueras e aproveitaremos também para tomar um banho de piscina para curtir a ressaca.
E haja resistência!
E haja saudade!
Teresina, 16 de Agosto de 2020 – Cid de Castro Dias